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segunda-feira, 2 de março de 2009

Crise financeira atrapalha até o sexo

Rob Bennett
VIÚVAS DE WALL STREET
Integrantes do grupo de mulheres americanas cujos parceiros estão em recessão. Sem sexo e sem viagens caras

Apesar de não ter dinheiro aplicado em ações, não acompanhar as notícias econômicas e continuar empregada, a secretária Andreza Furquin, de 32 anos, está sofrendo com a crise financeira. Sua vida sexual está em recessão desde o ano passado, quando os negócios de seu marido, um empresário do setor automotivo, começaram a derrapar. “Ficávamos semanas sem sexo. Às vezes, ele até tinha uma ereção, mas que não funcionava direito, se é que você me entende”, diz ela. Desconfiada de que estaria sendo traída, pressionou o parceiro e descobriu que eram as preocupações no trabalho que o estavam colocando para baixo. Para evitar a falência do casamento, Andreza o convenceu a procurar ajuda. “A coisa ainda não está 100%, mas melhorou”, afirma ela.

Outro que teve mais que a conta bancária afetada pela turbulência econômica foi o empresário paulistano do setor alimentício que prefere ser identificado como Guto, de 37 anos. Ele conta que o problema começou há dois meses, quando, com as vendas, seu desempenho sexual despencou. “Eu já estava em uma situação de estresse desde o começo dessa crise, mas agora a situação se transformou em falta de dinheiro”, diz ele, que também resolveu procurar um médico após várias brigas com a namorada por conta da queda na atividade sexual.

Casos como o de Andreza e Guto estão se tornando cada vez mais frequentes nos consultórios. Psicólogos, psiquiatras e urologistas ouvidos por ÉPOCA detectaram um aumento no número de pacientes que procuraram seus serviços com esse tipo de queixa. “O movimento vem crescendo desde agosto do ano passado. Mas intensificou-se mesmo de dezembro para cá”, afirma o andrologista Carlos Araújo, do Instituto Paulista de Disfunção Erétil. Seus pacientes são, em sua maioria, empresários e profissionais do mercado financeiro. “Eles ficam acordados a noite inteira acompanhando a Bolsa, fumam e bebem em excesso. Não sobra tempo, disposição nem cabeça para o sexo.” Muitas vezes, a crise chega à cama antes mesmo de atingir o bolso. “A ameaça de desemprego já desencadeia”, diz o psicanalista Jacob Pinheiro Goldberg, que, além de homens com dificuldades sexuais, tem atendido muitas mulheres com crise de ciúme e mau humor crônico. “Com a perda de desejo dos parceiros, elas ficam enciumadas e inseguras. Já vi até casos de separação”, afirma ele.

A diminuição da testosterona em decorrência do estresse e o famoso “fator psicológico” são as explicações mais comuns para o encolhimento da libido masculina em sintonia com a Bolsa de Valores. Mas as mulheres estão imunes? “Elas também têm a sexualidade prejudicada por tensões emocionais. A diferença é que não precisam de ereção para transar. Suas performances pioram, mas elas conseguem chegar até o fim”, diz o ginecologista Hugo Miyahira, da Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro.

Alguns cientistas acreditam que essa queda do interesse sexual seja parte de um mecanismo evolutivo perverso – a boa e velha seleção natural agiria para evitar que homens incapazes de sustentar seus descendentes sob pressão se reproduzam. Parece exagerado, mas uma pesquisa divulgada no ano passado reforça a conexão entre crise econômica e aspectos centrais da existência humana. Cientistas alemães analisaram os dados de nascimento e morte de gêmeos idênticos nascidos na Dinamarca desde a década de 1870 e descobriram que pessoas que vêm ao mundo durante períodos de recessão morrem, em média, 15 meses antes que aquelas nascidas em épocas mais prósperas. A explicação é que a alimentação deficiente e o menor acesso a recursos médicos nas primeiras fases da vida aumentam os riscos de problemas cardíacos anos mais tarde. Se as recessões têm o poder de antecipar a morte, é possível que possam moldar a vida como fator de seleção natural.

A psiquiatra Carmita Abdo, professora da Universidade de São Paulo e especialista em sexualidade, não tem dúvida de que indicadores econômicos e apetite sexual masculino são diretamente proporcionais. Ela tem números que demonstram isso. Carmita participou de um levantamento sobre a satisfação de brasileiros empregados e desempregados com a qualidade de suas ereções, estudo que faz parte da maior pesquisa sobre sexualidade do brasileiro – a Mosaico Brasil –, que ouviu 8.200 pessoas maiores de 18 anos em dez capitais. Fornecidos com exclusividade a ÉPOCA, os resultados mostram que, em todas as faixas etárias, homens desempregados estão mais infelizes com o sexo que os empregados. Entre os entrevistados de 26 a 40 anos, a insatisfação com as ereções atingiu 48,9% dos empregados e 57,6% dos desempregados. Na faixa dos 41 a 50 anos, a porcentagem de insatisfeitos foi de 56% para os empregados e 65% para aqueles sem trabalho.

Resumo da ideia: homens sem ocupação e renda sentem-se menos potentes. “No imaginário masculino, a incapacidade de ganhar dinheiro tem relação com a incapacidade sexual”, diz o psicólogo Jacob s Goldberg. “Se no passado a ideia de poder sexual estava ligada à força física, agora está relacionada ao poder financeiro.” O especialista ressalta que essa ideia também está arraigada no imaginário feminino, o que só aumenta a pressão. “Nunca ouvi tanto a palavra loser (perdedor) como justificativa de pacientes mulheres para pedir o divórcio”, afirma. Trata-se da lógica ancestral do macho provedor. “Os homens dependem mais do trabalho para se sentir homens. Os arranjos de casamento reconhecem e reforçam isso”, diz o psicólogo Oswaldo Rodrigues Jr., do Instituto Paulista de Sexualidade.

Uma pesquisa feita com 5 mil pessoas nos EUA mostrou que a vida sexual de 62% delas piorou

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