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quarta-feira, 25 de março de 2009

Conheça a nova e a velha face da Alemanha, 20 anos depois da queda do muro de Berlim

Alemanha - Foto Luciana Brum

BERLIM - Logo após o fim da Segunda Guerra, em 1948, o cineasta Roberto Rosselini empunhou sua câmera sobre uma Berlim devastada para registrar os escombros físicos e morais no filme "Alemanha ano zero". Mal reerguida das ruínas, a cidade fundada no século XIII, e que só no século XIX chegou ao posto de capital, foi obrigada a se reinventar novamente apenas 13 anos mais tarde, quando seu território - assim como o país e o mundo - foi dividido em dois blocos políticos e ideológicos.

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Com a queda do muro, em 9 de novembro de 1989, a cidade se viu diante de um novo "ano zero". E recomeçou mais uma vez sua História, preenchendo os espaços vazios com as linhas arrojadas dos principais arquitetos da atualidade. O passado, no entanto, não foi soterrado sob os novos prédios de vidro e aço. É mais lembrado do que nunca no ano em que se completam 20 anos do fim da linha de concreto. No extenso calendário de eventos programado para comemorar o feito, em vigor desde janeiro, Berlim chega a apontar com uma gigante seta vermelha endereços que testemunharam suas muitas mudanças ao longo do século XX. Mas recomeços não fazem parte da trajetória apenas da capital. Dresden, na antiga República Democrática Alemã, e Hamburgo, na banda ocidental, encontraram outras maneiras de ressurgir das cinzas. Num roteiro pelas três cidades, vê-se com quantos "anos zero" se fez a História do país.

Em Berlim, sobraram da barreira onde centenas de pessoas morreram tentando escapar para o lado ocidental alguns trechos - parte usada como museu ao ar livre, caso daquele da Bernauerstrasse, outras transformadas em galerias de arte, como a East Side Gallery, na Mühlenstrasse, às margens do Rio Spree - e muitos pedacinhos embalados para presente nas lojas de suvenires da Friedrichstrasse, onde estão à venda por 5 euros, em média.

Alemanha - Foto Luciana Brum

Na rua hoje tomada pelo comércio, uma placa remete o visitante aos tempos da divisão, na altura da esquina com a Zimmerstrasse. Diz, em inglês, russo, francês e alemão, que "Você agora está deixando o setor americano". Resquício do antigo Checkpoint Charlie, posto de imigração aberto exclusivamente a estrangeiros, onde tanques americanos e soviéticos chegaram a ficar cara a cara.

A pequena casinha branca é similar à original, já o entorno... O espaço então desolado está hoje atulhado de bares e lojas de lembrancinhas, além dos Trabant, carro-ícone da RDA, que ali se encontram às dezenas, em ofertas de tours. Da época da barreira ficou também o Museu do Muro, fundado apenas um ano depois do próprio, em 1962. Gerenciado por um grupo que ajudava alemães orientais a atravessar a fronteira, tem um acervo de apetrechos usados nas fugas. Na região, também, pode-se alugar um Mauer Guide (ou guia do muro), áudio-guia com GPS que orienta o turista pelos trechos ainda de pé.

Embora tenha tido seu momento mais expressivo em Berlim, a revolução pacífica que culminou na reunificação da Alemanha começou mais embaixo, na então comunista Saxônia. Ao lado de Leipzig, Dresden foi um dos principais palcos das manifestações, onde a população se reunia às segundas-feiras para exclamar "Nós somos o povo" e pedir o fim do regime ditatorial.

Unidas no desejo do retorno à democracia, as trajetórias de Berlim e Dresden são bastante diversas em praticamente todo o resto. Em especial na maneira como se reconstruíram após a Segunda Guerra. Enquanto a primeira optou por seguir em frente, assumindo uma cara nova, a segunda reergueu-se praticamente caquinho por caquinho. E olhe que caquinho não faltava após 14 de fevereiro de 1945, quando acabou um bombardeio de dois dias pelos Aliados que arrasou a capital da Saxônia e matou 135 mil pessoas.

E os prédios de Dresden não são quaisquer prédios. São reminiscentes barrocos do esplendor da Saxônia sob Augusto, o Forte, entre os séculos XVII e XVIII. Um dos primeiros conjuntos renovados foi o do Zwinger, pátio erguido pelo monarca para as festas de sua corte cercado de construções abundantes nos rococós que hoje funcionam como museus. Está lá, por exemplo, a Gemäldegalerie Alte Meister (ou Galeria dos Velhos Mestres), onde se pode ver a impressionante "Madonna Sistina", de Rafael, acima dos anjinhos que se tornaram símbolos da cidade. E também a coleção de porcelanas do monarca, tão fanático pelo material que chegou a trocar 400 soldados por 150 peças com o rei da Prússia, que não por acaso, logo depois, dominaria a Saxônia.

Berlim - info-box do projeto Perspectivas, em comemoração aos 20 anos da queda do muro. FOTO / Divulgação

Enquanto Berlim viu sua paisagem mudar a cada novo regime, Hamburgo, no Norte da Alemanha, foi obrigada a ressurgir duas vezes. A primeira em 1842, quando um incêndio destruiu um terço de seu território - daí os prédios mais antigos serem datados do século XIX - e a segunda em 1943, após metade da cidade ser arrasada por um bombardeio dos Aliados durante a Segunda Guerra. A reconstrução começou após a partilha da Alemanha, quando Hamburgo ficou sob domínio inglês - daí a profusão de construções em estilo neo-Tudor nas áreas mais nobres.

A Livre e Hanseática Cidade de Hamburgo (esse é o nome oficial) passou relativamente incólume pelos transtornos decorrentes da queda do muro. Dona do status de estado e de uma proeminência comercial de pelo menos um milênio, está mais preocupada com o aniversário de seu porto do que com os 20 anos da queda do muro de Berlim. Bem poderia ter se contentado com a recuperação da clientela do Leste alemão após a reunificação, mas aproveitou a onda de mudanças para reinventar-se, passar de destino comercial a turístico. Para alcançar a meta, investiu não apenas numa nova atração, mas numa nova "cidade".

Erguida às margens do Rio Elba, numa região vizinha aos antigos depósitos do porto, cortada por canais, HafenCity começou a ser construída em 1997 e deverá ser terminada em 2025, quando tornará o perímetro do centro da cidade 40% maior. A estimativa é de que seja local de trabalho de cerca de 40 mil pessoas e residência de 12 mil. Hamburgo espera ainda atrair pelo menos três milhões de turistas por ano a seu novo bairro, usando como iscas atrações do porte do Elbe Philharmonic Hall, palco para concertos com inauguração prevista para 2012; do Science Center, supercentro de experiências interativas dedicado às ciências naturais, cujo projeto foi assinado pelo arquiteto holandês Rem Koolhaas, e do Museu Marítimo Internacional, com mais de seis mil modelos de navios, atlas e equipamentos náuticos. Os passeios de barco pela área já são um hit.

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