Notícia do G1
O ano-novo não começa antes do estouro do champagne - ou, pelo menos, de um bom vinho espumante, já que o verdadeiro champagne francês não cabe na maioria dos bolsos brasileiros. Para ajudar você a entrar em 2010 com o pé direito, o G1 conversou com sommeliers (especialistas em vinhos) e elaborou um guia de espumantes para a virada.
Antes de mais nada, a má notícia: é considerado errado “estourar” a bebida. Como a pressão dentro da garrafa é muito maior do que do lado de fora, a tendência do espumante é perder as bolhas na hora em que a rolha sai. Mas sem purismo: “estourar champagne é muito errado. Mas virou o ano, pode estourar, é hora de diversão, você não vai se prender à temperatura de serviço, você vai aproveitar o momento“, diz o sommelier Mauricio Leme, da Worldwine.
Maurício Leme, sommelier da World Wine.
Mais além da comemoração, o espumante também é apontado como a bebida ideal para acompanhar a ceia. “A grande vantagem do champanhe é que ele combina com tudo, com carne branca, vermelha, queijo. É uma excelente opção para acompanhar as festas tão complicadas quanto o natal e o réveillon“, diz Eliano Pellini, da Associação Brasileira de Sommeliers (ABS). “Por ser um vinho leve, é perfeito para clima quente, é um vinho para praia, não tem geralmente um alto teor alcoólico, essa efervescência dá também um tom de frescor e de festa“, concorda a sommelier Ana Rita Zanier, da Expand.
Para acompanhar
Uma grande comemoração já pode começar com um espumante. “em um dia quente, você pode receber com um espumante seco branco, com um prosecco ou senão com um bom nacional”, ensina a sommelier.
À continuação, a ceia pode ser acompanhada por um rosé: “partindo do princípio de que a gente vai pra uma ceia clássica, peru, tender, e que o nosso natal é no verão, então na teoria a gente tem que tender aos vinhos mais leves. Incrivelmente os pratos para a ceia brasileira clássica pedem vinho por exemplo rosé. Com peru, fica maravilhoso, com tender fica espetacular“, diz Mauricio.
Para a sobremesa, um espumante doce: “pode acabar com um espumante doce na parte da sobremesa. Você vai adequando, porque sempre procura-se adequar a bebida à necessidade. Começa do branco, rosé e depois o doce“ sugere Ana Rita.
Já Eliano sugere retomar o prosecco na sobremesa: “pode ser ter um prosecco ou demi-sec para receber e combinar com a sobremesa, e um brut para o jantar”. “Para sobremesa, depende muito do que você vai comer. Para conseguir suportar chocolate, por exemplo, tem que ir para alguma coisa que seja extradry“, recomenda Mauricio.
Para quem se perdeu nos tipos de bebida, os especialistas explicam: “a diferenciação é a quantidade de açúcar: o demi-sec (ou doce) tem mais, o sec, ou brut, é mais seco”, diz Eliano. “É um açúcar acrescentado depois da fermentação. Se eu não acrescento nada ele fica completamente seco. Se acrescento pouco, vai me dar um brut. Com um pouco mais, vai até o doce“, aponta Ana Rita.
Ana Rita Zanier, sommelier da Expand.
Champagne, prosecco, cava, espumante
Além da quantidade de açúcar, os espumantes também se diferenciam pelas uvas usadas, pela região onde ele é produzido e pelo método de fabricação. “Para fazer um vinho básico, se fermenta a uva. Se você quiser fazer um vinho espumante, precisa fazer aquele vinho passar por uma segunda fermentação, onde se segura o gás carbônico“, explica Ana Rita.
No método champenoise - o tradicional, e mais custoso - essa segunda fermentação é feita dentro da própria garrafa. Já o método charmat consiste em fermentar o vinho dentro de enormes cubas de aço, hermeticamente fechadas, passando depois a bebida por uma filtragem e um engarrafamento isobárico, que não deixe sair o gás. “Porque o charme de um vinho espumante é ter aquela espuma, aquele gás natural, que chega até a sua taça“, diz Ana Rita.
Mais nobre entre os espumantes, o champagne é feito, claro, pelo método champenoise. Mas para levar esse nome, ele deve seguir uma série de regras rígidas para sua fabricação. E tem, necessariamente, que ser fabricado na região da Champagne, na França. “Todos os vinhos que têm espuma são espumantes. Mas só o vinho espumante produzido na região da Champagne pode se chamar champagne“, explica Ana Rita.
O mesmo ocorre com o prosecco e com o cava. Prosecco é uma denominação específica do Vêneto, no norte da Itália. Já o cava é proveniente de uma região da Espanha. “Esses vários nomes são ligados à região de produção e, indiretamente, ao tipo de vinho. Porque no momento em ele é um champagne, ele tem que respeitar as regras da região de Champagne. Para ser um prosecco, é feito com método charmat“, especifica a sommelier
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Maurício ensina a abrir a garrafa da maneira correta: a tendência da rolha é sair, então empurre a rolha contra o gargalo e gire a garrafa. Quando você sentir que vai sair, você deita a garrafa um pouquinho para o lado. Aí só faz o barulho da latinha de cerveja“."
Brasileiros
O que pode ser uma surpresa para alguns é que os espumantes brasileiros são, sim, considerados de boa qualidade. “Os espumantes são os melhores vinhos feitos no Brasil. Na serra gaúcha você tem vários produtores excelentes de espumantes nacionais: tem a Cave Guesse, tem a Moet Chandon brasileira. Tem várias famílias que trabalham de forma excelente, como o Valduga, o Salton”, diz Pellini..“Tem uma variedade boa de vinhos nacionais espumantes, que são de boa qualidade. Hoje podemos falar que a melhor qualidade dos nossos vinhos brasileiros fica nos espumantes, desde aqueles produzidos no sul até aqueles produzidos no Nordeste“, concorda Ana Rita.
Pellini defende mesmo a superioridade dos brasileiros: “dentro dos espumantes hoje, compre brasileiros, ou se você tem recursos, compre francês. Não há motivo para comprar espanhol, chileno, nós fazemos melhores do que eles”, diz.
Agora é só servir - tomando cuidado com a temperatura: a bebida deve ser servida entre 6ºC a 8ºC, um bom champagne a 10ºC, um top 12ºC, ensina Mauricio: “e é gelo e água, não é freezer. Quinze minutos já está na temperatura de serviço. Fora isso, pode se divertir“.