Período de exibição: 03/04/1973 - NO AR
Horário: 23h
Periodicidade: às sextas
- Programa jornalístico de vida mais longa na história da televisão brasileira, o Globo repórter estreou em abril de 1973, sob a coordenação de Moacyr Masson, direção de Paulo Gil Soares – chefe da Divisão de Reportagens Especiais – e apresentação de Sérgio Chapelin. O programa ia ao ar às terças-feiras, às 23h.
- Inicialmente, a idéia era criar um programa inspirado no norte-americano 60 minutes da CBS News, um jornalístico baseado em entrevistas, nas quais a figura do repórter centraliza a atenção do telespectador em torno da notícia. No entanto, embora o jornalismo da Rede Globo começasse a se solidificar, sobretudo graças ao sucesso do Jornal Nacional, ainda não havia estrutura para a produção de um programa constituído basicamente de externas. Tomando como exemplo a experiência do Globo Shell especial, decidiu-se, então, produzir cinedocumentários com narrativas conduzidas a partir das imagens, dos depoimentos dos entrevistados e da esporádica locução em off do apresentador. O repórter não aparecia no vídeo.
- O Globo repórter apresentava linguagem e fotografia cinematográficas, com forte marca autoral. A equipe fixa de diretores do programa era formada por Eduardo Coutinho, João Batista de Andrade, Geraldo Sarno, Washington Novaes, Georges Bourdokan, Dib Luft, Gregório Bacik, Maurice Capovilla, Walter Lima Jr. e Hermano Penna. Todos eram cineastas premiados do Rio de Janeiro e São Paulo que já haviam trabalhado com Paulo Gil Soares no Globo Shell especial.
- Depois de uma fase de experiências amadurecendo a proposta jornalística e o formato do Globo repórter, Paulo Gil Soares chegou a um modelo que permaneceria a marca do programa durante muito tempo. Nele, as reportagens obedeciam a uma divisão temática: Globo repórter atualidades (principais assuntos do mês), Globo repórter pesquisa (investigação de temas polêmicos), Globo repórter futuro (especulações sobre o mundo de amanhã), Globo repórter documento (exibição do Globo Shell especial) e Globo repórter arte (música, literatura, dança). A apresentação seguia um esquema fixo e os temas eram apresentados de acordo com a seqüência descrita acima. Posteriormente, foram acrescentados os temas história, ciência e aventura.
- O Globo repórter sofreu desde o início com as constantes intervenções dos censores, e vários programas não chegaram a ir ao ar – como por exemplo, Wilsinho da Galiléia, de João Batista de Andrade, sobre um assaltante morto pela polícia aos 18 anos. Entretanto, o programa conquistou os formadores de opinião e aumentou a audiência do seu horário, garantindo lugar na grade de programação. Escolas e entidades culturais solicitavam cópias dos programas para a realização de debates com tanta freqüência que a produção chegou a criar uma filmoteca e a imprimir um número extra de roteiros para serem distribuídos aos vários estudantes que analisavam as reportagens como tarefa de casa.
- Em 1974, o Globo repórter passou a ser exibido mais cedo, às 21h, no horário antes ocupado pelo programa humorístico Satiricom. O novo horário e o novo público, formado não apenas por adultos e estudantes com grande demanda por informação e conhecimento, exigiram mudanças na linguagem do programa.
- O esquema rígido da apresentação foi abandonado e os temas passaram a ser exibidos alternadamente, dando maiores flexibilidade e agilidade ao programa. O bloco sobre atualidades passou a ser apresentado apenas na primeira semana de cada mês. Até então, os documentários eram realizados no eixo Rio-São Paulo. Para que fosse possível conseguir uma visão local dos assuntos abordados, eles passaram a ser produzidos em outros estados do país. A produção optou por uma abordagem que mesclava entretenimento com informação. Exemplo disso foi o tema escolhido para o programa que apresentou a nova proposta: Hollywood, a fábrica dos sonhos.
