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quarta-feira, 25 de março de 2009

Opinião: pais devem preparar filhos antes de separação

Quando possível, criança deve ser ouvida sobre com quem quer ficar.
Para psicóloga, bem-estar dos pequenos fica acima de direitos dos adultos.
Foto: Arte G1

Bem-estar das crianças deve ser levado em conta

Há um bom tempo temos acompanhado histórias de algumas crianças pela mídia que deixam a todos estupefatos. Como a do garoto Sean Bianchi Goldman. Esse rapazinho tem apenas nove anos e já viveu coisas demais: é filho de pai americano e de mãe brasileira; com apenas quatro anos deixou seu lar nos Estados Unidos; aos nove perdeu sua mãe; e atualmente é alvo de uma disputa entre dois países, Brasil e Estados Unidos (ele é cidadão dos dois).

Cada país considera que o menino lhe pertence. Assim como seus familiares: de um lado seus avós maternos e padrasto e do outro seu pai biológico. É muito provável que Sean preferiria ter os velhos e bons problemas infantis – estudar para a prova, ciúme de sua irmã, brigar no futebol por causa de um gol anulado. Ou aquilo que se imagina ser uma infância normal.

Esse caso, embora todos estejam acompanhando devido ao espaço que tem na imprensa, não é único. Não pela sua característica de envolver duas nações, porque há várias crianças filhas da globalização, mas pelo fato de ser uma história que nem sempre contempla o menor.

Quando duas pessoas se unem pelo amor, a percepção que têm é de que tudo é lindo. A paixão que os move faz com que percam um pouco o parâmetro das coisas. A história de amor que gerou Sean já começou de uma maneira diferente, onde alguém deixou seus sonhos pessoais para se unir a outro alguém, de cultura diferente e longe de sua terra.

Se um casamento dentro da mesma cultura não é algo simples, envolvendo diferenças grandes, como esse, é ainda mais complicado. E foi o que aconteceu. O que deve ter se agravado após a chegada do garotinho.

Ter um filho não é coisa simples. Longe de sua família, mais ainda. A maioria dos casamentos balançam quando o primeiro chega e muitos se desfazem. Diria que a maternidade e a paternidade são a prova de fogo para muitas uniões.

A história que começou meio atrapalhada, continuou assim. Um belo dia, uma das partes resolveu, durante as férias em seu país de origem, pedir o divórcio – que é um direito de qualquer um. Mas, até que ponto pensou-se no bem-estar do menino? Como ele foi preparado para essa separação? Qual a fantasia que criou sobre aquele que não via mais? O quanto isso foi pensado e amadurecido? Que consideração se teve por aquele que ficou?


Uma boa confusão deve ter se formado na cabecinha dele, que estava com apenas quatro anos. E hoje essa disputa não está ajudando muito. Qual será a dificuldade dos adultos de conversarem e chegarem a um entendimento – por si e principalmente em prol dos filhos?

É preciso começar perguntando o que é melhor para a criança quando se entra em uma disputa pela sua guarda. O que é melhor e o que se pode fazer. Geralmente a criança é vista como uma coisa. Disputada por amor, mas principalmente por uma questão de honra, onde se medem forças para ver quem fica com o bem maior. Quem tem mais direito. Os deveres para com o pequeno ficam esquecidos.

Dever de protegê-lo, de dar-lhe um lar seguro, de ter um pai e uma mãe.
Isso faz lembrar a história do Rei Salomão que viveu há 3 mil anos e reinou em Israel. Segundo consta, ao receber duas mulheres que disputavam o mesmo bebê, ordenou que o mesmo fosse cortado ao meio, cabendo metade a cada uma. Diante disso, uma delas chorando, disse que preferia ficar sem seu bebê ao vê-lo morto. Salomão não teve dúvida quanto a ser ela a verdadeira mãe.

Amar é também saber abrir mão do objeto amado, que não é o mesmo que abandoná-lo e riscá-lo de sua vida. No caso de Sean, o melhor é que ele seja ouvido sobre o que gostaria para sua vida: ficar com o pai ou com sua família brasileira. Jamais ser forçado a viver longe daqueles que o criam hoje. O bem-estar das crianças deve estar acima dos direitos dos adultos. As confusões não são elas que criam.

(Ana Cássia Maturano é psicóloga e psicopedagoga)

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