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segunda-feira, 6 de julho de 2009

A tecnologia e os riscos por trás das armas não-letais

O rifle 'PHaSR' utiliza laser duplo de baixa intensidade para ofuscar o oponente / Foto: Divulgação

RIO - A Guarda Municipal do Rio iniciará agora em julho o uso de equipamentos não-letais no patrulhamento ostensivo no entorno do Leme. A Polícia Militar também já usa algo desse tipo . Mas, afinal, quais tecnologias estão por trás das armas não-letais?

O conceito dessa categoria de armamento foi estabelecido nos EUA e na Europa no início da década de 90. São armas especificamente projetadas e empregadas para incapacitar pessoas ou equipamentos, ao mesmo tempo em que diminuem o risco de morte ou ferimentos permanentes, danos indesejáveis à propriedade e riscos ao meio ambiente.

As mais recentes armas não-letais sendo desenvolvidas ou testadas pelos governos do Primeiro Mundo primam pelo uso de alta tecnologia nos setores de acústica, plasma, ótica e eletromagnetismo. No entanto, mesmo sendo assim tão hi-tech, esses "engenhos incapacitadores causadores de dor e desorientação" ainda oferecem alguns riscos de lesões e até de morte, o que vem causando protestos e muitas discussões entre grupos de direitos humanos.

Diante desses riscos de segurança que estão vindo à tona, o escritório do inspetor geral do Departamento de Justiça dos EUA divulgou em maio de 2009 um relatório (disponível em tinyurl.com/dojreport ) apontando possíveis problemas com as tecnologias empregadas nos dispositivos em fase de projeto. Aliás, em inglês, o termo usado é less-lethal weapons, ou seja, "armas menos letais", em vez de não-letais. Sutilezas da linguagem...

De qualquer maneira, que tal conhecer um pouco sobre as não-letais mais usadas atualmente? Vamos lá:

TASER: Um dos equipamentos mais conhecidos nessa categoria é o Taser, famosa arma de eletrochoque, muito vista em filmes policiais. Usando nitrogênio comprimido, a pistola atira dardos que se cravam na pele da vítima, aplicando-lhe um choque através de um fino fio condutor elétrico. A arma pode ser usada também sem os dardos, em que se encosta o dispositivo diretamente no corpo da pessoa-alvo, acionando o choque.

O taser é uma arma de eletrochoque que dispara dardos ligados à pistola por fios condutores / Foto: Divulgação

Em vários países, como o Brasil, apenas autoridades policiais podem possuir um Taser, sendo seu uso proibido para o cidadão comum. Nos EUA, por outro lado, vários estados permitem ao cidadão portar um Taser sem permissão especial.

O Taser emite ondas T, que possuem forma de onda parecida com a cerebral e tem ação direta sobre o sistema nervoso sensorial e motor do oponente. Com isso, o sujeito fica paralisado.

O alcance dos dardos do Taser é de até 10,6 m. Para facilitar o histórico de seu uso, a arma possui uma memória digital interna onde ficam registrados a data e o horário dos disparos. O cartucho dos dardos contém cerca de 20 confetes identificadores com o mesmo número serial do cartucho. Os confetes, no momento da deflagração, são liberados na cena do disparo.

O fabricante produz também o Taser XREP (eXtended Range Electronic Projectile), projétil sem fio disparado de uma arma calibre 12. Tem efeito de incapacitação neuromuscular com duração de 20 segundos, com alcance de 23 metros. Possui seis eletrodos causadores de choque e circuito eletrônico interno pesando apenas 3,4 gramas, com bateria. Seu invólucro é transparente e sua aerodinâmica de voo é estável.

Além do choque convencional, se a vítima, ao sentir a dor do impacto, puser instintivamente a mão sobre o projétil encravado na pele, o dispositivo dispara um forte choque adicional através do braço. Uma crueldade só. Mas quem manda?

