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domingo, 12 de abril de 2009

A era dos surdos digitais

Os jovens abusam do volume no tocador. O que fazer para proteger os tímpanos
ume no tocador. O que fazer para proteger os tímpanos

O volume máximo de um iPod, o famoso tocador digital da Apple, chega a 120 DECIBÉIS. Parece pouco para quem vive nas barulhentas cidades brasileiras, mas não é. Os 120 decibéis equivalem a uma sirene de polícia ou a uma britadeira próximas à orelha. No Brasil, a lei proíbe ruído maior que 85 decibéis no ambiente de trabalho. Mas quem protege os ouvidos de 100 milhões de jovens que no mundo todo usam tocadores digitais? Os órgãos de saúde alertam para o risco de estarmos preparando uma geração de semissurdos antes dos 30 anos. De acordo com um comitê científico da União Europeia, o som de 89 decibéis, cinco horas por semana, causa danos irreversíveis em cinco anos. Segundo o órgão, o número de pessoas com tímpanos lesados poderá chegar a 13 milhões em 2015, só na Europa.

Os tocadores ainda não indicam o volume em decibéis, mas a Associação Americana de Fala, Linguagem e Audição recomenda não ultrapassar um quarto da capacidade do tocador. Depois de analisar 30 aparelhos populares, a associação constatou que todos os modelos conseguem reproduzir música acima dos três dígitos. E que o volume médio da maioria já ultrapassa o limite recomendado pelas agências de saúde. Mas, se o botão vai tão além, como convencer os jovens a abaixar o volume? As pessoas não acreditam. “Os adolescentes precisam levar isso a sério e reduzir o volume enquanto é tempo”, afirma o otorrino Ektor Onishi, da Sociedade Brasileira de Otologia.

A “doença do iPod”, como vem sendo chamada, atinge os Estados Unidos, a China, o México e, mais recentemente, chegou ao Brasil. A percepção de que algo está errado com os ouvidos dos jovens já aparece nos consultórios médicos. A fonoaudióloga Ieda Russo, presidente da Sociedade Internacional de Audiologia, afirma que a exposição dos adolescentes a sons cada vez mais intensos está levando a uma redução precoce na sensibilidade auditiva. Ela diz que o barulho do vento nas folhas, de cerca de 10 decibéis, já passa despercebido por eles. De acordo com Ieda, boa parte desses meninos só consegue detectar sons com mais de 15 decibéis. “Não é algo esperado para alguém com 15 anos. Nem era tão comum há algumas décadas, embora ainda esteja dentro da normalidade.”

O comportamento dos jovens justifica a preocupação. É muito comum ver adolescentes com o aparelho plugado no ouvido o dia inteiro. O volume às vezes é tão alto que dá para ouvir o som a mais de 1 metro de distância. E nem sempre se trata de uma forma de compensar os ruídos da cidade. A fonoaudióloga Tanit Sanches recebe em seu consultório jovens que dizem gostar da sensação de ter o corpo vibrando por causa do som no último volume (leia a ilustração acima). “Eles dizem que só assim a experiência de ouvir música está completa”, diz.

A estudante Beatriz Lan Franchi, de 11 anos, ouve música eletrônica enquanto faz lição. Ela já dormiu a noite inteira com o aparelho na orelha, ouvindo música pop americana. Ela usa fones internos, aqueles que se encaixam dentro da orelha e são os mais perigosos, segundo especialistas. As células ciliares do tímpano podem ser destruídas com o som alto e repetitivo (leia a ilustração acima).

O problema é tão sério que já mobiliza os fabricantes de tocadores. A Apple anunciou na semana passada a atualização de um programa gratuito para o iPod nano e o iPod quinta geração. Com ele, os usuários podem criar um limite para o volume. Também podem travá-lo com senha, de modo que as crianças não possam alterá-lo. A empresa foi condenada a indenizar um usuário que teve perda da audição por exagerar no volume. Na época, não havia nenhum tipo de recomendação oficial. No Brasil, um projeto de lei estadual tenta proibir a venda de tocadores que atinjam mais de 90 decibéis. Em votação na Câmara dos Deputados de São Paulo, ele obriga os fabricantes a alertar na embalagem sobre os riscos da exposição prolongada a volumes acima de 85 decibéis.

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