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quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

MEMÓRIA DATV - PROGRAMAS: OS TRAPALHÕES

TV Globo.


Redação: Augusto César Vannuci, Carlos Alberto da Nóbrega, Adriano Stuart e Mário Wilson
Direção: Augusto César Vannucci
Período de exibição: 13/03/1977-27/08/1995
Horário: aos domingos, 19h

- Em março de 1977, Renato Aragão, Dedé Santana, Mussum e Zacarias foram contratados pela TV Globo para levar para a emissora Os Trapalhões, programa de grande sucesso da TV Tupi. Nos 18 anos seguintes, o grupo se afirmaria como um ponto de referência no humor nacional e conquistaria lugar de honra no panteão da televisão brasileira.
- A história dos Trapalhões começou muitos anos antes. Em 1966, Wilton Franco, então um dos diretores da TV Excelsior, teve a idéia de reunir no humorístico Adoráveis trapalhões quatro artistas que aparentemente pouco tinham em comum: Wanderley Cardoso – cantor e galã da Jovem Guarda –, Ted Boy Marino – astro dos programas de telecatch –, Ivon Cury – cantor e ator nas chanchadas da Atlântida – e Renato Aragão, comediante de Sobral, no Ceará, que já começava a chamar a atenção pelos seus trabalhos no cinema e nas emissoras de TV do Rio de Janeiro desde 1964.

Estréia na TV Globo
- Em 1977, o Diretor de operações da TV Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, convidou os Trapalhões para levar seu programa para a emissora. Renato Aragão conta que temia aceitar a proposta. Afinal, na Tupi, ele tinha toda a liberdade para ser irreverente o quanto quisesse. A Globo era conhecida pelo seu famoso padrão de qualidade, e o humorista não tinha certeza se os Trapalhões se encaixariam nele. Para não ter que recusar formalmente a proposta, ele chegou a fazer uma lista de exigências de três páginas na qual determinava quais seriam o diretor, redator e o horário do programa. Para sua surpresa, Boni aceitou sem questionamentos as exigências. Os Trapalhões mudaram, então, de emissora.
Didi, Dedé e Zacarias. Cedoc/ TV Globo.
- Depois de dois especiais exibidos dentro da faixa de programação Sexta super, às 21h, em janeiro e fevereiro, Os Trapalhões estreou em março de 1977, aos domingos, antes do Fantástico.
- O programa apresentava uma sucessão de esquetes entremeados com números musicais, exibidos sem aparente conexão, exceto a presença dos próprios Trapalhões. Um quadro mais longo, cheio de ação e diálogos, podia ser seguido por uma sucessão de gags visuais curtas e um quadro fixo como o Trapaswat, uma paródia do seriado americano SWAT.
- O diretor Augusto César Vannucci citava as chanchadas e a comédia pastelão como principais referências, mas não havia um formato pré-estabelecido. Segundo Renato Aragão, qualquer idéia podia virar um esquete a qualquer momento. Ele conta que, certa vez, a caminho do estúdio, ouviu no rádio a canção Teresinha, de Chico Buarque. Achou que a letra – a história de vários amores do ponto-de-vista de uma mulher – daria um quadro para Os Trapalhões. Ao chegar ao Teatro Fênix, onde era gravado o programa, escreveu ele próprio o esquete e, no mesmo dia, gravou uma espécie de videoclipe satírico no qual o quarteto interpretava os personagens da música.
- Foi a primeira de uma série de paródias de musicais que marcaram o humorístico. Os Trapalhões também costumavam participar dos números dos cantores convidados. Quando Ney Matogrosso foi ao programa, Didi estava trajando figurinos e maquiagem idênticos aos dele, por exemplo. Situação parecida aconteceu em outras ocasiões com outros artistas, como Elba Ramalho e Tony Tornado.

