Documentário traz de volta a saudosa TV Manchete - Confira o Teaser

sábado, 14 de fevereiro de 2009

MEMÓRIA DA TV - DRAMATURGIA: DE CORPO E ALMA


Autoria: Glória Perez
Direção: Roberto Talma, Fabio Sabag e Ivan Zettel
Direção geral: Roberto Talma
Período de exibição: 03/08/1992 – 06/03/1993
Horário: 20h30
Nº de capítulos: 185

Trama/ Personagens:
- Diogo (Tarcísio Meira) é um juiz íntegro, reconhecido profissionalmente, casado com a submissa Antônia (Betty Faria), com quem mantém uma relação de aparências, apenas para preservar a instituição da família. Diogo se apaixona perdidamente por Bettina (Bruna Lombardi), e os dois passam a ter um caso às escondidas. Decididos a assumirem de vez a paixão, Diogo e Bettina planejam uma viagem juntos, mas ele acaba não tendo coragem de abandonar Antônia e deixa a amante esperando no aeroporto. Ao perceber que está sozinha, Bettina se desespera e sofre um grave acidente de carro. Sua morte cerebral é diagnosticada, e seu coração é transplantado em Paloma (Cristiana Oliveira), uma jovem com sérios problemas cardíacos que só sobreviveria se conseguisse uma doação.
- Ao saber da morte de Bettina e do transplante de seu coração, Diogo, culpado, fica obcecado pela idéia de se aproximar de Paloma, achando que assim estará próximo do coração da mulher que amou. Paloma abandonara o noivo Tavinho (Hugo Gross) no altar para se casar com seu primeiro namorado, Juca (Victor Fasano). Juca, por sua vez, esconde dela que trabalha como striper na boate Clube das Mulheres. Diogo conhece Paloma, e os dois se envolvem. Ela se apaixona perdidamente por ele sem saber que ele fora amante de sua doadora.
- Apesar da felicidade pelo sucesso do transplante, a família de Paloma – o pai Domingos (Stênio Garcia) e a irmã Yasmin (Daniela Perez) – tem que enfrentar a perseguição da ardilosa Nárgila (Nathália Timberg). Mãe de Tavinho, Nárgila não se conforma com a crise depressiva que seu filho tivera depois de ter sido abandonado por Paloma. Para se vingar da moça, ela usa seu poder para tomar a casa e a transportadora de seu pai, fazendo com que a família passe por dificuldades financeiras. Domingos, Paloma e Yasmim se vêem obrigados a se mudar para o Méier, bairro da zona norte do Rio de Janeiro, e a se acostumar a viver com um padrão de vida simples.

Tarcísio Meira e Cristiana Oliveira. Jorge Baumann / TV Globo.

- Outro núcleo de personagens de destaque na história eram as famílias de Júnior (Aron Hassan) e Pingüim (Eduardo Caldas). Através deles, a novela discutiu sobre o direito de guarda de uma criança, explorado por Glória Perez em Barriga de aluguel (1990), também de sua autoria. Em De corpo e alma, a questão era entender o que acontece a um casal que descobre que a criança criada e educada por eles não é sua filha biológica. É o que Caíque (José Mayer) e Bia (Maria Zilda Bethlem), pais de Júnior, descobrem. Júnior tem a cor de pele bem mais escura que a de seus pais. Ao longo da história, descobre-se que o menino havia sido trocado na maternidade. Na realidade, o filho de Caíque e Bia é Pingüim, registrado por Terê (Neusa Borges) e Vado (Tonico Pereira), pais verdadeiros de Júnior. A trama envolvendo as duas famílias chamou atenção do público, ganhando maior destaque na novela.

Daniela Perez e Cristiana Oliveira. Jorge Baumann / TV Globo.

- Outro personagem importante em De corpo e alma é Reginaldo (Eri Johnson), um gótico, filho de Guiomar (Maria Regina), uma senhora que mora no Méier com a filha Sheila (Carla Daniel). Através de Reginaldo, a novela falava sobre o movimento gótico nascido na Alemanha durante a década de 1970.
- A questão dos ônibus piratas, muito em voga na época da exibição da novela, também foi tema em destaque. Decidida a recomeçar o negócio do pai, Paloma se associa a Bira (Guilherme de Pádua), e os dois colocam um ônibus ilegal para circular na zona norte do Rio de Janeiro.
- De corpo e alma mostrou também a inversão de papéis entre homens e mulheres através do núcleo de personagens da boate de strip-tease masculino. A novela falou sobre as aspirações do homem contemporâneo, como o direito de ser vaidoso, frágil e até sustentado pela companheira. Também estava em discussão a relação entre mulheres de diferentes idades com os chamados homens-objeto ou garotos de programa.

Victor Fasano e Cristiana Oliveira. Jorge Baumann / TV Globo.

- De corpo e alma apresentava ainda Edílson Vidal (Carlos Vereza), um homem misterioso que vai trabalhar como garçom no Clube das Mulheres, se aproxima de Juca e passa a ser uma espécie de mestre para o rapaz. Inteligente e intelectualizado, Vidal tem habilidade com as palavras e, com naturalidade, cita Platão, Kant e Nietszche em suas afirmações. Vidal exerce forte poder sobre Juca, manipulando o rapaz a tal ponto que ele começa a agir conforme a mente do garçom. Seguindo instruções de Vidal, Juca se aproxima de Stella (Beatriz Segall), uma mulher rica, ousada e independente que freqüenta o Clube das Mulheres. Stella e Juca iniciam um romance, e Vidal continua a manipular o rapaz, orientando suas atitudes. Ao longo da narrativa, o mistério envolvendo Vidal vai sendo desvendado. Na realidade, Vidal se aproximara de Juca com o objetivo de se vingar de Stella. Os dois se conheceram há trinta anos, quando Stella, já rica, usou seu poder de sedução com o jovem garçom. Ciente da paixão de Vidal, Stella fez dele gato e sapato, abusando de seu amor e devoção. Nessa mesma época, Vidal envolveu-se com o jogo clandestino e acabou preso. Ao sair da prisão, resolve se vingar da mulher que o desprezou e vê em Juca a peça ideal para seu jogo. No último capítulo da novela, depois de ser denunciado por Juca, Vidal é perseguido pela polícia. Sem alternativa de fuga, ele se joga dos Arcos da Lapa e morre, em uma das cenas mais marcante da novela.