ELETROLASER: Outro exemplo de equipamento não-letal é o eletrolaser, desenvolvido para os militares dos EUA. Também é uma arma de eletrochoque mas emprega uma tecnologia mais avançada - e intrigante, tipo ficção científica. O equipamento emite um laser em determinada direção e a energia desse raio quebra os gases atmosféricos em íons, que são pequenas partículas carregadas. Só que isso gera um calor danado, fazendo com que o ar se transforme em plasma, o quarto estado da matéria ( pt.wikipedia.org/wiki/Plasma ).

Plasma é um bom condutor elétrico, pois possui baixa resistência. Ele acaba funcionando como se fosse um fio esticado ao longo do raio laser. Se a energia do laser se mantém, então o plasma permanece quente e o canal continua "aberto".

Aproveitando esse tubo de plasma, uma fração de segundo depois é emitida uma fagulha elétrica em uma das extremidades. Ela se propaga pelo canal e só não escapa para os lados graças às forças magnéticas geradas pelo fluxo de plasma. Essa fagulha se transforma num pulso elétrico quente o bastante para queimar o oponente, tirando-o de ação. No entanto, a potência da arma é regulável, ou seja, se aumentar a intensidade da fagulha ela pode matar. Complicado, mas bem interessante. Ou não?

A empresa americana HSV Technologies desenvolveu um dispositivo assim usando dois feixes de laser ultravioleta de modo a imobilizar seres vivos à distância após poucos milissegundos. A corrente elétrica transmitida por esses raios tem valor próximo ao dos impulsos neuroelétricos que controlam nossos músculos. Ela é imperceptível à pessoa-alvo porque é diferente dos impulsos neurais dela. Em resumo, não dói.

Mas a corrente gerada pela arma tem uma taxa de repetição suficientemente rápida para "tetanizar" o tecido muscular. Expliquemos: "tetanização" é o estímulo de fibras musculares usando uma frequência que faz com que contrações individuais se transformem numa contração sustentada. Em suma, o camarada fica durinho da silva. Não é difícil de entender, né?

A arma não causa dano à córnea, que absorve as radiações ultravioleta utilizadas - mas, logicamente, se os raios forem focados no olho da criatura durante vários minutos, é claro que vão machucar. De resto, a corrente transmitida é insuficiente para afetar os músculos do coração e do diafragma. Derruba mas não mata. Mas a firma adverte: não se deve apontar essa arma para uma nuvem tempestuosa, já que pode induzir a formação de um raio.

Há também uma variante desse implemento usando pulsos eletromagnéticos capazes de interromper o funcionamento de motores e máquinas que usem ignição elétrica. Esses dispositivos foram apresentados em 2002, quando ainda eram apenas protótipos, num artigo da revista "Time" intitulado "Beyond the Rubber Bullet" ("Além da bala de borracha"), que pode ser lido em inglês em tinyurl.com/time2002. A patente do dispositivo variante foi concedida em janeiro de 2009 ( tinyurl.com/pulsegen ).

A empresa Applied Energetics também desenvolve eletrolasers, mas para outra finalidade. Desde 2005 vem criando aparelhos de laser-plasma para neutralizar dispositivos explosivos improvisados. Envolvida num programa secreto de desenvolvimento bancado pela JIEDDO (Joint Improvised Explosive Devices Defeat Organization) e atendendo os fuzileiros dos EUA, a empresa mal abre o bico sobre seus produtos e, muitos menos, suas especificações.

O LRAD pesa cerca de 20 kg e serve tanto como arma não-letal acústica ou com um poderoso megafone de foco preciso / Foto: Divulgação

LRAD: Outro tipo de armamento não-letal é o Dispositivo Acústico de Longo Alcance (LRAD - Long Range Acoustic Device), que emite uma onda sonora de alta energia. O som emitido tem 150dB (decibéis) mas consegue reter um nível de 100dB em distâncias de até 500 metros. Só para termos uma ideia, o limite de dor para o ser humano é de 130 dB, sendo 150 dB equivalente à pressão sonora do ruído de um avião a jato a 30 metros de distância.

