Gênero se tornou popular com 'Wolf 3D' e 'Doom', no início dos anos 90.Evolução tecnológica possibilitou inovação visual e conceitual.
O clássico 'Doom' popularizou os jogos de tiro em primeira pessoa nos anos 90.
Começou com gotas de sangue quadradas em um castelo nazista (“Wolf 3D”) e evoluiu para uma cidade submersa com “escolhas morais” para definir o rumo da história. Os jogos de tiro em primeira pessoa (first person shooters, FPS) colecionam uma série de inovações técnicas e conceituais ao longo da história, e ainda se sustentam como um dos gêneros mais populares dos games.
A popularização dos computadores pessoais nos anos 90, e a combinação de mouse e teclado para tiros certeiros, fez da plataforma PC a mais importante para o desenvolvimento do gênero. Produtoras como id Software e 3D Realms estabeleceram as bases do sucesso: mundo 3D, corredores estreitos, invasores alienígenas e um apurado senso de diversão contínua. Com a evolução das tecnologias e o surgimento de novas plataformas, os jogos de tiro não pararam de se reinventar, ganhando modificações, reproduzindo-se nos consoles e dominando confrontos on-line.
A lista do PENÚLTIMAS traz, em ordem cronológica, os jogos mais importantes na evolução do gênero. No caso das grandes séries, que se estenderam por diversas versões e plataformas, optou-se por destacar o game original. Confira a seguir a lista dos 15 “shooters” essenciais e deixe seu comentário no final do texto.
1. Maze war (1973/1974)
NASA e MIT
'Maze war': jogador era representado por olho flutuante em um labirinto que simulava ambiente tridimensional . Ao lado, o computador Imlac PDS-1, que rodava o jogo (Foto: Divulgação)
O avô dos games de tiro em primeira pessoa nasceu entre 1973 e 1974, e foi produzido por duas instituições ligadas à alta tecnologia: a Nasa e o Massachusetts Institute of Technology (MIT). Programado originalmente para rodar em estações de imagem Imlac PDS-1, o game reproduz um labirinto onde os jogadores - representados por "olhos" flutuantes - se enfrentam. Quem acerta o adversário ganha um ponto, e quem leva um tiro, perde um. Simples demais. Por sua importância histórica, "Maze wars" foi adaptado para rodar em computadores mais recentes. Há, inclusive, uma versão moderna para o iPhone.
2. Wolfenstein 3D (1992)
id software
Em 'Wolfenstein 3D' o cenário era um castelo nazista defendido por soldados, cachorros e, claro, Adolf Hitler. A barra de informações, no canto inferior, influenciou os games seguintes (Foto: Divulgação)
Se “Maze wars” é o pioneiro do gênero, “Wolfenstein 3D” foi o grande responsável pela popularização dos jogos de tiro em primeira pessoa. Lançado em 1992, “Wolf 3D” estava instalado em boa parte dos computadores 386 – ou nos mais “modernos” 486 – existentes na época. A versão shareware, com apenas as primeiras fases, ocupava apenas um disquete. No jogo, o objetivo é fugir de um castelo nazista, matando cachorros, soldados e, no final, uma versão “turbinada” do ditador Adolf Hitler. “Wolf 3D” foi criado por John Carmack e John Romero, da id Software, que seriam responsáveis por outros clássicos como "Doom" e "Quake". O jogo definiu padrões para os jogos de tiro, como a necessidade de encontrar chaves para abrir determinadas portas.
3. Doom (1993)
id software
'Doom' trazia inovações técnicas impressionantes, além de um inédito nível de violência e ação. Os demônios e a trilha sonora tiravam noites de sono (Foto: Divulgação)
Um marco no gênero, “Doom” estava no computador de dez milhões de usuários de PC nos primeiros meses de seu lançamento, no final de 1993. Violento e sanguinolento, o game trazia a história de um fuzileiro espacial que enfrenta criaturas demoníacas em Marte. Apesar de simples, o enredo garantia a imersão do jogador em um universo tridimensional com qualidade gráfica revolucionária para a época. Para matar os alienígenas, o jogador contava com armas como serras elétricas ou espingarda (shotgun). O jogo ganhou inúmeras sequências - a mais recente, batizada de “Doom 3”, lançada em 2004. Um novo episódio da série deve chegar aos sistemas atuais (Xbox 360, PS3 e PC) entre o final de 2009 e o início de 2010.