- Entre os programas com características de cinedocumentários exibidos pelo Globo repórter ao longo dos anos 1970 estavam, entre outros: Amazônia, mito e realidade, de Paulo Gil Soares; O último dia de Lampião, de Maurice Capovilla; Seis dias de Ouricuri, Uauá: a dor e a esperança, Theodorico, o imperador do Sertão e Exu, uma tragédia sertaneja, de Eduardo Coutinho; Boa Esperança: a viola ou a guitarra? e Caso Norte, de João Batista de Andrade; Os garimpeiros, Os homens do carvão e Sal, azeite e veneno, de George Bourdoukan; Crianças do Reino Porantin, de Washington Novaes; Os índios Canela, de Walter Lima Jr. e A mulher no cangaço, de Hermano Penna. Nessa fase, o Globo repórter também exibiu alguns programas estrangeiros como A crônica de Hellstrom, ganhador do Oscar de melhor documentário em 1971.
Nova fase:
- Devido ao planejamento da Rede Globo para a Copa do Mundo da Espanha, o Globo repórter foi retirado novamente da programação, no segundo semestre de 1982. Voltou ao ar no final de 1983, todas as quintas, às 21h20, dessa vez com apresentação de Eliakim Araújo e Leilane Neubarth. O jornalista Roberto Feith deixou a chefia do escritório da Rede Globo em Londres para assumir o cargo de editor-chefe do programa. Na equipe também estavam Jotair Assad, Mônica Labarthe (editores), Luiz González (chefe de redação) e Vanda Viveiros de Castro (produtora).
- A estrutura anterior – que privilegiava a ação de campo dos repórteres – foi mantida, mas mudanças importantes foram implementadas. Para sustentar, de forma competitiva, um programa jornalístico no horário nobre, considerou-se necessário alterar seu modelo narrativo de modo a unir mais eficientemente notícia e entretenimento, sem comprometer a função informativa.
- A nova fórmula foi estabelecida a partir de uma série de reuniões com profissionais experientes da área de teledramaturgia, como os diretores Paulo Afonso Grisolli e Walter Avancini. O Globo repórter passou a ter quatro blocos, durante os quais uma narrativa era construída de forma a criar dramaticidade crescente e uma expectativa a ser resolvida nos minutos finais da reportagem. Antes de cada reportagem, um roteiro era elaborado por especialistas em teledramaturgia – como o premiado roteirista Giba Assis Brasil – para sublinhar os aspectos dramáticos sugeridos por cada tema. Em seguida, um produtor percorria os locais e fazia entrevistas preliminares com os personagens.
- O programa ganhou também maior flexibilidade. Podia ser apresentado apenas por repórteres ou por um narrador; oferecer uma denúncia, exibir uma pesquisa ou o relato de uma aventura. O formato com três reportagens por programa deixou de ser fixo: dependendo da atualidade, determinado assunto servia de tema único para o programa.
- Jorge Pontual assumiu a chefia do Globo repórter em dezembro de 1984, dando continuidade à linha editorial do programa. Em maio de 1989, mudanças no quadro de apresentadores e editores da Central Globo de Jornalismo repercutiram no programa, que passou a ser apresentado por Celso Freitas.
- Nesse período, o Globo repórter aprofundou e consolidou como seu estilo a abordagem de assuntos de interesse imediato e as reportagens sobre temas polêmicos. A cada semana eram exibidas três reportagens escolhidas entre biografias, aventuras, investigação, denúncias, curiosidades, medicina – com a utilização de câmeras miniaturizadas para mostrar o funcionamento do corpo humano e com efeitos obtidos através de computação gráfica – e descobertas científicas. Os temas considerados “urgentes”, entretanto, eram prioridade, o que fazia do Globo repórter um programa de atualidades para despertar o interesse geral.
- A partir de 1991, o Globo repórter passou a ser apresentado às sextas-feiras, às 21h. Mantendo o perfil de programa jornalístico voltado para temas atuais, aprofundava assuntos do noticiário recente dos telejornais diários que haviam sensibilizado a população. A cada semana, três fatos jornalísticos eram selecionados como pauta.
- Jorge Pontual deixou o Globo repórter no final de 1995, para assumir a chefia do escritório de jornalismo de Nova York e Silvia Sayão – que já fazia parte da equipe desde 1985 – assumiu a coordenação editorial do programa, que passou então a apresentar um único tema por edição.