Zacarias, Dedé, Mussum e Didi. TV Globo/ divulgação.
Platéia
- Os Trapalhões passou a contar com uma platéia presente às gravações no Teatro Fênix, a partir de 1982, quando o programa era dirigido por Oswaldo Loureiro. Os esquetes eram encenados como se fosse um programa ao vivo, com o mínimo de pausa para a mudança de cenários e figurinos.
- As constantes improvisações do grupo se tornaram ainda mais freqüentes diante de um público que parecia adorar o espírito anárquico dos comediantes. Mais tarde, os “cacos” que resultavam em erros e forçavam a equipe a ter que refazer as cenas – em boa parte das vezes porque o elenco se perdia em gargalhadas descontroladas – passaram a ser exibidos em edições especiais do programa no final do ano, tamanho sucesso faziam aos olhos da platéia.
- Em 1983, o programa passou a ser dirigido por Gracindo Júnior e redigido por Carlos Alberto da Nóbrega. Gracindo Jr. imprimiu um formato diferente a cada semana, sem fugir do humor característico dos Trapalhões. Assim, em um domingo o programa podia adaptar comédias teatrais; em outro, se transformar num show circense e, no seguinte, apresentar os tradicionais esquetes isolados.

Férias conjugais
- O programa passou por um período delicado quando os Trapalhões decidiram se separar. Dedé, Mussum e Zacarias romperam com a Renato Aragão Produções, empresa que cuidava dos negócios do grupo, formaram sua própria empresa e optaram por seguir sozinhos na carreira cinematográfica e deixar o programa. A separação durou cerca de seis meses, período em que Renato Aragão estrelou sozinho o programa. No final de 1983, por iniciativa própria, os humoristas decidiram voltar com o quarteto.
- Depois do período de afastamento, que Renato Aragão passou a chamar de “férias conjugais”, os Trapalhões voltaram em grande estilo em março de 1984, num programa que contou com a participação de Chico Anysio. Em um cenário todo branco, exceto por alguns esparsos elementos de cena – uma árvore e alguns soldadinhos de chumbo, vivamente coloridos –, o comediante contou a história dos Trapalhões para uma pequena platéia formada por Simony, a apresentadora da Turma do Balão Mágico; Isabela Bicalho, a Narizinho do Sítio do picapau amarelo; e Gabriela Bicalho, atriz mirim do elenco da novela Champagne. Ilustrando a fala de Chico Anysio, imagens de arquivo relembraram o início da carreira do grupo, seus sucessos no cinema e momentos marcantes na televisão. Em seguida, Renato Aragão, Dedé Santana, Mussum e Zacarias entraram em cena, trajando smokings e, emocionados, se reapresentaram para o seu público.
Mussum e Didi. Cedoc / TV Globo.
Os Trapalhões nas ruas
- Em 1984, Os Trapalhões passou a ser dirigido por Paulo Araújo. Na equipe de redação estavam, além do próprio Renato Aragão, Carlos Alberto de Nóbrega, Emanuel Rodrigues, Expedito Faggioni, Arnaud Rodrigues, Humberto Ribeiro, Mário Alimari, Nelson Batinga e Bráulio Tavares. O número de quadros do programa aumentou consideravelmente – agora eram cerca de 20 por semana – assim como as cenas externas. Um dos quadros, Jabgnum – sátira ao seriado policial Magnum, exibido pela TV Globo – tinha várias sequências em que Didi corria pelas ruas do Rio de Janeiro envergando camisa havaiana e bigode iguais aos de Tom Selleck, astro do seriado.
- Em 1985, Didi, Dedé, Mussum e Zacarias foram gravar nos Estados Unidos uma série de 14 episódios que foi exibida a partir de abril, no bloco final do programa. A série mostrava os Trapalhões envolvidos em confusões e perseguições pelas ruas de Los Angeles.
Didi, Mussum e Dedé. Cedoc/ TV Globo.
Morte de Zacarias
- No dia 10 de março de 1990, Zacarias morreu, vítima de embolia pulmonar. Segundo Renato Aragão, o impacto da morte do companheiro por pouco não representou o fim do grupo. Ele conta que, uma vez decidido que eles continuariam a trabalhar como forma de homenagear a memória de Zacarias, a estrutura de Os Trapalhões precisou ser reinventada de forma a suprir a ausência do amigo.
- De fato, o programa que foi ao ar naquele ano, com direção de Wilton Franco e supervisão de criação de Chico Anysio, trouxe mudanças significativas. Para começar, pela primeira vez, desde a estréia, os humoristas não apareciam na vinheta de abertura. Dessa vez, uma animação mostrava as letras da logomarca do programa executando um balé no vídeo até que, por fim, se uniam para formar as palavras “Os Trapalhões”. O humorístico passou a ser dividido em duas partes. A primeira apresentava shows musicais e esquetes de humor em que Didi, Dedé e Mussum contracenavam com vários comediantes convidados, como Jorge Lafond e Tião Macalé.
- A segunda parte trazia sempre uma aventura passada no Trapa Hotel. Um estabelecimento meio decadente que tenta a todo custo se manter apesar das confusões do gerente Didi; do secretário de esportes e lazer Dedé e do segurança Mussum. Criado pela cenógrafa Leila Moreira, o cenário do Trapa Hotel – construído no Teatro Fênix – tinha dois andares, elevador panorâmico e porta de entrada giratória.
- O Trapa Hotel continuou a ser exibido em 1991, mas a primeira parte do programa sofreu mudanças. O palco do Teatro Fênix se transformou em um bairro típico de uma grande metrópole, com prédios altos, letreiros em néon, becos escuros, carros passando e muita fumaça. Nesse cenário, cantores convidados se apresentavam e novos quadros fixos – como a Oficina dos picaretas e O filho do computador – e eram encenados esquetes com alguns personagens que haviam aparecido no ano anterior, como o anão Ananias, feito por Renato Aragão. A redação final do programa ficava a cargo de Renato Aragão e do diretor Wilton Franco. Chico Anysio continuava supervisor de criação.

