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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Mulheres sofrem mais que homens para largar o vício

É como aquele ex, que você sabe que não faz bem, mas que vira-e-mexe provoca uma recaída. O cigarro tem significado emocional para as mulheres, e estudos mostram que elas enfrentam mais dificuldade para largar o vício do que os homens. Por isso, centros médicos oferecem tratamentos específicos para as fumantes

A nova lei antifumo entra em vigor no Estado de São Paulo neste mês, mas parece já ter motivado uma mudança: o número de fumantes que buscam centros médicos para superar o vício cresceu. Um exemplo é o Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Álcool e Drogas, uma parceria da prefeitura da capital com a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo): o local fazia cerca de 50 atendimentos por mês. Passou para 200 depois que a lei foi sancionada, em maio. As mulheres podem ser as principais beneficiadas por essa tendência; afinal, são elas as mais vulneráveis aos danos da nicotina. Mas é bom avisar: para elas, largar o cigarro é mais difícil do que para os homens.

O acompanhamento de 6 mil pacientes atendidos em dez anos pelo Grupo de Apoio ao Tabagista (GAT) do Hospital A. C. Camargo, em São Paulo, mostrou que as mulheres podem levar mais de um ano para deixar o vício. Para os homens, o prazo é inferior a dois meses.

Segundo a psiquiatra Célia Lídia da Costa, coordenadora do GAT e autora da pesquisa, essa diferença existe porque as mulheres estão mais sujeitas a quadros depressivos e de ansiedade. “Nesses casos, o cigarro traz não só prazer, mas dá um efeito de controle, minimiza a depressão”, afirma. A conclusão condiz com um estudo da Universidade Yale, nos Estados Unidos, que mostrou que, nas mulheres, a depressão e o abuso do álcool estão associados à maior duração dos sintomas da privação do cigarro (como ansiedade, falta de concentração, mudanças de humor e aumento do apetite) e à ocorrência de recaídas. Nos homens, essa relação só foi constatada com o abuso do álcool.

A POSSIBILIDADE DE TER UMA DOENÇA CARDIOVASCULAR É SEIS VEZES MAIOR NAS FUMANTES DO QUE NAS NÃO FUMANTES. ENTRE OS HOMENS, ESSA RELAÇÃO
CAI PELA METADE

Além disso, acontece de as mulheres receberem menos apoio social quando resolvem parar de fumar. Na Índia, médicos dos Tobacco Cessation Centres (uma rede de órgãos que combatem o tabagismo apoiada pela Organização Mundial de Saúde) perceberam que os homens costumavam chegar ao tratamento com esposa, filhos, pais e amigos. Já as mulheres apareciam sozinhas ou com amigas. Em cinco anos, das 1.800 mulheres inscritas, só 10% terminaram o programa. Dos 21 mil homens, 50% conseguiram concluir.

A psiquiatra Ana Cecília Petta Roselli Marques, do Caps, aponta outro obstáculo: a falta de tempo. “As mulheres têm múltiplas funções, cuidam da casa, do marido, dos filhos, trabalham. Fica difícil incluir o tratamento na agenda.” A droga pode até ser vista como uma aliada para que a mulher se sinta ativa e atenta, já que estimula o sistema nervoso central, diz a psiquiatra.

Some-se a isso a ideia, veiculada pela indústria do cigarro, de que fumar é “chique”. Essa imagem é forte principalmente entre as jovens de menor poder aquisitivo, segundo Célia, do A. C. Camargo. Além disso, há a preocupação de que a interrupção do vício leve ao ganho de peso.

Para superar tantos obstáculos, as mulheres também precisam de tratamentos específicos. No Caps, funcionários cuidam dos filhos das pacientes para que elas possam cuidar de si mesmas. A entrevista inicial é feita por uma equipe multidisciplinar, que conta com psicólogo e nutricionista, entre outros. A avaliação identifica o nível de dependência, a predisposição genética e as repercussões do fumo nos sistemas cardiológico, endocrinológico, gástrico e nervoso central. O tratamento, que pode durar até três anos, inclui remédios, terapia e dieta.

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