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segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Especialistas buscam lições na luta contra a nova gripe

Divulgação do pouco que já foi aprendido é lenta e limitada.
Inadequação de infraestrutura é evidente, mesmo nos EUA.
Foto: Jay Paul/The New York Times

Ex-presidente da Sociedade Internacional de Doenças Infecciosas, Richard Wenzel observou um amplo espectro de doenças partindo da gripe A

Enquanto a epidemia de gripe suína gera caos durante o inverno do Hemisfério Sul, autoridades dos Estados Unidos buscam pistas para lidar com seu provável retorno no outono, antes que uma vacina possa proteger um grande número de pessoas. Muito sobre a pandemia e o vírus permanece desconhecido, mas especialistas dizem que a situação já expôs diversas fraquezas na capacidade de reação mundial à súbita emergência de uma doença amplamente disseminada.


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    Médicos sabem muito pouco sobre quais tratamentos funcionam nos casos graves"

No geral, a gravidade da pandemia tem sido “moderada” na comparação com pandemias anteriores de gripe, diz a Organização Mundial da Saúde (OMS, a agência de saúde pública das Nações Unidas), embora tenha se espalhado com uma “velocidade sem precedentes” a pelo menos 168 países.

Apesar de a gripe atacar principalmente nos meses mais frios, o vírus da variante suína, o influenza A (H1N1), varreu os acampamentos de verão nos Estados Unidos e no Canadá. Esse padrão levou à crença predominante de que muito mais pessoas contrairão a gripe suína do que a gripe sazonal no outono e inverno no Hemisfério Norte.

Uma das fraquezas apontadas pelas autoridades e especialistas é, a despeito de anos de planejamento, a evidente inadequação sob vários aspectos da infraestrutura dos serviços de saúde em muitos países – incluindo os Estados Unidos – para lidar com a aparição repentina de um novo tipo de gripe. Além disso, o número de leitos em unidades de tratamento intensivo e pronto-socorros é limitado, assim como o número de equipamentos essenciais, como respiradores.

Problemas de comunicação

Outro problema é a comunicação. Autoridades e especialistas dizem ter aprendido muito a respeito da gripe suína em humanos. Porém, uma parte relativamente pequena dessas informações, incluindo resumos periódicos do que foi aprendido desde o início da pandemia, foi divulgada e publicada. Alguns peritos dizem que os pesquisadores estão esperando para publicar em revistas acadêmicas, o que pode levar meses ou mais. Essas revistas impõem severas penalidades à divulgação de informações antes da publicação. Qualquer que seja o motivo, atrasos nessa divulgação podem obstruir planos de reação.

Poucos especialistas conseguem se igualar à visão pessoal que Richard Wenzel acumulou sobre a atividade do vírus da gripe suína nos Estados Unidos, México e quatro países da América do Sul. Por convite de especialistas desses países, ele os visitou para observar casos, aconselhar medidas de controle e criticar seus dados.

Wenzel, ex-presidente da Sociedade Internacional de Doenças Infecciosas, disse ter observado um amplo espectro de doenças partindo da gripe suína humana: de pessoas que experimentavam poucos sintomas, ou nenhum deles àquelas que rapidamente desenvolviam complicações e morriam.

A definição padrão para a gripe inclui febre. Porém, um estranho atributo do novo vírus é a ausência de febre numa proporção significativa dos casos documentados, mesmo após alguns pacientes ficarem seriamente doentes. No Chile, foi aproximadamente a metade. No México, um terço, e nos outros lugares foi ainda menos. A falta de febre foi apontada por outros observadores em muitos casos canadenses.

Diarreia é um sintoma que parece ocorrer numa porcentagem maior de casos do que na gripe sazonal. Wenzel diz ter “implorado” aos médicos que examinassem as fezes dos pacientes, para determinar a frequência com que o vírus está presente e a extensão pela qual elas são responsáveis pela transmissão. Poucos estudos como esse foram realizados.

Pouca informação específica está disponível sobre quando as pessoas infectadas param de espalhar o vírus. Essa informação é particularmente necessária para aqueles com sistemas imunológicos debilitados por infecções de HIV, quimioterapia e remédios anti-rejeição usados em transplantes de órgãos. O curso da doença pode se tornar um risco mortal em apenas algumas horas entre pacientes que demonstraram apenas sintomas leves, conta Wenzel, mas suas visitas mostraram que “médicos sabem muito pouco sobre quais tratamentos funcionam nos casos graves”.

Médicos argentinos e mexicanos apontaram que os casos atingem o pico num período de quatro semanas, caem substancialmente ao longo de algumas semanas, e então aparecem em outros locais do país, diz Wenzel.

Gravidez e obesidade

Dois atributos mais incomuns do novo vírus mostram que a gravidez, especialmente no terceiro trimestre, e a obesidade parecem aumentar o risco de complicações da infecção. Mas Anthony Fiore, epidemiologista de gripe do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, em Atlanta, apontou a ausência de artigos publicados que indicassem a obesidade como um fator de risco.

Médicos envolvidos ativamente no cuidado dos pacientes são atrapalhados pela falta de um exame rápido, padronizado e confiável para determinar se um indivíduo tem a gripe suína ou outra doença respiratória. O diagnóstico da gripe A (H1N1) precisa ser obtido por meio de exames especiais conhecidos como PCR, sigla em inglês para reação em cadeia da polimerase. Os testes são usados em laboratórios de pesquisa e, além disso, são disponibilizados apenas por meio de departamentos de saúde locais e estaduais.

Os exames PCR, mesmo se oferecidos por um laboratório comercial, geralmente não podem ser feitos a tempo para ajudar um médico a determinar se o paciente num consultório, clínica ou hospital está com gripe suína ou sazonal – fator para apontar qual tratamento oferecer.

Profissionais da saúde e o público, segundo William Schaffner, da Universidade Vanderbilt, deveriam receber mais informações, e num prazo mais curto, com o que foi aprendido sobre a pandemia de gripe suína. Algumas dessas informações são muitas vezes relatadas em reuniões científicas, mas o verão (no Hemisfério Norte) é de calmaria no que diz respeito a esse tipo de encontro.

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