25 anos dos Trapalhões
- Em julho, para celebrar os 25 anos dos Trapalhões, a TV Globo apresentou uma programação especial, com 25 horas de duração, durante a qual foram lançadas campanhas de conscientização sobre os direitos da criança, com arrecadação de donativos para as obras do Unicef. As comemorações tiveram início no sábado, dia 27, a partir de uma matéria do Jornal Nacional, seguida de flashes ao vivo do Teatro Fênix.
- No dia 28, a programação teve início às 7 horas com a missa celebrada ao vivo pelo cardeal D. Eugênio Salles e terminou no fim da noite, no Teatro Fênix, com a despedida e o agradecimento dos Trapalhões ao público. Os Trapalhões – 25 Anos teve direção geral de Aloysio Legey e Walter Lacet e direção de Maurício Sherman e Wilton Franco.

Morte de Mussum
- Em 29 de julho de 1994, quando Mussum morreu, em decorrência de problemas no coração, Renato Aragão conta que achou que sua carreira havia chegado ao fim. Depois de prosseguir durante um tempo, o humorista decidiu parar de gravar o programa.
- Versões compactas de 25 minutos com os melhores momentos de Os Trapalhões desde a estréia em 1977 passaram a ser exibidos de segunda à sexta, às 17h. A direção era de Fernando Gueiros, com supervisão geral de Maurício Sherman.
- Os Trapalhões só voltou ao ar em 1995, exibido nas tardes de domingo e dirigido por Paulo Aragão Neto, filho de Renato Aragão. Nessa fase, as reprises dos melhores momentos continuaram a ser apresentadas no programa.
- Em um cenário idealizado por Leila Moreira – um palco fixo de 360°, cercado pela platéia e com um fundo composto por um telão com nove telas planas e mais 25 monitores, que faziam uma moldura em torno das telas –, Didi e Dedé organizavam brincadeiras com a platéia e recebiam artistas convidados, com quem comentavam os esquetes e relembravam suas participações no programa.
Dedé e Didi. Lílian Aragão/ TV Globo.