O feixe sonoro do LRAD é concentrado num ângulo bem fechado, permitindo que a emissão seja mirada contra um alvo específico - o ouvido do mau elemento, claro, que vai ficar zureta.

O LRAD foi inventado pela American Technoloy Corporation também por encomenda das forças armadas dos EUA, depois que o navio USS Cole foi bombardeado por um bote suicida no Iêmen, em 12 de outubro de 2000. Além da função bélica, o LRAD também é usado para comunicações em áudio a grande distância e com alta nitidez sonora.

A equipe da SWAT da cidade de Santa Ana, na Califórnia, usou um LRAD para persuadir uma gangue a sair do esconderijo. Imaginava-se que eram apenas três suspeitos mas, depois apontar o LRAD, dez sujeitos que abandonaram a casa. Ou seja, o treco funciona que é uma beleza.

A polícia de Nova York usou o LRAD durante os protestos de 2004 durante a Convenção Nacional do Partido Republicano e em distúrbios em Times Square na virada do Ano Novo.

Um dos mais avançados modelos do LRAD, o 1000X, foi usado pela Marinha japonesa em abril de 2009 para evitar um ataque de piratas contra um petroleiro de Cingapura na costa da Somália. Respondendo a um SOS, o destróier japonês Sazanami usou o dispositivo para projetar uma advertência vocal em altíssimo volume em direção às lanchas dos piratas, afugentando-os.

ACTIVE DENIAL SYSTEM: O ADS é um dispositivo que direciona ao alvo uma radiação eletromagnética na faixa de microondas, à frequência de 95 GHz. As ondas emitidas aquecem as moléculas de água da pele humana a até 55C em menos de dois segundos, gerando sensação de calor extremo, mas sem queimar de verdade. O alcance da emissão é de cerca de 500 metros, podendo penetrar agasalhos grossos, atingindo até 0,4 mm de profundidade na pele, o suficiente para alcançar as terminações nervosas. Deve doer pacas.

Segundo o fabricante, o efeito doloroso é imediato mas cessa quando o ADS é desativado. Mas cobaias humanas relataram que a dor perdura por horas. Outro porém é que, se a vítima estiver encurralada, o ADS pode causar queimaduras se for aplicado por vários segundos.

Uma limitação quanto ao alcance é que as ondas não atravessam paredes. O ADS foi desenvolvido para os fuzileiros navais americanos pelo SSA (Security and Safety Performance Assurance), do Departamento de Energia dos EUA, que patrocinou o Sandia National Laboratories e trabalhou em conjunto com a empresa Raytheon e com o AFRL (Air Force Research Laboratory).

DAZZLER: O Dazzler é uma arma que empresa um foco de luz de alta intensidade gerado por laser, para causar cegueira ou desorientação temporárias. Vem sendo usado pelos militares americanos no Iraque.

O dazzler produz clarão bem focado que chega a dois quilômetros de distância / Foto: Divulgação

Um dos modelos adotados é o CHP Laser Dazzler, fabricado pela LE Systems. Ele usa um laser verde com potência de 500mW (miliwatts). O raio laser se expande num clarão, gerando um ofuscante fulgor verde capaz de penetrar fumaça e nevoeiro com um alcance duas vezes maior que o da luz branca normal. É apresentado em três formas: do tamanho de uma caneta (com alcance de 200 metros), na forma de uma lanterna de mão (500 metros) e montado em um rifle (dois quilômetros).

Outra arma parecida é o PHaSR (Personnel Halting and Stimulation Response), nome que lembra a pistola de raios do seriado Jornada nas Estrelas. Foi desenolvida pela ScorpWorks, uma unidade do laboratório de pesquisas da Força Aérea americana. É um rifle com design futurista que usa um sistema laser de duas cores e também ofusca a vítima.

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