Cristiana Oliveira. Jorge Baumann / TV Globo.

- Em 28 de dezembro de 1992, uma tragédia abalou a equipe envolvida na novela. A atriz Daniela Perez, filha da autora, e interprete da personagem Yasmin, foi assassinada pelo ator estreante Guilherme de Pádua, que vivia o personagem Bira, com quem Yasmin tinha um romance. Durante os sete dias após o crime, os autores Leonor Bassères e Gilberto Braga assumiram a responsabilidade de escrever os capítulos e apresentar uma alternativa para o desaparecimento dos dois personagens. Depois de uma semana, Glória Perez retomou o trabalho e conduziu a novela até o fim. A autora incluiu mais dois assuntos polêmicos na trama: a morosidade da Justiça e a inadequação do Código Penal.
- Ao final do primeiro capítulo de De corpo e alma sem Daniela Perez, os atores e o diretor Fabio Sabag prestaram uma homenagem à atriz com depoimentos gravados. Uma viagem de estudos foi a solução encontrada pelos autores para explicar a saída de Yasmin da história. Bira simplesmente deixou de existir.

Produção:
- A produção de arte trabalhou em parceria com a cenografia na composição dos hospitais que apareciam em cena. A equipe reproduziu setores hospitalares, como emergência, CTI e quartos, além de todos os objetos usados em atendimentos de acidentados, cardíacos e transplantados.
- O cenário do Clube das Mulheres também exigiu rigor. A iluminação necessária para dar o clima do ambiente exigiu a produção de uma forte estrutura de aço que suportasse a quantidade de refletores. As cenas contavam com cerca de 150 figurantes, além dos atores.
- O ator Victor Fasano contou com aulas especiais para desenvolver as coreografias que seu personagem dançava no Clube das Mulheres.
- Glória Perez contou com o apoio das pesquisadoras Jussara Xavier e Adriana Tayah para desenvolver os temas abordados pela história. A equipe de pesquisa obteve informações médicas – inclusive no que se refere ao transporte de órgãos – e jurídicas imprescindíveis à trama.
- A equipe de produção também pesquisou sobre hábitos e comportamento de moradores do subúrbio carioca, onde se passava boa parte da história.

Aron Hassan, José Mayer e Eduardo Caldas. Jorge Baumann / TV Globo.

Curiosidades:
- De corpo e alma marcou a estréia de Cristiana Oliveira na Rede Globo, depois do sucesso como Juma Marruá na novela Pantanal, da extinta TV Manchete, exibida em 1990.
- A novela teve co-produção de uma emissora portuguesa, a Sociedade Independente de Comunicação (SIC). Na época, a Rede Globo era detentora de 15% das ações do canal português. A novela foi exibida simultaneamente em Portugal.
- De corpo e alma foi exibida na Bolívia, Chile, Costa Rica, Equador, Guatemala, Honduras, Líbano, Macau, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela.

Trilha sonora:
- Destaque para as músicas Atrás da porta, de Francis Hime e Chico Buarque, na voz de Elis Regina, e Fora da ordem, de Caetano Veloso.

Aron Hassan e Eduardo Caldas. Jorge Baumann / TV Globo.

Merchandising social:
- Ao abordar a questão de transplantes de órgãos, Glória Perez mostrou as dificuldades que os pacientes enfrentam para obtenção do órgão, as dificuldades da própria doação, a rejeição e os problemas entre as famílias de doadores e receptores. Na semana de estréia da novela, o Instituto do Coração (Incor), em São Paulo, que estava há dois meses sem uma única doação, recebeu nove órgãos para transplante.

  • No decorrer da novela, a jovem atriz Daniella Perez, filha da autora Glória Perez, foi brutalmente assassinada pelo seu colega de elenco, Guilherme de Pádua e pela mulher dele, Paula Nogueira Thomaz, na fatídica noite do dia 28 de dezembro de 1992, uma segunda-feira.
    Arquivo
  • Durante a semana seguinte ao crime, Gilberto Braga e Leonor Bassères, assumiram a responsabilidade de escrever os capítulos e dar uma solução para o desaparecimento dos personagens.
  • As últimas cenas de Daniela Perez como Yasmin, na novela, foram ao ar no último bloco do capítulo 146, no ar em 19 de janeiro de 1993, uma terça-feira. Ao final deste capítulo, os atores do elenco e o diretor Fábio Sabag, prestaram uma homenagem à atriz, com depoimentos gravados, e a história prosseguiu. A saída de Yasmin da novela foi explicada com uma viagem de estudos, uma vez que a personagem era dançarina. Já o personagem Bira simplesmente deixou de existir. Estas cenas seriam inseridas como a última cena do último capítulo, fechando a novela.
  • O assassinato da atriz teve repercussão em outros países. Guilherme de Pádua e a mulher, Paula Thomaz, foram julgados e condenados a 19 anos e 6 meses de cadeia por homicídio duplamente qualificado e praticado por motivo torpe. Cumpriram sete.

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