Produção
- A abertura original de Os Trapalhões foi concebida por Hans Donner em 1977. Era um desenho animado que mostrava Didi, Dedé, Mussum e Zacarias numa seqüência de situações absurdas. Entre outras aventuras, os quatro escapavam de ser atropelados por uma locomotiva, fugiam da perseguição de um tubarão, atravessavam o sertão vestidos como cangaceiros e subiam à bordo de um navio pirata no qual Didi aparecia como capitão, usando uma perna-de-pau. Tudo isso ao som do tema instrumental que acompanharia o grupo ao longo dos anos, composto pelo diretor musical do programa José Menezes França.
- O programa ganhou nova abertura de Hans Donner em 1987. Dessa vez, os quatro comediantes gravaram todas as cenas em película, como se estivessem contracenando com outros atores. Depois, suas imagens foram coloridas por computador e foram inseridos desenhos animados. Como na primeira abertura, os Trapalhões eram mostrados em diversas situações cômicas, mas, dessa vez, os traços realistas ressaltavam o absurdo das gags: Dedé era um frentista de posto de gasolina que, distraído com a passagem de uma mulher de biquini, quase afogava um cliente com combustível; Mussum era um pescador que secava um rio quando acidentalmente arrancava a tampa de um ralo imaginário gigante; Zacarias era um caçador embrenhado na mata que levava um ovo na cara quando tentava atirar num passarinho; e Didi, um presidiário que fazia embaixadas com a bola de ferro presa ao seu tornozelo, dava um belo chute de bicicleta e era catapultado para fora dos muros da prisão. Renato Aragão lembra que teve que repetir a cena da bicicleta diversas vezes, sem dublê, até que o diretor se desse por satisfeito com o resultado.
Didi. Jorge Baumann/ TV Globo.
Curiosidades
- Os Trapalhões trouxeram para a TV Globo sua marca-registrada: o hábito de improvisar em cena e inserir cacos no texto com o único objetivo de fazer o público rir, sem a preocupação de respeitar normas cênicas convencionais. Assim, era comum que Didi levantasse a grama cenográfica para esconder uma chave, chutasse rochedos feitos de isopor para o alto, atravessasse paredes falsas ou denunciasse a ironia de estar fingindo se afogar em um mar feito de celofane. Também era freqüente que os colegas de cena explodissem em gargalhadas no meio das falas e, em seguida, voltassem normalmente ao script.
- Para Renato Aragão, a improvisação foi um recurso tão vital para o humor do programa quanto o texto. Ele conta que, no início, chegou a ser advertido por meio de memorandos de que seus cacos ameaçavam “desmistificar a televisão”. Boni, no entanto, tratou de dar aos comediantes carta branca para que fizessem o que bem entendessem.
- Renato Aragão criava bordões com extrema facilidade usando expressões já existentes ou simplesmente inventando coisas como “audácia da pilombeta!”. Vários bordões de Didi foram incorporados pelo público e expressões como “é fria!” (encrenca); “bufunfa” (dinheiro), “poupança” (traseiro), “tesouro” ou “bicho bom” (mulher bonita) se tornaram gírias que são repetidas desde então. Didi também se comunicava diretamente com o telespectador do programa chamando-o de “da poltrona” ou simplesmente de “psit”.
- Renato Aragão criou ainda gestos que se pode chamar, com alguma liberdade poética, de “bordões visuais”, como o de passar a mão sobre a boca e depois estalar os dedos no ar, como quem recolhe um beijo e o sapeca no espaço. Um gesto positivo, de confiança dirigido à câmera e, portanto, ao telespectador, que sintetizava o que outro dos bordões de Didi dizia em três palavras: “aguarde e confie”.
- Mussum também eternizou outro bordão famoso de Os Trapalhões. Ele usava a palavra inglesa “forever” – que significa “para sempre” em português – para designar várias coisas, em especial o traseiro. Pronunciada à sua maneira peculiar, a palavra se tornava “forévis”.
- Depois do fim de Os Trapalhões, Renato Aragão voltou à televisão em 1997 como protagonista da série infantil Renato Aragão especial, no qual Didi protagonizava histórias inspiradas em clássicos da literatura mundial. No ano seguinte, o humorista passaria a estrelar A turma do Didi.
- Os Trapalhões foi reprisado diversas vezes na programação da TV Globo como, por exemplo, substituindo a novelinha Caça talentos exibida dentro do programa Angel mix da apresentadora Angélica, em 1999.
- O programa foi vendido para países como Angola, Canadá, Estados Unidos e Portugal, sendo que, neste último, foi apresentado, em 1995, pela emissora local Sociedade Independente de Comunicação (SIC), uma versão portuguesa de Os Trapalhões encenada por Renato Aragão, Dedé Santana e Roberto Guilherme, além de um elenco de atores portugueses.


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