4. Rise of the triads (1994)
Apogee (3D Realms)
Cenários sombrios, armadilhas fatais e citações à Alemanha nazista foram elementos marcantes em 'Rise of the triad'. Bazucas atiravam mísseis guiados por calor (Foto: Divulgação)
Espaços gigantescos, armas poderosas (mísseis, bazucas), cenários sombrios e pedaços de corpos voando para todos os lados. “Rise of the triad” não é exatamente um dos grandes jogos já produzidos, mas introduziu, no final de 1994, conceitos que influenciaram os sucessos do gênero de tiro da atualidade. Menos “macabro” que "Doom", lançado um ano antes, “ROTT” gerou polêmica pelo excesso de violência. Adversários desarmados agachavam e pediam clemência: “não atire, por favor”. O jogador podia, então, trocar o revólver por um lança-foguetes e explodir o inimigo. A recompensa era ver olhos ensanguentados e ossos partidos escorrendo pela tela.
5. Dark forces (1995)
LucasArts
'Dark forces' conquistou fãs ao reproduzir elementos de 'Star wars' como storm troopers e a Estrela da Morte (Foto: Divulgação)
Produzido pela Lucas Arts, “Dark forces” une duas paixões dos “nerds”: videogame e a série “Star wars”. Não tinha como não ser um sucesso: mais de um milhão de cópias das versões para PC e Macintosh, lançadas em 1995, foram vendidas. E, mesmo sem utilizar personagens principais do universo de “Guerra nas estrelas”, o jogo reproduzia com qualidade bastante aceitável ambientes célebres como a Estrela da Morte. A série foi rebatizada de “Jedi knights”, e ganhou sua quinta – e mais recente – versão em 2003.
6. Duke Nukem 3D (1996)
3D Realms
Traços da cultura pop norte-americana, principalmente nas frases de efeito, acompanhavam Duke na luta contra alienígenas (Foto: Divulgação)
Uma competente tiração de sarro da indústria que começava a se levar a sério demais. Duke, o herói com pinta de galã, descarregava sua testosterona nos alienígenas que haviam invadido a Terra, mas não esquecia as piadas, nem as frases de efeito. Cabelo de corte militar, óculos escuro e armas poderosas faziam parte do figurino. Hambúrgueres e refrigerantes ajudavam a recuperar energia. Duke era refletido no espelho do banheiro, usava o vaso sanitário e até dava gorjeta para as "dançarinas" de uma casa noturna. O confronto com um dos chefes acontecia em um campo de futebol... americano - rodeado de cheer leaders. Por trás do clima de descontração, um dos jogos de tiro mais sólidos já lançados. A continuação "Duke nukem forever", em produção desde 1997, já é considerada uma lenda dos games.
7. Quake (1996)
id software
Criaturas demoníacas e cenários impressionantes em 'Quake', um dos responsáveis pela popularização das partidas on-line (Foto: Divulgação)
O que parecia impossível aconteceu: os "magos" da id software conseguiram criar mais um jogo de tiro inovador, capaz de ampliar as perspectivas do gênero. "Quake" era fortemente baseado na estrutura dos jogos anteriores da produtora, "Doom" e "Wolf 3D", desde o sistema de menus até o estilo de jogo. O que chamou a atenção foram os cenários envolventes, que reproduziam diferentes estilos, de acordo com a fase, e as opções on-line. "Quake II" melhorou o que já era bom, e "Quake III: arena" estabeleceu as bases para jogos multiplayer on-line. Em 1996, o jogo batizou uma das maiores festas de computadores em rede, a "QuakeCon", que existe até hoje. As versões mais recentes do jogo são "Quake IV" (2005) e "Quake wars: enemy territory" (2007).
8. GoldenEye 007 (1997)
Rare
'Goldeneye 007', baseado nos filmes de James Bond, é considerado um dos melhores jogos de tiro para consoles (Foto: Divulgação)
Baseado no filme homônimo da série do agente James Bond, “GoldenEye 007” foi lançado para o videogame Nintendo 64 em 1997. O game conseguiu vender 8 milhões de cópias, apesar do fracasso do videogame da Nintendo diante do PlayStation, da Sony. A reprodução quase perfeita do roteiro do filme, a excelente adaptação dos comandos ao controle do Nintendo 64 – afinal, boa parte dos games de tiro em 3D são projetados para serem jogados com mouse e teclado – e o modo multiplayer para até quatro jogadores foram os principais motivos desse sucesso. O jogo é “pai” da série "Perfect dark", que também estreou no N64.
