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domingo, 15 de fevereiro de 2009

Treinadores: mercado aquecido ou ensandecido?

Dorival ganha 280 mil mensais e classificando o Vasco para a Série A terá mais 1,2 milhão de prêmio, o que dará um salário médio de 380 mil mensais e anual de 4,56 milhões num caso ou 3,36 em outro e impensável caso.

Mano ganha 320 mil mensais, o que perfaz 3,84 milhões anuais. Talvez tenha algum prêmio, provavelmente tem, o que pode jogar esse valor bem para cima.

Roth queria 300, o Grêmio jurou que não passaria de 200. Roth está no Grêmio, logo, devem ter acordado alguma coisa no meio do caminho, talvez o clássico “nem pra mim, nem pra ti” e 250 mil mensais no bolso, 3 milhões anuais. Pouco menos do que paga, ainda, o patrocinador principal, o Banrisul.

Luxemburgo continua impávido colosso a bordo de “quinhentinho” por mês ou seis milhões por ano. Podemos dizer que Roth ganha meio Luxemburgo por mês. Nada mal. No caso de Vanderlei, a coisa complica porque ele agrega à sua gestão um monte de gente. Informou-se que o Palmeiras, nos últimos meses de 2008, recorria mensalmente à Traffic para pagar parte desse salário, em troca de aumentos em participações de jovens jogadores.

Muricy teve seu contrato prorrogado por mais um ano, até o final de 2010, e o presidente Juvenal Juvêncio fez-lhe um agrado com um aumento, não muito grande, claro. Pessoas próximas ao treinador juram que o valor do novo salário não chega aos 300, embora não fique muito longe. Muricy, como Roth, deve ganhar meio Luxemburgo por mês, talvez algumas merrecas a mais. Pelos resultados em campo e pela valorização de atletas, é disparado o profissional de melhor custo/benefício. Logo, o mais barato e, portanto, passaremos 2008 ouvindo suas “queixas” mal/bem-humoradas sobre seu salário.

Mancini, pelos comentários da noite de sexta-feira, está no Santos, que aparentemente encontrou um ponto mediano entre os 500 de Vanderlei e os 50 de Marcio Fernandes: 200 mil para Mancini. Ontem, o próprio presidente do Vitória, Alex Portela, disse que era impossível concorrer com a proposta santista, mas depois, aparentemente, houve um recuo e já não ficou impossível concorrer com o Santos.

E por aí vai. Números bonitos, sem a menor dúvida, com a rapaziada ganhando por mês o que dezenas de milhões de brasileiros não ganham em toda uma vida de trabalho duro e sofrido. Azar nosso, e mais ainda dos que ganham misérias, pois o problema não está nos altos salários e sim na criminosa distribuição de renda. Altos salários, num mercado competitivo e de alto rendimento financeiro (hummmmm… bom, vá lá) como é o futebol, são plenamente justificáveis. Entretanto, o pagamento de altos salários tem limite, que deve ser ditado pelas normas contábeis e pelo bom senso, que geralmente são a mesma coisa. Pague somente o que você pode pagar, não pague a mais do que isso para não comprometer sua saúde financeira, quiçá sua existência.

Mero bom-senso…

Será que isso existe nos clubes brasileiros?

Ou será que o mercado é tão competitivo, e tão bom, que leva os clubes a pagarem esses valores?


Peguei os dados de receitas operacionais dos clubes referentes ao ano de 2007, e fiz a tabela a seguir. O número importante, o número essencial, o único número com o qual um clube de futebol deveria contar, é justamente o número da última coluna à direita, o que mostra quanto foi a receita operacional sem a transferência de atletas.

Clube - Balanço de 2007 Receita Operacional Total Receita Operacional do Futebol Receita Operacional do Futebol sem Transferências
São Paulo 190.079 146.426 70.320
Internacional* 152.889* 152.889* 57.280*
Corinthians 134.273 122.297 50.905
Grêmio* 109.031* 104.764* 51.892
Flamengo 89.499 71.717 62.482
Palmeiras 83.889 65.146 44.617
Cruzeiro 77.650 68.656 33.185
Atlético MG 58.326 49.797 30.024
Santos 53.102 53.102 51.430
Vasco 51.079 37.017 Não especificado
Fluminense 39.335 32.528 31.182

*O balanço do Internacional não separou receitas da área social dos programas de sócio-torcedor, o mesmo ocorrendo com o Grêmio.

Sabemos que 2007 é passado e que seus números estão distantes dos novos números de 2009.

Mas, estarão assim tão distantes?

