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terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Né brinquedo, não! Bordões popularizam personagens!

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Bordões popularizam personagens e marcam a carreira de atores

Nada melhor para um ator do que carregar uma marca em uma novela que o faça ser lembrado a todo momento. É só dizer Tô certo ou tô errado que Lima Duarte vem à mente com o inesquecível Sinhozinho Malta de Roque Santeiro.
Já “Na Chon” remeterá sempre a Aracy Balabaniam como Dona Armênia, em Rainha da Sucata. O bordão é um recurso corriqueiro nos programas de humor da TV por provocar o riso fácil, e tem uma origem antiga que vem do circo e do rádio.

Mas nas novelas, ele contribui para que um personagem se popularize e caia na boca do povo. “É por isso que nunca é bom criar um bordão com muita antecedência. Você nunca sabe quando ele vai pegar. Só vendo os personagens para sentir”, defende Glória Perez.

Com Caminho das Índias, a autora deve tornar corriqueiros nas rodas de conversa termos indianos como “Are, Baba” e “Namastê”, ao exemplo do que aconteceu em O Clone, quando expressões árabes como “inshalá” eram ditas em todos os cantos.

Não há regras para criar um bordão. Às vezes ele é inserido pelo autor no texto e, em outras, sugerido pelo ator. Com Solange Couto, que ficou famosa como Dona Jura, foi sem querer. A atriz conta que, ao pegar os primeiros textos de sua personagem, começou a refletir sobre seus mais de 20 anos de carreira.

Ela almejava que aquele trabalho fosse realmente significativo e, em determinado momento, soltou em voz alta “Né brinquedo, não”, mesclando lamentação e ansiedade. Poucos dias depois, em uma reunião com Glória Perez, a atriz sugeriu a frase e chegou a ficar constrangida com a reação da autora. “Achei que tinha sido intrometida, mas ao ler os capítulos vi que ela tinha acatado a sugestão e vibrei. Foi um sucesso e é até hoje”, valoriza Solange.

Em um país de tantos sotaques e com um linguajar que varia de região para região, o bordão também acaba se tornando uma linguagem universal. As pessoas sabem que, falando da mesma maneira que na novela, elas serão entendidas em qualquer lugar.

Yasmin, a personagem da mineira Mariana Rios em Malhação, retrata bem essa situação. A atriz inseriu em suas falas no folhetim jovem termos antes usados apenas em sua cidade, Araxá. “E agora para qualquer lugar que eu viajo ouço, ‘Jesus, apaga a luz’, que é o meu bordão mais falado”, conta a moça.

O mesmo acontece com termos antes restritos a determinados guetos ou classes de profissionais. Depois de empregados em uma trama na TV, eles acabam sendo inseridos à linguagem coloquial de toda a sociedade.

É o caso do Sr. Gomes, personagem de Walter Breda em América. Policial aposentado na história, ele ficou marcado pelo termo “Copiou?”, um chavão da linguagem militar e policial que indica o fim de uma frase durante conversa por rádio. “E até hoje sou chamado de Sr. Copiou por aí”, diz Walter.

Quase sempre ligados aos núcleos cômicos ou mais populares das novelas, os bordões algumas vezes também podem ter origem mais rebuscada. Em O Salvador da Pátria, o personagem de Luiz Gustavo se popularizou ao repetir como locutor de rádio Meninos eu vi.

A expressão foi retirada do poema Y-Juca Pirama, de Gonçalves Dias, como conta o autor da novela Lauro César Muniz. “O próprio personagem se chamava Juca Pirama, como no poema. Aí tomei um verso e usei na história também”, confirma Lauro, que aponta esse como um dos bordões mais populares que já “criou”.

Outro que também já rendeu alguns bordões aos folhetins foi Jorge Amado. Ricardo Linhares lembra que, em Tieta, eles retiraram o termo “teúda e manteúda” do livro do autor porque acharam sonoro. “Mas ele caiu no gosto popular e o povo o transformou em bordão”, recorda o autor. É uma prova de que quem determina mesmo o que é um bordão é o público. Antes de ser falado por todos nas ruas, qualquer invenção de ator ou autor é um termo como outro qualquer.

Sem fórmulas

Não há uma receita que determine se um bordão dará certo ou não. Um dos atores que mais se utiliza desse recurso, Eri Johson conta que sugere vários enquanto faz uma novela, mas só alguns vingam.

Carioca, é nas rodas de amigos, nas ruas e nas periferias do Rio de Janeiro que ele busca inspiração. “Porque tem de ser popular, mas não pode ser mais importante do que o próprio personagem ou a história”, defende ele, que já eternizou “Fui”, “Uuuui” e “Bom te ver”, entre outros.

O ator explica que não é só a frase que importa. Uma certa musicalidade e o uso do mesmo tom, sempre, são determinantes. “As pessoas vão falar exatamente com a mesma entonação nas ruas”, explica.

Já Deborah Secco tem um exemplo de bordão malsucedido em sua carreira. E foi logo no início, em A Próxima Vítima, de 1995. Sua personagem, Carina, vivia falando por aí “Socorro!”. Mas o público não aprovou a idéia.

“Fui eleita a pior atriz do ano nessa ocasião. Acho que as pessoas se incomodaram com aquilo. Mas não era uma expressão criada por mim. A filha do Silvio de Abreu usava muito e ele resolveu colocar”, recorda a atriz.

Instantâneas

# Ricardo Linhares destaca que Mistério, termo eternizado por Miriam Pires em Tieta, também não era inicialmente um bordão. “Foi colocado em um diálogo qualquer. Mas a entonação que a atriz deu passou a ser repetida por todos”, conta o autor.
# Silvio de Abreu aponta os bordões mais famosos de suas novelas. “Ai Cacilda!”, do personagem de Ary Fontoura em Jogo da Vida; “Detesto pobre!”, da Tina Pepper de Regina Casé, em Cambalacho, além de “Tô podendo” e “Percebe?”, dos personagens de Claúdia Jimenez e Oscar Magrini em Torre de Babel.
# Miguel Falabella, que já criou tantos bordões em programas de humor, defende que nas novelas eles precisam ser dosados. Mas diz que alguns personagens já nascem completos. “Eu já imagino roupa, maquiagem, cabelo e bordão”, afirma o autor.
# Antonio Calmon diz que os bordões não são tão comuns em suas novelas. Mas elege “Meleca!”, dito por Naná, de Zezé Polessa, em Top Model, como um dos mais famosos. (Fonte: Terra).

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