9. Half-Life (1998)
Valve
Armas de fogo? Contente-se com um pé-de-cabra nos primeiros momentos de 'Half-Life'. Além de criar um universo próprio, jogo serviu de base para 'Counter-Strike', game de tiro mais popular nas partidas on-line (Foto: Divulgação)
Nos primeiros 30 minutos de jogo, você é um pesquisador em seu primeiro dia de trabalho num grande complexo. Sem armas, sem inimigos, conversando com colegas. Depois que algo dá errado, você descobre que está em uma conspiração das mais graves - e em um jogo de tiro que revolucionou a maneira de contar história nos games. O Dr. Gordon Freeman consegue um pé-de-cabra no começo do jogo, para mais tarde conseguir uma invodora "arma de gravidade", marca registrada da série. "Half-Life II" levou a série vários passos adiante, enquanto o terceiro capítulo foi dividido em três episódios. Como se não bastasse ter criado seu próprio universo, "Half-Life" ainda deu crias. "Counter-Strike", game on-line mais jogado de todos os tempos, segundo o livro dos recordes Guinness, não é nada mais que uma modificação (mod) de "Half-Life". "CS" foi o jogo responsável pela profissionalização dos "ciberesportes", criando e incentivando campeonatos do gênero. Em 2007 foi lançado o pacote "Orange box", que reúne outros "filhos" de "Half-Life", como "Team fortress 2" e "Portal".
10. Tom Clancy's rainbow six (1998)
Red storm
Visual é para os fracos - o importante em 'Rainbow six' é invadir a sala na hora certa e resgatar a refém com vida (Foto: Divulgação)
Os críticos quem viam nos jogos de tiro um incentivo às "matanças virtuais" precisaram caçar novos argumentos com a inauguração da série "Tom Clancy's rainbow six". O jogo é um marco dos "tiroteios táticos", em que a regra é perguntar primeiro, salvar os reféns depois e só atirar em último caso. Tom Clancy é um escritor especializado em táticas militares, e foi essa sua experiência que contou para fazer de "Rainbow six" uma novidade promissora. O jogador faz parte de equipes de resgate capaz de usar armas não letais, traçar estratégias e "neutralizar" as ameaças. A série se ramificou em outros jogos, como "Splinter cell" e "Ghost recon", e influenciou games como "S.W.A.T 3", que seguem à risca os procedimentos e regras de condutas da polícia da "vida real".
11. Halo (2001)
Bungie
Aliens com nomes estranhos, armas que disparavam raio, destino incerto do planeta Terra: foi assim que 'Halo' salvou o Xbox, gerou cifras milionárias e virou referência para mata-matas on-line (Foto: Divulgação)
Master Chief, herói sem rosto, é um fuzileiro que tenta conter a invasão dos alienígenas Covenant. Você já viu essa história antes, mas como explicar que, no dia do lançamento, 1,4 milhão de pessoas estavam conectadas para disputar os mata-matas online? Com cenários futuristas e uma história que ia se revelando aos poucos, "Halo" bateu recordes de vendas e monopolizou as batalhas em rede pelo Xbox, salvando o console da Microsoft de uma estreia decepcionante. O universo "Halo" se expandiu para livros e quadrinhos, e chegou a flertar com o cinema, em filme que nunca saiu do projeto. Conquistou milhões de fãs e se desdobrou em uma das franquias mais rentáveis do mundo com o lançamento de "Halo 3", em 2007. Se as missões offline não revolucionaram o gênero, as partidas multiplayer se consagraram como uma experiência duradoura e bastante equilibrada - além, é claro, de rentável.
