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sábado, 7 de fevereiro de 2009

Sob pressão

Para estudantes chineses, o vestibular local - o gaokao - é uma oportunidade de ascensão. Por isso, são pressionados pelas famílias desde pequenos

A idéia de que a primeira infância deve ser preservada do mundo competitivo não é muito popular na China. Lá, a pressão escolar sobre as crianças começa já no maternal. Um fenômeno ligado ao número elevado de alunos e à política do filho único, que faz com que as famílias não se dêem o direito de errar. A finalidade: passar no gaokao, o vestibular chinês, prêmio supremo para os estudos superiores.

Aos cinco anos, Wang Xiaoyou já tem uma agenda de ministra. Além da escola maternal, ela faz aulas de patins, natação, inglês e está matriculada num "MBA júnior", programa pelo qual aprende a se exprimir em público, no palco, filmada e com um microfone na mão, a fim de vencer a timidez. Sua mãe, Lu Wei, funcionária de um instituto de urbanismo de Shangai, gostaria de ver a única filha estudar, mais tarde, numa das melhores universidades do país. Decidiu apostar tudo na menina, desde a mais tenra idade. E reconhece: "Se os pais vêem que um amigo de seu filho está num curso de música, eles pensam imediatamente: por que não o nosso filho?".

Os alunos levam nos ombros as esperanças de pais dispostos a qualquer sacrifício para que os filhos alcancem os objetivos estabelecidos por eles, pais. O sistema educativo chinês só faz exacerbar essa pressão. Do colégio à universidade, os estabelecimentos são classificados em três categorias, segundo a qualidade do ensino. Obrigatória dos seis aos 15 anos, a escolaridade do jovem chinês é balizada por exames, até a última prova, para os melhores: o gaokao, "prova comum de seleção dos colegiais", porta de entrada das universidades.

As taxas de admissão ao vestibular chinês aproximam-se dos 55%, mas, ao final, apenas 15% dos alunos de uma classe chegam ao ensino superior (na França, mais de 60% deles passam no vestibular). Mais do que um exame, o gaokao é um verdadeiro concurso. As universidades abrem suas portas a um número limitado de alunos e segundo suas próprias cotas, fixadas no nível de cada província e de cada disciplina.

Trampolim ou abismo

Entre 7 e 9 de junho de 2008, 11 milhões de jovens chineses realizaram as cinco provas que compõem o exame: chinês, inglês, matemática, uma opção dominante literária ou científica, e uma prova de síntese transdisciplinar. Para muitos, os três dias do que apelidam de Black june (junho negro) são os mais importantes de suas vidas.

Segundo uma sondagem do Ministério da Educação chinês e do Jornal da Juventude da China, 89,6% dos colegiais estimam que seus destinos podem mudar em função dos resultados do concurso, que representa o único trampolim para os jovens do campo.

"Era a faculdade ou ser chofer de táxi", estima Lu Da, funcionária administrativa numa universidade de Shangai, que, por milagre, passou em 1999 no gaokao, já que vinha de uma província - a Mongólia interior - com pouca reputação. O problema crescente do desemprego dos novos diplomados não muda nada (60% entre eles penaram para encontrar um trabalho): o concurso continua a ser percebido como uma passagem obrigatória para o sucesso social. Toda a escolaridade de um jovem chinês - em particular nos anos de colegial - é voltada para o "prêmio" tão desejado. Essa preparação sai freqüentemente do quadro escolar para invadir a vida particular, e as aulas particulares e outras revisões substituem os passeios.

Zhu Ge, 19 anos, aprovado no gaokao em 2008, lembra: "Desde os 3 ou 4 anos, eu estava matriculado em diversas atividades de estimulação, como aulas de piano. Mas na escola decidi me preparar para o exame sem aulas particulares, contrariamente a muitos de meus colegas. É muita pressão, pois durante três anos, milhões de jovens chineses fazem todos a mesma coisa ao mesmo tempo e com o mesmo objetivo. Antes de todo simulado, cada um tenta saber o tempo que os outros levam para revisar e para saber quem trabalha duro, e assim calcular suas chances".

Ao sol, na grama de um campus universitário de Shangai, Xiang Xi, uma jovem arquiteta, lembra-se das palavras dos professores do colégio: "Não é uma competição com seus colegas, mas com os estudantes de seu país".

Restabelecido por Deng Xiaoping em 1977 (depois da Revolução Cultural), o seletivo gaokao, ao lado da política do filho único instaurada dois anos mais tarde, permitiu à China dotar-se de uma elite, hoje em seu comando.

Não sem efeitos colaterais: o suicídio é a principal causa de morte entre os chineses de 15 a 34 anos. A forte taxa de depressão entre os jovens parece resultar do aumento do estresse ligado às mutações rápidas da sociedade chinesa, em que pressão e concorrência estão onipresentes. Em 2007, um estudo conduzido pela universidade de Pequim indicava que 20% dos 140 mil estudantes interrogados já haviam pensado em se suicidar e que 6,5% continuavam pensando nisso.

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