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quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Livro conta história da imigração judaica em SP

Os primeiros judeus de São Paulo' reúne nomes e histórias de mais de 5 mil pessoas sepultadas no Cemitério Israelita de Vila Mariana

Uma visita ao cemitério pode se transformar em uma viagem pela história. Depois de frequentar por muitos anos o Cemitério Israelita de Vila Mariana para prestar memória a familiares, o genealogista Guilherme Faiguenboim e o historiador Paulo Valadares decidiram resgatar os nomes e um pouco da história dos imigrantes sepultados no local desde 1923. O resultado da pesquisa, que se estendeu por dois anos e meio, está no livro Os primeiros judeus de São Paulo.

A pesquisa genealógica em cemitérios é uma tendência que tem ganho força nos Estados Unidos e na Europa, mas ainda é pouco comum no Brasil. Quando bem conservadas, as lápides podem trazer informações históricas valiosas sobre a genealogia de pessoas comuns, que deixam poucos registros em papel. “As sepulturas são documentos de pedra que formam um grande banco de dados”, afirma Faiguenboim.

Reprodução
REFERÊNCIA
O livro reproduz nomes, textos e datas das 5.400 lápides do cemitério

O fato de os judeus sepultarem seus mortos em locais privativos, separados dos praticantes de outras religiões dá aos “documentos de pedra” ainda mais relevância histórica. Ao analisar os nomes e locais de nascimento das mais de 5 mil pessoas sepultadas no primeiro cemitério israelita de São Paulo, é possível reconstituir o surgimento da colônia judaica na cidade – e chegar a resultados surpreendentes. “Ao contrário do que os historiadores acreditavam até hoje, a maioria dos primeiros imigrantes judeus em São Paulo não vem da Rússia e da Polônia, e sim da Bessarábia”, diz Valadares. Trata-se de uma pequena região da Europa Oriental cujo território hoje se distribui entre a Ucrânia e a Moldávia. Embora os franceses de Alsácia tenham sido os primeiros judeus a migrar para São Paulo no século 19, os imigrantes da Bessarábia foram os responsáveis por estabelecer a comunidade judaica na cidade, algumas décadas depois, fundando as primeiras sinagogas, escolas e cemitérios.

Usando as informações reunidas no cemitério como ponto de partida, Faiguenboim e Valadares recorreram a livros, arquivos públicos e acervos privados. Esse material forma a primeira parte do livro, que descreve as tradições judaicas referentes ao sepultamento e conta a história do Cemitério Israelita da Vila Mariana e das primeiras famílias de judeus que chegaram a São Paulo. Em pouco menos de 70 páginas, o texto explica a origem de tradições como o ato de rasgar uma parte da roupa durante um sepultamento, além de narrar as dificuldades legais enfrentadas pelos judeus para fundar – e expandir – um cemitério privativo. Os documentos e árvores genealógicas reproduzidos no capítulo dedicado aos anexos se aprofundam ainda mais no contexto histórico.

Os dados apurados a partir das lápides formam a segunda parte do livro. Trata-se de uma espécie de enciclopédia com os nomes e sobrenomes de todos os judeus sepultados na Vila Mariana, ao lado de informações sobre seus locais de origem e datas de nascimento e morte. Os verbetes curtos são ilustrados por dezenas de fotos tiradas no cemitério por Niels Andreas, que assina o livro ao lado de Valadares e Faiguenboim. Em alguns casos, os dados genealógicos também são acompanhados por pequenas histórias tiradas de livros de memórias ou contadas por familiares dos imigrantes. Um exemplo é o texto sobre Sender Lechtman, gaúcho de Quatro Irmãos, morto em São Paulo em 1946: “Construiu os túmulos do cemitério local. Casou-se quatro vezes. Morreu num acidente, ao descer de um trem em São Paulo, onde viera procurar uma esposa”. É o tipo de curiosidade que atrai não só descendentes de judeus, que vão buscar amigos e familiares nas páginas do livro, mas todos os que querem saber mais sobre a história da cidade e a vida de suas pessoas comuns.







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