12. Battlefield 1942 (2002)
Dice
Partidas on-line de 'Battlefield 1942' transformaram a Segunda Guerra Mundial em um dos cenários mais comuns em jogos de guerra (Foto: Divulgação)
Muito antes de decidirem sobre a profissão na vida real, milhões de jovens já tinham acumulado horas de experiência como médico, engenheiro e outras classes de soldados em "Battlefield 1942". A história do jogo de tiro era escrita em confrontos on-line, ou contra "bots" controlados pelo computador. O cenário da Segunda Guerra Mundial servia de campo para tanques, aviões, submarinos e diversos armamentos "menores" fossem usados contra amigos ou meros desconhecidos do outro lado do mundo. A dinâmica das partidas funcionou tão bem que deu espaço para a criação de modificações, além de garantir sucessores como "Battlefield 2" e "Battlefield 2142", ambos com ênfase em combates on-line.
13. Call of duty (2003)
Infinity Ward
Com fidelidade histórica e riqueza de detalhes, 'Call of duty' inaugurou os jogos de Segunda Guerra Mundial em grande estilo (Foto: Divulgação)
Chamado simplesmente de “CoD” por seus fãs mais fiéis, “Call of duty” foi o primeiro grande jogo de tiro em primeira pessoa a utilizar de maneira dramática a Segunda Guerra Mundial. Ao reproduzir batalhas históricas como a invasão da Normandia (no “Dia D”), a queda do Reichstag e o confronto entre alemães e o exército soviético em Stalingrado, “CoD” utilizava de elementos históricos no enredo. Veteranos de guerra foram contratados para garantir a perfeição de cada missão. A camaradagem entre os soldados e as diferentes armas utilizadas pelos exércitos aliados – e também do Eixo – também estão presentes. Prova do sucesso é que o game, publicado em 2003, já está em sua 4ª sequência oficial, quase todas ambientadas na 2ª Guerra. Em 2009, deve chegar ao mercado “Call of duty: Modern warfare 2”, com combates no Rio de Janeiro.
14. Far cry (2004)
Crytek
'Far cry': a natureza nunca foi tão impecavelmente bonita. Seu 'sucessor espiritual' foi 'Crysis', lançado em 2007 (Foto: Divulgação)
O "queridinho" "Crysis" não está na lista do G1. Isso porque antes dele, e do mesmo lugar, veio "Far cry", criado por um pequena produtora alemã. Quando os estúdios que dominavam o cenário buscavam a próxima grande revolução, a Crytek usou uma ferramenta própria de programação e reformou o gênero de tiro em primeira pessoa. Saíam os corredores intermináveis e as salas com portas trancadas, entravam as vastas ilhas, dignas de propaganda de chocolate, ou de cruzeiros milionários. Tanta exuberância foi recebida pelos jogadores como um atestado de liberdade, permitindo vagar pelas montanhas (impecáveis), aventurar-se na água (irreal, de tão... realista) e até traçar a melhor tática para surpreender terroristas nas horas vagas. Ainda hoje, o jogo se destaca pela beleza, o que seria apenas um detalhe se a "jogabilidade" não fosse das melhores. Em 2007 a Crytek lançou "Crysis", uma espécie de sucessor de "Farc cry". O jogo seguia a tradição dos cenários paradisíacos abertos e da liberdade de ação. Em 2008 foi lançado "Far cry 2", que se mudou para o continente africano, mas não abriu mão da liberdade.
15. BioShock (2006)
2K Games
A sociedade perfeita de Rapture não deu certo: mutações genéticas, ambições megalomaníacas e você, perdido e fascinado por isso tudo (Foto: Divulgação)
Visual de "última geração"? Explosões, tiros, raios? Armas diferentes, poderes interessantes, inimigos obscuros? "BioShock" tinha tudo isso, mas o que o transformou em uma das experiências interativas mais inesquecíveis nos games foi a cidade de Rapture, pano de funo para as "decisões morais" do jogador. Você sobrevive a um acidente de avião, busca refúgio em um farol no mar e descobre a cidade submersa. A ruína do que era um projeto "humanista" de sociedade perfeita se manifesta em criaturas geneticamente modificadas, conspirações e pedaços de história que vão se juntando. A concepção artística do universo que "deu errado" ganha vida em pôsteres rasgados, mensagens de voz desesperadas, trilha sonora de época, luminosos de neon, ambientes autênticos e menininhas sinistras que poderiam servir de ajuda - ou de matéria prima. Dizem que trata-se de um jogo. Mas quem esteve lá pode jurar que é pra valer.