Romance de espionagem é versão menos violenta de 'Sr. e Sra. Smith'.
Combinação entre espionagem, romance de alta voltagem, intriga e um pouco de comédia (vinda basicamente do absurdo de toda a situação), "Duplicidade", que estreou nesta sexta-feira (5), traz Julia Roberts de volta aos cinemas.
A atriz, que chegou a ser a mais bem paga do mundo, vem diminuindo o ritmo de trabalho nos últimos anos, e privilegiando passar tempo com a família. Nos últimos cinco anos, Roberts tem participado, em média, de apenas uma produção ao ano -e a aposta de agora é o filme escrito e dirigido por Tony Gilroy.
História de amor e sensualidade entre duas pessoas repletas de motivos para não confiarem uma na outra, "Duplicidade" é uma espécie de "Sr. e Sra. Smith" (de Jolie e Brad Pitt), com menos ação e violência. Ao contrário de sua estreia na direção, com "Conduta de risco" (2007), Gilroy aqui deixa de lado a seriedade, tentando (e conseguindo) se comunicar melhor por meio da comédia. Logo nos créditos iniciais, dois chefões sisudos da indústria farmacêutica -interpretados por Paul Giamatti e Tom Wilkinson- caminham um em direção ao outro e se atracam exageradamente, em câmera lenta.
Num prólogo, Claire (Julia Roberts) conhece Ray (Clive Owen, de "Filhos da esperança") numa festa em Dubai. Eles dormem juntos, mas ela sai à francesa e leva consigo alguma informação importante. Anos depois, eles se reencontram em uma missão. Ambos são ex-espiões governamentais que agora trabalham para empresa privadas -o que é muito mais rentável. Durante o reencontro se dá um diálogo memorável, que será repetido outras vezes em diversas situações e para os mais variados efeitos.
Há um motivo óbvio mostrando como um foi feito para o outro: jamais encontrarão um par tão à sua altura, mas, ao mesmo tempo, nunca poderão confiar um no outro. Ainda assim nenhum dos dois, embora juntos por motivos do coração e do bolso, quer confessar seu amor. Afinal, a outra parte iria acreditar?
Se no passado o que movia os filmes de espionagem era a Guerra Fria, com nações assimétricas e igualmente poderosas, agora o marketing global é responsável por movimentar esse gênero cinematográfico. Gilroy, que também roteirizou os filmes da trilogia "Bourne", sabe disso e coloca em cena duas empresas de grande porte, numa guerra séria, pelo mercado de xampu, fraldas geriátricas, cremes e loções.Num mundo onde segredos valem ouro, Claire e Ray fazem de tudo para esconder o seu relacionamento. Viajando lado-a-lado pelo mundo todo -Roma, Londres, Dubai, Nova York- a dupla se encontra e desencontra, seduz um ao outro e troca segredos e informações confidenciais. Indo e voltando no tempo, Gilroy pede de seu público concentração para montar o quebra-cabeças de intriga e enganos de "Duplicidade".
Uma das duas empresas tem uma fórmula que promete render lucros incalculáveis. Juntos, Claire e Ray deverão roubar a fórmula e enviá-la para a concorrente. Gilroy brinca o tempo todo com o conceito de duplicidade: quem trabalha, na verdade, para quem? Quem, realmente, seduz quem?O longa é um jogo de espelho, repleto de reflexos e leituras: uma comédia romântica no mundo da espionagem industrial, um suspense cômico cujo pano de fundo é o amor -- ou um filme bastante inteligente, que brinca de se levar a sério. Qualquer que seja a opção, "Duplicidade" mostra que ainda há vida inteligente respirando em Hollywood.
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