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quarta-feira, 2 de setembro de 2009

“As pessoas são fiéis”

De fidelidade sexual extrema a casamentos duplos, autora revela comportamento sexual em diferentes partes do planeta

Fazer sexo casual mesmo sendo casado não é um tabu - na Rússia, é importante que se diga. Na China, a situação não é menos liberal: homens de Hong Kong são os responsáveis pelas chamadas "vilas das segundas esposas", comunidades na periferia das grandes cidades chinesas, onde mulheres pobres são mantidas como amantes.



Essas e outras "curiosidades" a respeito do comportamento sexual contemporâneo estão no livro "Na ponta da língua", da jornalista americana Pamela Druckerman, lançado este mês no Brasil pela Editora Record. A autora, que já morou por aqui, diz que não estamos muito longe da Rússia ou da China e define o Brasil como um lugar "onde as pessoas traem bastante". Por e-mail, Pamela respondeu a algumas perguntas. Saboreie a seguir as peripécias amorosas que ela encontrou ao redor do mundo.

GALILEU - O mundo contemporâneo é infiel?
PAMELA DRUCKERMAN
- Muito pelo contrário. Eu me surpreendi com o quanto as pessoas são fiéis. Ainda há muita gente que considera a monogamia uma boa ideia. Mesmo em lugares como o Brasil, onde, me desculpe, as pessoas traem bastante, a fidelidade é a norma oficial. E quebrar essa regra causa muitos problemas. Apesar das diversas formas de ser infiel, durante as pesquisas desse livro descobri que a traição gera tumulto em praticamente todos os lugares. Basicamente, dois é o número mágico de uma relação.

GALILEU - Qual país tem o comportamento mais estranho em relação à traição?
PAMELA -
Os Estados Unidos, apesar de eu ser americana. Entrevistei casais que passaram anos se esforçando para um parceiro arrancar do outro a confissão de um caso de infidelidade, mesmo quando se tratava de uma traição casual. Isso fez com que o casamento se resumisse a isso. O termo "não se trata do sexo, mas sim da mentira" é um clichê norte-americano. E criou-se uma indústria para orientar as pessoas a confessar todos os detalhes dos casos extraconjugais nos mínimos detalhes, incluindo descrições dos atos sexuais com amantes. A ideia é que o casamento só se restabelece quando não existem mais segredos entre os dois.

GALILEU - Qual a descoberta que mais te interessou?
PAMELA -
Eu fiquei espantada com a fixação do meu país em relação à fidelidade sexual. Por que nos preocupamos tanto com quem nossos políticos dormem? Ao contrário da França ou da Inglaterra, nós não nos satisfazemos apenas com fofocas maliciosas. Nós realmente acreditamos que a traição é um traço característico de uma pessoa ruim. E se você pode trair sua esposa, é capaz de fazer o mesmo com seu país. Eu vivi em muitos outros países e vi reações completamente diferentes. Achei que seria fascinante viajar pelo mundo comparando as regras ligadas à infidelidade.

GALILEU - A infidelidade ainda é um tabu?
PAMELA -
Ainda é um tema oficialmente proibido. A maior parte das religiões vão incisivamente contra isso, é claro. Mas o que realmente motiva até os mais religiosos a trair é o comportamento de seus amigos, colegas e companheiros de trabalho. Eu entrevistei judeus ortodoxos e muçulmanos devotados que conseguiam conciliar muito bem sua fé e suas amantes.

GALILEU - Há alguma vantagem em ser traído?
PAMELA -
Existe uma expressão na Rússia que versa o seguinte: "um bom caso extraconjugal fortalece o casamento". Os homens russos me explicaram que se sentiam culpados depois da traição e passavam a tratar suas esposas melhor. Psicólogos especializados em terapia familiar contaram que sexo extraconjugal é "obrigatório" por lá. A explicação racional para isso é que as pessoas vivem em apartamentos tão pequenos e cheios, têm um vida tão bruta e curta [a expectativa de vida dos homens russos é de 58 anos, o que faz existir 40 homens para cada 100 mulheres no país], que ter um caso é uma válvula de escape.

Na Rússia, homens e mulheres saem de férias com seus amigos e têm "casos romanos" [termo usado quando os casais viajam separados, com os amigos, para praias egípcias ou estâncias turísticas no Mar Negro e se entregam a casos extraconjugais. Quando voltam, retomam a rotina normalmente], e eles não consideram isso como traição.

GALILEU - Como as próximas gerações verão a infidelidade? Você acredita que no futuro a traição não será um problema que mereça ser discutido?
PAMELA -
Eu não acredito que os americanos comecem a ter "casos romanos" tão cedo! E também não vejo nenhum movimento em curso que torne as pessoas mais tranquilas em relação à infidelidade. Na verdade, com as mulheres ganhando cada vez mais dinheiro e destaque dentro de seus casamentos, deve aumentar a exigência de fidelidade dos parceiros.

No Japão, onde executivos ainda vão para o bordel relaxar após o expediente - e suas mulheres são obrigadas a ignorar o fato deles terem amantes - o número de pedidos de divórcio feitos pelas esposas está aumentando. Mas as mulheres também podem sair perdendo, sobretudo quando há alguma mudança política ou econômica muito grande.

Na China, o fato de milhares de mulheres pobres tentarem a sorte na periferia de grandes cidades levou a uma explosão das chamadas "comunidades das segundas esposas", onde homens de Hong Kong mantêm amantes. Eles argumentam que estão seguindo a tradição chinesa de manter concubinas. As esposas, claro, consideram traição pura e simples.

GALILEU - O fato de estudar esse tema por todos esses anos mudaram alguma coisa em seu casamento?
PAMELA -
Meu marido mantém um estranho prazer em contar às pessoas que a esposa dele é uma "especialista" em adultério. Claro que seu eu realmente o tivesse traído não seria tão divertido! Estudar o tema me ajudou a saber que tenho uma influência cultural forte sobre esse tema e que existem outras maneiras tão ou mais válidas de encarar o assunto. Antes do livro, eu tinha a visão americana típica: se meu marido me traísse, eu simplesmente o chutaria da porta pra fora. Agora, eu provavelmente deixaria ao menos ele fazer as malas.

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