A grande diferença em relação ao ano corrente está nos novos contratos de TV, o que não adianta muito em termos práticos, pois a quase totalidade dos clubes antecipou praticamente tudo ou grande parte do que teria a receber nesse ano. Os contratos de patrocínio, mesmo os novos, nada trazem de novo, pois não houve evolução nos valores, exceto no caso do Palmeiras, havendo mesmo, ao que tudo indica, uma involução - caso do Flamengo - enquanto Grêmio e Internacional mantêm o mesmo contrato até 30 de junho.

Portanto, diante disso, fiz uma projeção comparativa para ilustrar o quanto representam esses salários de treinadores. Vejam bem, essa tabela é em parte chutada. A rigor, não sabemos com certeza absoluta o salário de nenhum treinador. Mais: sobre quantos reais desses milhões anunciados, incidem os encargos trabalhistas? Sim, porque há encargos trabalhistas, é claro, e sobre algum valor eles têm que incidir e agravar a folha do clube. Na ausência de dados, nada estimei. Mas fica o alerta: eles existem.

Outro aviso importante: as informações referentes aos salários dos treinadores do Flamengo, Internacional, Cruzeiro, Fluminense e Atlético Mineiro não são muito confiáveis ou claras. Portanto, contribuições fundamentadas (na medida do possível) sobre isso serão muito bem-vindas. Eventuais prêmios por conquistas não estão incluídos nos valores. No caso do Fluminense, há também a dúvida sobre quem paga ou quanto paga do salário, entre o clube e seu parceiro/patrocinador.


Clube Rec Operacional do Futebol sem Transferências Salário Anual do Treinador % Salário sobre Receita SEM Transferências
São Paulo 70.320 3.600 5,1
Flamengo 62.482 1.600 2,6
Internacional 57.280 1.800 3,1
Grêmio 51.892 3.000 5,8
Santos 51.430 2.400 4,7
Corinthians 50.905 3.840 7,5
Palmeiras 44.617 6.000 13,4
Vasco 37.017 3.360 9,1
Cruzeiro 33.185 1.800 5,4
Fluminense 31.182 1.920 6,2
Atlético MG 30.024 2.400 8


Com certeza, corintianos reclamarão que a receita do clube cresceu muito em relação a 2007. É verdade, concordo, mas por uma questão de uniformidade comparativa achei melhor manter a base conhecida real, que são os números dos balanços de 2007. Também a receita do Palmeiras cresceu bastante, mas vale o mesmo raciocínio.

No caso do Vasco, o balanço de 2007 - uma peça contábil extremamente pobre e nada informativa - não discrimina receitas com transferências, por isso usei o valor disponível, de receita operacional total.

Reparem que há números bem interessantes, como o baixo percentual do Flamengo - altamente positivo (se Cuca ganhar somente isso) - e o absurdo representado pelo salário do professor Vanderlei, seguido de perto pelo absurdo do professor Dorival Junior.

Aliás, um leitor do Jogo Aberto, cujo nome me escapa, escreveu num comentário a mais brilhante síntese sobre esse salário:

“Ganhando tudo isso como Junior, imaginem se ele fosse Sênior?”

Divertido, inteligente e brilhante. Peço desculpas ao autor por não lembrar seu nome.


Lembro-me vivamente de ter escrito uma crítica ao salário que Vanderlei recebia no Santos, dizendo que era algo totalmente fora da nossa realidade. Fui fortemente repreendido e criticado por torcedores santistas, que disseram, lembro bem até hoje, que Luxemburgo merecia, pois seu custo/benefício seria ótimo, já que ele traria títulos e valorizaria jogadores desconhecidos, dando lucro ao clube. Nada veio, nem títulos importantes, muito menos o da Libertadores, nem tampouco jogadores desconhecidos foram revelados e valorizados. A saída de Vanderlei deixou o Santos com o caixa a zero. Não que ele tenha sido o culpado exclusivo, mas que teve, ao lado de sua portentosa comitiva, grande parte de responsabilidade nisso, com certeza teve.

Ainda em 2008 ouvi a mesma coisa, praticamente com as mesmas palavras, de torcedores palmeirenses. Nesse caso, o professor até teve um custo/benéfico não tão ruim, pois conquistou o Paulista, tal como no Santos.

A diferença é que no Santos, vindo de dois Brasileiros recentes, o Paulista não significou grande coisa, enquanto no Palmeiras foi, sem dúvida, um alento. Mesmo assim, é custo demais para benefícios de menos.

Essa tabela foi apenas um exercício sabatino, cuja finalidade é jogar um pouco de ordens de grandeza - e não necessariamente valores exatos - sobre esse assunto. De antemão peço desculpas pelas falhas e omissões, em parte minhas, as falhas, e em parte por falta de dados, confiáveis ou não, as omissões.

Mas dá o que pensar, não?


É um mercado competitivo ou é um mercado ensandecido?

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