Colaboração: Edmara Barbosa e Edilene Barbosa
Direção: Luiz Fernando Carvalho, Carlos Araújo, Emílio di Biasi e José Luiz Villamarim
Direção de núcleo: Luiz Fernando Carvalho
Período de exibição: 17/06/1996 - 14/02/1997
Horário: 20h30
Nº de capítulos: 209
- Dividida em duas partes, O rei do gado conta o conflito familiar de gerações entre os Mezenga e os Berdinazi, imigrantes italianos que fizeram fortuna no Brasil com plantações de gado e café, respectivamente.
- Em 1943, durante o período de decadência do café, a bela Giovanna (Letícia Spiller) vive sob ostensiva vigilância dos pais, Marieta (Eva Wilma) e Giuseppe Berdinazi (Tarcísio Meira). Apesar disso, a moça descobre a paixão nos braços de Henrico (Leonardo Brício), filho de Nena (Vera Fischer) e Antônio Mezenga (Antônio Fagundes), inimigos ferrenhos de sua família.
- Antônio Mezenga é um homem forte, determinado e sofrido. Teve o pai morto na travessia de navio da Itália para o Brasil, no final do século XIX. Conquistou sua lavoura de café com muito sacrifício e costumava vangloriar-se de suas origens e obstinação dizendo: “meu pai emprenhô minha mãe debaixo de um pé de oliva, na Itália, e ela me pariu aqui, debaixo de um pé de café”.
- Giuseppe Berdinazi, pai de Giovanna, é igualmente passional ao defender seus interesses. Também imigrante italiano e proprietário de uma fazenda de café, vive em guerra declarada com o vizinho Mezenga, por causa de uma faixa de terra na divisa das duas fazendas. É um pai severo, porém carinhoso.
Espera que os cinco filhos nutram pelos Mezenga o mesmo ódio que o corrói. Por isso, sofre grande desgosto quando Giovanna declara seu amor por Henrico. Dispõe-se a aceitar o casamento apenas pela promessa de receber o pedaço de terra que disputa há anos. Mas, o acordo não é cumprido, e Berdinazi tranca a filha em casa, a sete chaves. O esforço é em vão, Giovanna foge com o marido. Berdinazi termina seus dias louco, inconformado com a traição da filha e com a morte de Bruno (Marcello Antony), seu filho mais velho, na Segunda Guerra, durante a tomada do Monte Castelo, na Itália.
- Giovanna e Henrico fogem e começam uma vida longe das famílias e dos cafezais. O primeiro emprego de Henrico é como peão boiadeiro numa pequena fazenda. Aos poucos, o rapaz começa a criar o próprio rebanho, e Giovanna dá à luz um menino.
- A segunda fase da novela começa no final do sétimo capítulo, em 1996, quando o filho de Henrico e Giovanna já é um rico proprietário de terras e proprietário de milhares de cabeças de gado. Conhecido por todos como o “rei do gado”, ele chama-se Bruno Berdinazi Mezenga (Antônio Fagundes), em homenagem ao tio que morrera na Segunda Guerra Mundial. Com as referências do pai, escolheu o sobrenome Mezenga para sua assinatura, deixando de lado o Berdinazi e a história de sua família materna. É um obstinado pelo trabalho, querido por seus amigos e empregados.
- Outro personagem de grande importância na segunda fase de O rei do gado é Geremias Berdinazi (Raul Cortez), irmão de Giovanna. Também rico e poderoso, seus negócios estão ligados à cafeicultura e à produção de leite. Apesar de muito bem sucedido, é um homem cheio de culpa por ter construído seu império traindo a família. Primeiro, unira-se ao irmão Giácomo Guilherme (Manoel Boucinhas) para roubar as terras da mãe e da irmã.
Depois, roubara também o irmão, deixando que ele morresse na pobreza. Arrependido, vive ansioso para encontrar um herdeiro, já que não reconhece Bruno Mezenga como seu sobrinho. Por isso, Geremias recebe Marieta (Glória Pires) comovido e sem defesas, quando ela aparece surpreendentemente e se apresenta como sua sobrinha, filha de Giácomo.
- Judite (Walderez de Barros) é a fiel criada de Geremias. Leal e muito ciumenta, ela compra briga de imediato com Marieta, certa de que a moça é uma impostora disposta a roubar a fortuna de seu patrão.
- Entre o grupo de sem-terra está a bela e valente Luana (Patrícia Pillar), a verdadeira sobrinha de Geremias. Sobrevivente de um acidente que matou sua família, Luana desconhece a própria origem.
Já no primeiro encontro, ela desperta o amor de Bruno, que a emprega numa de suas fazendas. Tratada com a dignidade e o carinho que nunca tivera, Luana se encanta por Bruno, e os dois se envolvem numa forte história de amor. Juntos, passam por duras adversidades, até que Luana engravida e desperta a ira de Léia, que vê ameaçada sua parte na herança do marido.
- Em determinado momento da trama, o avião que levava Bruno Mezenga cai na região do Araguaia, e ele desaparece. O co-piloto é encontrado morto. São dezoito capítulos de angústia e suspense, até que ele reaparece, às margens do rio Araguaia.
- No final da novela, Luana e Bruno têm um filho. Luana o convence de usar o “Berdinazi” no sobrenome da criança, Felipe Berdinazi Mezenga.
