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segunda-feira, 7 de setembro de 2009

BATOM E GRAXA: Mulheres vestem macacões e encaram a profissão de mecânico

Foto: Arquivo pessoal

Roseli fez o curso de mecânica em 1995. Hoje ela também dá cursos de mecânica básica para mulheres e usa um macacão rosa nas palestras

Quando criança Roseli Oliveira da Silva voltava da escola e ia direto para a oficina mecânica do vizinho. Aos 14 anos, foi fazer escondido um curso de mecânica até que os pais descobriram. Ela, então, foi cozinheira, babá e bancária, quando, insatisfeita, resolveu encarar a família e com 24 anos foi fazer a sua vontade. No começo trabalhou de graça em uma oficina de um amigo, depois foi para uma concessionária e hoje tem sua própria empresa, a Hayflex, na zona leste de São Paulo, em parceria com o namorado mecânico que conheceu no meio desse trajeto.

  • Aspas

    A mulher sabe conversar, é mais atenciosa e paciente, o que diferencia bastante o atendimento"

Roseli é uma das mulheres que vestiram o macacão e encararam o desafio de trabalhar em uma profissão em que os homens são a maioria. Não há estatísticas que revelem quantas mulheres são mecânicas no país, mas elas começam a ser notadas, em um universo que, até pouco tempo, era somente masculino.

Foi pela curiosidade do sexo feminino que Roseli resolveu criar um curso de mecânica básica voltado especialmente para mulheres. “Minhas amigas sempre me criticavam por trabalhar no meio dos homens, mas no fundo sempre quiseram saber sobre a minha função e viviam tirando dúvidas sobre manutenção de carros, foi ai que tive a ideia do curso”. Para aproximar o assunto delas e “quebrar o gelo”, como Roseli mesma diz, ela se apresenta nas palestras com um macacão cor-de-rosa e usa peças automotivas pintadas no mesmo tom para fazer a demonstração.

Foto: Daigo Oliva/G1

Leandra era professora e depois de ficar desempregada foi trabalhar na oficina da família. Hoje ela não se imagina em outra profissão.

Leandra Giovanetti também cresceu em uma oficina, neste caso do pai, mas se formou em Pedagogia, virou professora, casou e teve duas filhas. Há três anos ficou desempregada e viu na empresa da família, a Londres Centro Automotivo, na zona sul de São Paulo, um recomeço. Sem saber diferenciar “um parafuso de uma porca”, como ela mesma descreve, resolveu mudar de vida radicalmente e mergulhou de cabeça na profissão de mecânica, fez cursos e contou com a ajuda da equipe da oficina, da qual hoje ela é sócia, para aprender na prática o que via na sala de aula. “Hoje eu não consigo me ver fazendo outra coisa”, afirma.

Foto: Arquivo pessoal

Vanderly Liliam começou a brincar de mecânica na moto do pai e há um ano trabalha em uma concessionária

Outra mecânica incentivada pela família foi Vanderly Liliam Correia. O pai não é mecânico, mas sempre gostou de mexer na própria moto e ela, assim como os irmãos, cresceu brincando em meio as peças e se interessou pela profissão. Em 2007, Liliam fez o primeiro curso e há um ano trabalha na Motopark, em Cascavel, no Paraná. Atualmente está no setor de montagem, mas cobre os mecânicos da oficina quando eles estão em horário de almoço. “Ser mecânico requer mais técnica do que força, apesar de que em alguns casos usar a força também é necessário, mas nada que uma mulher não consiga fazer”.

Aspas

  • Ser mecânico requer mais técnica do que força, nada que uma mulher não consiga fazer"

Já Sulamita Cabral dos Santos escolheu a profissão sem querer. Aos 16 anos, a estudante queria fazer um curso de especialização e optou por mecânica automotiva. “Eu só queria fazer um curso para ter no currículo e acabei adorando”. Hoje, Sulamita trabalha em uma oficina de troca de óleo de motos, carros e caminhões, a Filtromóvel, em Uberaba, Minas Gerais, e está no segundo ano da faculdade de engenharia mecânica.

Além de trabalhar em oficinas, todas elas enfrentam outro desafio em comum: o preconceito dos homens. “Uma vez um cliente pediu para falar com o mecânico, ai eu disse que ele poderia falar”, conta Roseli. “Ele ficou me olhando desconfiado enquanto eu fui ver qual era o problema para resolver. Quando ele viu que eu consertei, me pediu desculpas e assumiu que achou que eu não seria capaz”.

Sulamita lembra rindo de um episódio parecido. “Eu estava trocando óleo de um caminhão e chegou um homem com uma camionete a diesel que não me deixou mexer no carro dele dizendo que eu não daria conta do recado”.

Foto: Arquivo pessoal

Sulamita entrou no curso de mecânica sem querer e hoje trabalha em uma oficina de troca de óleo e faz faculdade de engenharia mecânica.

Leandra passou por constrangimento pior. “Um homem entrou pedindo informações e quando eu respondi, ele me ignorou e foi até o mecânico que estava trabalhando, então eu entrei no meio da conversa. Ele ficou bravo e foi embora, mas no dia seguinte voltou com o carro para a oficina”.

Mesmo com o preconceito, elas afirmam que no final até os homens mais machistas admitem que as mulheres são mais caprichosas, cuidadosas e tratam melhor o cliente. “A mulher sabe conversar, é mais atenciosa e paciente, o que diferencia bastante o atendimento”, afirma Leandra.

Quem acha que mulher e graxa não combinam está enganado. Mesmo trabalhando em meio aos homens e vestindo macacões, elas não deixam a vaidade de lado. “Todo mundo me conhece ‘sujinha’, mas tem a Roseli guerreira e a Roseli social que vai ao cabeleireiro e se cuida como qualquer outra mulher”.

Sulamita diz que a roupa não é bonita e as unhas precisam ser curtas e geralmente estão sem esmalte. “Mesmo assim sempre faço uma escova no cabelo e passo uma maquiagem no rosto”, diz a mecânica que é casada e tem um filho de cinco meses. “Brincam que eu sou meio ‘macho fêmea’, mas a equipe me respeita bastante e eu não preciso ser mais durona para me impor, é uma questão de postura”.

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