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quarta-feira, 4 de março de 2009

Por que os brasileiros estão fascinados pela Índia

Adrian Pope
REDESCOBERTA
Os brasileiros se encantam com as tradições milenares indianas, das belas roupas, como o sári, às diferentes práticas religiosas do hinduísmo, como a meditação e a ioga

O Brasil descobriu a Índia. Na novela, no cinema, na moda, multiplicam-se as evidências de que o Brasil, assim como o resto do mundo, encantou-se com esse país que combina uma das mais antigas civilizações do planeta a uma das sete maiores economias do mundo. Na semana passada, o longa-metragem indiano Quem quer ser um milionário? ganhou oito estatuetas do Oscar. Rodado em Mumbai, maior metrópole do país, o filme teve um orçamento de US$ 18 milhões e a bilheteria mundial já atingiu US$ 100 milhões. Ele conta a história de um garoto que sai da favela e torna-se um astro da televisão para poder casar-se com a moça que ama. É uma fábula do Terceiro Mundo com final feliz. O filme estreou na semana passada no Brasil, engrossando a onda indiana criada pela novela Caminho das Índias, da Rede Globo.

Assim como o filme, a novela tem no centro da trama o amor romântico. Desta vez, em torno de um triângulo: a filha de uma família tradicional hindu é prometida a um jovem da mesma casta de comerciantes. Mas ela vive um amor proibido por outro jovem, de uma casta inferior. Seu noivo também não está feliz com o arranjo. Em viagem ao Brasil, ele se apaixonou por uma jovem carioca, que não consegue compreender por que os dois não podem ficar juntos.

A novela e o filme apresentam aos brasileiros um mundo que eles desconhecem quase inteiramente, mas pelo qual demonstram grande interesse. A cultura espiritual indiana, que deu ao mundo o budismo, a ioga e o pacifismo de Mahatma Gandhi – para ficar em três exemplos –, tem sido consumida no Brasil com avidez. A atriz Juliana Paes, protagonista de Caminho das Índias, afirma que, depois de um mês de filmagens no país, tornou-se mais paciente e passou a praticar ioga. “Minha família é toda espírita, e um dos preceitos do espiritismo é a resignação, você aceitar a cruz que carrega”, diz ela. Há nesse sentimento um eco da tradição conformista do hinduísmo. Para a carioca Paula Saboya, é o sagrado da cultura da Índia que traz encantamento. “A religiosidade e o simbolismo presentes viram nossa mente pelo avesso porque dão sentido à vida, aos acontecimentos”, afirma. Paula tem 42 anos e passou seis meses na Índia estudando ioga.

Em 2000, Paula Ornelas, outra carioca, tinha 25 anos quando resolveu fazer uma viagem à Índia entre seu mestrado e seu doutorado em física experimental. Acompanhada de amigos, visitou um ashram, espécie de comunidade espiritual, de Sai Baba, um dos mais cultuados gurus indianos. “Eu era uma cientista cética, mas sempre fui extremamente curiosa”, diz Paula. “Minha vida se transformou completamente. Tudo o que eu via e ouvia dava sentido a minha existência”. A viagem de três semanas se transformou numa estada de dois meses. Ela largou a universidade, a bolsa de pesquisas e um namoro de cinco anos. Depois de várias viagens à Índia, Paula Ornelas chegou a se casar com um indiano com quem veio para o Brasil. Hoje, separada, ela é professora da filosofia vedanta, oriunda do hinduísmo. Para ela, essa cultura trouxe outro jeito de pensar e agir. “Sempre tento entender o outro, as diferenças. Sou mais tolerante e tenho mais capacidade de aceitação do que acontece comigo”, diz.

A religiosidade e a forma de entender o mundo dos indianos fascinam os brasileiros, mas não é só isso. “Somos nostálgicos de muitos valores que a cultura indiana reverencia: o respeito à vida, aos mais velhos, a sede de instrução, a força dos valores éticos e tantos outros”, afirma Glória Perez, autora de Caminho das Índias. Os indianos, assim como outros povos orientais, agem e pensam em grupo e têm a família como seu eixo principal. Pelos seus costumes, a família é responsável pelos casamentos e por pesquisar os antecedentes do futuro pretendente. O hábito é comum mesmo entre indianos e seus descendentes que vivem em países distantes. Para seguir a tradição, Karuna Daswani, relações-públicas, de 26 anos, filha de indianos e que nasceu no Brasil, pretende se casar com um indiano. “Não sei se me casaria com um brasileiro. Minha família por parte de pai é muito tradicional e não permitiria”. O entendimento dos costumes e da religião também pesa na decisão. Além de ser indiano, o futuro marido deve pertencer à mesma casta – no caso de Karuna, a sindhi. Cada casta tem hábitos e orações diferentes. “Se eu escolher um sindhi para me casar, meus avós podem pesquisar a família do futuro marido com mais facilidade. Se for de outra subcultura, as informações são mais fechadas, e o casamento às vezes nem é aceito”, diz.

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