- Depois de muitas disputas por terras e pela história das famílias Berdinazi e Mezenga, Bruno e Geremias se reconciliam, em cenas muito emocionantes. Geremias também reconhece Luana como sobrinha, e as duas famílias se enlaçam, num clima de alegria e pressa de viver a harmonia sempre adiada.
- Judite e Geremias terminam juntos, num romance inesperado, cheio de ternura e cumplicidade. Numa das últimas cenas da novela, ela enche a banheira e se deita sob a espuma, cantarolando Mama bem alto. Ele aproxima-se intrigado com tamanha animação e a recrimina. Ela tenta seduzi-lo, puxando-o para dentro da banheira, e ele desabada dentro d’água. Os dois se abraçam numa festa, e a câmera vai mostrando as roupas dele sendo jogadas para fora da banheira.
- Na última cena, sobe sobre milhões de pés de café, lavouras de soja, milho e cana de açúcar um letreiro que diz: "Deus, quando fez o mundo, não deu terra pra ninguém, porque todos os que aqui nascem são seus filhos. Mas só merece a terra aquele que a faz produzir, para si e para os seus semelhantes. O melhor adubo da terra é o suor daqueles que trabalham nela”. E a câmera volta em Bruno Mezenga e Geremias Berdinazi, em meio àquele imenso cafezal, como se os dois estivessem discutindo, e deixa a pergunta: vai começar tudo de novo?
Curiosidades:
- Paralelamente à história romântica da primeira fase de O rei do gado, Benedito Ruy Barbosa faz o retrato de uma época que viveu pessoalmente. Na juventude, o autor morou em fazendas e acompanhou o recebimento do café, aprendeu a selecionar os grãos, conferir o peso, ver a amostragem das impurezas e o tempo da broca, tudo que mostrou na novela.
- Stênio Garcia conta que um grupo de atores – formado por ele mesmo, Bete Mendes, Antônio Fagundes, Patrícia Pillar e outros –
foi escalado para passar um tempo no Mato Grosso. Ele diz que, ali, foi construindo seu personagem, que tinha, junto com o de Bete Mendes, a responsabilidade de representar na novela o clima bucólico típico da vida rural brasileira. Para isso, eles pesquisaram a região, suas paisagens e os tipos humanos. Segundo Stênio Garcia, ao trabalhar sobre a foto de Zé das Águas – um habitante local sobre quem os passarinhos gostavam de pousar –, ele pôde vislumbrar um personagem já realizado. A imagem fora um presente do poeta Manoel de Barros ao ator.
- Antônio Fagundes conta que foi prometido ao elenco um intervalo de pelo menos um mês entre as duas fases da novela. Como ele fazia o avô na primeira e o neto na segunda, engordou para o primeiro personagem e esperava perder peso neste tempo de descanso entre uma e outra fase. Mas, para a surpresa de todos, o intervalo foi de apenas doze horas.
Segundo o ator, foram cerca de três meses para que ficassem prontos os sete capítulos da primeira fase, tamanho o capricho e a dedicação da equipe.
- O rei do gado estreou dois meses depois da morte de 19 trabalhadores sem-terra no conflito de Eldorado dos Carajás. A reforma agrária e a vida do Movimento dos Sem Terra (MST) foi abordada pela primeira vez numa telenovela. O tema teve grande repercussão na mídia e na sociedade em geral.
- Em determinada cena, o senador Roberto Caxias fazia um discurso emocionado sobre os sem-terra, e no plenário estavam apenas três senadores – um cochilando, outro lendo jornal e o terceiro falando ao celular. No dia seguinte, o então senador Ney Suassuna subiu à tribuna do Senado para protestar contra o que classificou de “distorção da realidade”. Segundo ele, a cena induzia a população a acreditar que não havia senadores honestos no país.
- O rei do gado conquistou excelentes índices de audiência e ganhou o Troféu Imprensa de melhor telenovela. A produção recebeu o Certificado de Honra ao Mérito no San Francisco International Film Festival, concorrendo com 1.525 produções de 62 países. Além disso, a Divisão Internacional da Rede Globo fez da primeira fase da novela uma minissérie, especialmente destinada ao Festival Banff, do Canadá. Giovanna e Henrico foi selecionada como obra hors-concours, entre 720 produções, de 38 países.
- Argentina, África do Sul, Canadá, Cuba, Grécia, Nicarágua, Noruega, Polônia e Rússia foram alguns dos mais de 30 países que exibiram O rei do gado.
- Entre 15 de março e 13 de agosto de 1999, a novela foi reapresentada no Vale a pena ver de novo.
Trilha sonora:
- Foram lançados dois CDs da novela, O rei do gado 1 e 2. Juntos, garantiram a maior vendagem de cópias de trilhas de novelas até então. Os destaques eram Rei do gado, da Orquestra da Terra, como tema de abertura; Coração sertanejo, de Neuma Morais e Neon Morais, interpretada por Chitãozinho e Xororó, tema de Bruno Mezenga; Admirável gado novo, composta e cantada por Zé Ramalho, como tema dos trabalhadores sem-terra; La forza della vita, composição e interpretação de Renato Russo, tema do senador Caxias; e Correnteza, de Tom Jobim e Luiz Bonfá, cantada por Djavan, tema de Luana. A dupla Pirilampo e Saracura assinou sete das doze canções do segundo CD.
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