- Com o aumento significativo da audiência do público das classes C e D no final de 1996, o desafio do Globo repórter passou a ser tratar dos assuntos de apelo mais abrangente, capazes de interessar ao telespectador de todas as classes, mantendo o alto nível de qualidade da informação. O programa passou a destacar temas relacionados a natureza e ecologia, mostrando para os telespectadores paisagens e a vida em localidades distantes dos grandes centros urbanos. Como exemplo, o Globo repórter sobre Fernando de Noronha e o do Parque de Tumucumaque.
- Uma rápida passagem pelos temas abordados em alguns dos programas dá uma idéia dessa diversidade: Segredos da Amazônia, São Paulo 450 anos, Educação sexual, Dez anos sem Ayrton Senna, Mata Atlântica: riqueza e destruição, Depressão, Orçamento familiar, Transplante de órgãos, Abuso sexual infantil, Garimpeiros do Brasil, Distúrbios do sono, Ciúmes, Obesidade infantil, Mamonas Assassinas, A indústria do seqüestro, Japão: tradição e modernidade, O caipira, O jogo no Brasil, Trabalhadores de rua, Pantanal paraguaio, Ética e corrupção no Brasil, A morte de Lady Di, Pantanal, Ilha das Malvinas, Hipertensão arterial, Ciência e espiritualidade e O atentado de 11 de Setembro, entre muitos outros. O resultado veio rápido. Em 1998, o programa foi escolhido o melhor pelos telespectadores, de acordo com uma pesquisa do InformEstado.
- Em 2008, o Globo repórter comemorou 35 anos no ar com novo cenário e pauta interativa. O público escolheu através da página do programa na internet o tema do primeiro programa do ano: “Saúde e qualidade de vida”. O Globo repórter mostrou as descobertas de pesquisadores da USP de Ribeirão Preto que acompanharam durante 30 anos os hábitos de mais de mil brasileiros nascidos em 1978, ano em que 26% da população estava acima do peso. Em 2008, o número já era de 51%.
- Desde 2001, o Globo repórter é apresentado às sextas-feiras, às 21h30, com duração de 40 minutos
Reportagens marcantes:
- Ao longo dos seus mais de 30 anos de existência, o Globo repórter registrou momentos decisivos da história do país; aprofundou as coberturas de fatos jornalísticos explorados em outros programas da emissora; exibiu inúmeras matérias investigativas com enfoque na preservação dos direitos humanos; apresentou perfis de personalidades importantes da sociedade brasileira e levou o telespectador a conhecer os lugares mais exóticos do Brasil e do mundo. A seguir, uma breve amostra de alguns entre os inúmeros momentos memoráveis do programa.
- Expedição à Antárctica – Em fevereiro de 1982, o Globo repórter exibiu uma reportagem de Hermano Henning, com imagens do cinegrafista Orlando Moreira, que mostrava o trabalho de pesquisadores brasileiros na base Comandante Ferraz, recém-construída na região Antártida. A reportagem foi dirigida por Armando Nogueira, editada por Eduardo Coutinho e Silvia Sayão, e produzida por Vanda Viveiro de Castro.
- Os assassinos do procurador – Em 1982, o repórter Tonico Ferreira assinou essa reportagem sobre a morte de um Procurador da República que investigava uma negociata envolvendo fazendeiros de Serra Talhada, no sertão de Pernambuco. O repórter entrevistou o assassino do Procurador e descobriu que sua morte havia sido encomendada por um certo major Ferreira, figura de grande influência na região. A reportagem trazia várias revelações sobre a participação do major no assassinato e no chamado Escândalo da Mandioca. Pouco depois da exibição do programa, ele foi a julgamento. A fita com a edição do Globo repórter foi mostrada aos jurados, ainda que com a advertência do Juiz de que não deveria ser levada em consideração enquanto prova. O Major Ferreira foi condenado. O programa foi premiado com o Vladmir Herzog na categoria Direitos Humanos.
