Documentário traz de volta a saudosa TV Manchete - Confira o Teaser

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Futebol moleque

Irreverente e despojado, Tiago Leifert dá um peteleco na tradição e muda a cobertura dos esportes na TV

Daniela Toviansky
SEM FOLGA De terça a domingo, Leifert dedica suas noites ao futebol. “Traballho todo dia. É um prazer”
Em janeiro, quando Tiago Leifert passou a comandar a edição paulista do Globo Esporte, sabia que iria cutucar uma tradição de mais de 30 anos. Ao contrário dos que passaram por ali, o atual editor-chefe e apresentador aparece no ar de jeans, camisa polo e tênis. Faz piadas, não lê os textos no teleprompter e fala com o telespectador como se estivesse com um amigo. A ousadia deu certo e, aos 29 anos, o paulistano virou “o menininho do Globo Esporte”, como ele mesmo diz.

“Nos primeiros dias, as pessoas mandavam e-mails perguntando quem era o moleque. Muitos elogiavam o conteúdo e criticavam o apresentador. Mal sabiam que eu era responsável também pelo conteúdo”, diverte-se. Leifert diz que fica ligado “24 horas”. Às 7h da manhã, chega ao prédio da TV Globo, onde passa o dia. De terça a domingo, suas noites são dedicadas às rodadas de futebol. “Assisto em casa e já vou anotando o tempo dos lances mais interessantes. Trabalho todos os dias, o tempo todo. É um prazer.”

O tom irreverente e dinâmico espantou a rigidez do programa, conquistou um público mais jovem e ganhou audiência. O espectador já espera por piadas com os argentinos, pelos concursos de beleza com jogadores e por e-mails lidos no ar. Leifert colocou até videogames em pauta e às vezes chega a desafiar convidados para um game esportivo, como o Fifa Soccer. Tudo como se ele estivesse na mesma sala em que está quem assiste ao programa. “O Tiago sempre foi despojado, criativo e transmitia seu bom humor nas reportagens”, lembra o amigo e ex-colega do SporTV, o narrador Milton Leite. “Ele sempre sabia o que estava fazendo.”

Antes de encontrar seu caminho, Tiago derrapou em algumas pistas. Aos 20 anos, entrou na faculdade de jornalismo, em São Paulo – bastou um ano para se irritar com aulas de semiótica e trancar o curso. Depois de consultar uma cartomante, teve a certeza de que deveria ir para os Estados Unidos estudar telejornalismo. Na Universidade de Miami, nem tirou férias para terminar o curso em dois anos. Ainda fez psicologia e estagiou na rede americana NBC. No Brasil, após alguns trabalhos, foi para o SporTV, onde, segundo ele, aliava televisão e esporte, sem fazer jornalismo. “Esporte não é jornalismo, é entretenimento. É o que faço até hoje.”

Para dar o passo seguinte – trabalhar na TV Globo –, Tiago teve que enfrentar um estigma: ser filho de um diretor administrativo da casa, Gilberto Leifert. A coincidência gerou preconceito e desconfiança, mas não afetou o foco e o humor. Em 2007, a proposta de Tiago para o novo Globo Esporte já rodava os corredores da emissora, mas a ousadia exigiu insistência. Com o projeto aprovado, bateu o alívio. “Até chorei, pois muita gente achava que eu só tinha emprego por causa do meu pai, e daí conquistei um grande sonho por causa do meu trabalho.”

Os altos índices de audiência mostram o sucesso da fórmula. “Sabia do potencial do Tiago, mas não imaginava que ele fosse fazer sucesso tão rápido com o programa”, analisa Milton Leite. “A Globo confiou, quebrou um formato tradicional e o Tiago criou um novo modelo.”
Segundo alguns índices de fama, Tiago também está a um passo de ser uma nova celebridade. Já tem perfil na enciclopédia virtual Wikipédia, blog de fã-clube e mais de 24 mil seguidores no Twitter. “Celebridade, não. Não é essa a ideia. É que eu apareço na TV, as pessoas acabam me reconhecendo na rua”, explica, com ar quase ingênuo. Nessa hora, parece mesmo “o menininho” do Globo Esporte.

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