- Juruna – 29 de março de 1984 – Com roteiro de Fernando Gabeira, essa edição do Globo repórter apresentava um perfil do deputado Mário Juruna. O repórter Ernesto Paglia contou a trajetória do Xavante, desde sua infância na tribo alojada na reserva de São Marcos até sua atuação política no Congresso Nacional. Para fazer a reportagem, os jornalistas passaram um mês ao lado de Mário Juruna. O programa ganhou um prêmio do Festival Internacional de Televisão em Sevilla, na Espanha.
- Getúlio Vargas – 23 de agosto de 1984 – Às vésperas do aniversário de 30 anos do suicídio de Getúlio Vargas, o Globo repórter exibiu uma reportagem de Carlos Nascimento, Hermano Henning e Ernesto Paglia que mostrava a trajetória e a herança política do ex-presidente. Para falar sobre o Estado Novo, a equipe traçou um painel da sociedade brasileira na década de 1930, usando trechos de canções populares de sucesso interpretadas por Linda Batista, Lúcio Alves e Cauby Peixoto. O programa apresentou ainda os depoimentos do editor literário Sérgio Lacerda, filho de Carlos Lacerda, principal rival político de Getúlio, e do jornalista Armando Nogueira – então chefe da Central Globo de Jornalismo – que fora testemunha do atentado sofrido por Carlos Lacerda na rua Toneleros, em 1954, do qual saiu morto o major da aeronáutica Rubens Vaz.
- Marcados para morrer – Em 12 de abril de 1991, foi ao ar um Globo repórter sobre a violência no Estado do Pará, com reportagens de Domingos Meirelles, com direção de Jotair Assad. A reportagem ganhou o Prêmio Rei de Espanha em 1992.
- Desaparecidos políticos – 21 de julho de 1995 – Em um cemitério clandestino em São Paulo, o repórter Caco Barcellos identificou os corpos de oito vítimas da repressão política consideradas “desaparecidas” durante o regime militar. A reportagem havia sido realizada dois anos antes pelo próprio Barcellos e pelo editor Ernesto Rodrigues, mas permanecera guardada. Sua exibição em 1995 foi decisão do jornalista Evandro Carlos de Andrade, que acabara de assumir a chefia da Central Globo de Jornalismo. Caco Barcellos teve de ser acionado no escritório da Globo em Londres para refazer partes do texto. O trabalho rendeu o Prêmio Caixa Econômica Federal de Jornalismo Social.
- Caso Riocentro, 15 anos depois – Em março de 1996, durante três meses, os repórteres Caco Barcellos e Fritz Utzeri investigaram o episódio do atentado ao Riocentro, em 1981. Foram feitas mais de 50 entrevistas, incluindo testemunhas ignoradas pelas autoridades militares na época, como os agentes de segurança do Riocentro. O programa trouxe à tona revelações que evidenciaram a manipulação dos fatos contida na versão oficial. Entre as autoridades militares, enquanto alguns se negaram a dar informações sobre o caso, como o general Waldyr Muniz, o coronel Newton Cerqueira e o capitão Wilson Machado, outros contribuíram para a confirmação da farsa montada pelos órgãos de segurança do regime militar, como o almirante Júlio de Sá Bierrenbach, que deu seu voto no STM contra o arquivamento do IPM em 1981; o coronel Ile Marlen Lobo, ex-comandante do 18o. Batalhão da Polícia Militar; o coronel Luiz Antonio Prado Ribeiro, primeiro responsável pelo IPM e que decidiu afastar-se do caso; e o coronel Dickson Grael, que realizou investigações paralelas ao IPM. O programa ganhou o prêmio Vladmir Herzog na categoria reportagem na TV.
- Caça fraudadora – 31 de outubro de 1997 – O repórter Roberto Cabrini localizou e entrevistou com exclusividade a advogada Jorgina de Freitas, uma das envolvidas nos golpes de uma quadrilha de fraudadores responsável pelo desvio de mais de 600 milhões de dólares da Previdência Social. Condenada a 23 anos de prisão, Jorgina de Freitas estava foragida por cinco anos. Depois de sete meses de investigação, Roberto Cabrini descobriu o esconderijo da advogada na Costa Rica. O programa ganhou o prêmio Previdência Social.
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