Documentário traz de volta a saudosa TV Manchete - Confira o Teaser

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Dores e problemas causados pelo salto alto não assustam adolescentes em SP

Pesquisa da USP mostra prejuízos causados pelos sapatos nas jovens.
Maior altura e elegância valem enfrentar a dor para as meninas
Foto: Daigo Oliva/G1

Mesmo com 1,70 metro de altura, a estudante Isadora não abre mão dos saltos de 10 centímetros

A estudante Isadora Cristina dos Santos, de 16 anos, já sentiu dores nos pés após muito tempo usando salto alto, mas só abre mão de ganhar até 10 centímetros de altura quando vai para a escola – onde o calçado é proibido. A rotina dela é semelhante à de muitas outras adolescentes que já expressam desde cedo a paixão pelos sapatos de salto. E essas jovens não se assustam com resultados como o de uma pesquisa publicada recentemente na Universidade de São Paulo (USP), que aponta de maneira concreta os prejuízos causados na postura e no modo de andar das meninas.

“As crianças e adolescentes estão usando salto cada vez mais cedo. Nas clínicas de fisioterapia, há muitas meninas com problemas de postura e dores na coluna e nos pés. E esses problemas vão ficar com elas para sempre. Qualquer tipo de alteração nesta fase é o que ela vai levar para a vida adulta”, explica a fisioterapeuta Patrícia Angélica de Oliveira Pezzan, que estudou o assunto em sua dissertação de mestrado na Faculdade de Medicina da USP.

Os resultados apontam que o uso constante do salto pode causar aumento da lordose lombar – uma curva acentuada na base da coluna – e também a anteversão da pelve – o chamado “bumbum empinado”. Além disso, foi constatada a aproximação dos joelhos das meninas, deixando as pernas em formado de X. “Isso gera um desequilíbrio muscular muito grande. Alguns músculos ficam mais fracos, outros mais encurtados, ao longo do tempo isso gera dores, sobrecarga muscular. Se elas não mudarem esse hábito, podem ter até mesmo artrose precocemente”, explicou a fisioterapeuta.

A vaidade, entretanto, supera o medo. Aspirante a modelo, Isadora -que começou recentemente a fazer um curso para a profissão- usa saltos desde os 11 anos. “Eu acho bonito, acho que a gente fica mais mulher. Minha mãe e minhas irmãs mais velhas também sempre usaram, e eu peguei delas a mania”, conta a jovem, que está longe de ser baixa – tem 1,70 metro de altura.

“Às vezes, sinto dor no pé e no pescoço quando fico muito de salto, vou para a balada. Sei que é verdade, que pode causar problemas. Tenho medo de ter alguma coisa, mas não deixo de usar. Às vezes, uso uma rasteirinha para variar um pouco. Mas adoro um salto”, explica a adolescente.

Baixinha com mania de ser alta

Com apenas 13 anos, Débora Martins Lopes também faz parte do time que está acostumada com os saltos desde pequena. A menina, que tem 1,44 metro de altura, tem como inspiração a mãe, que só anda de salto. “Baixinha tem mania de ser alta. Eu adoro salto alto, a gente se sente mais confiante. Tem uma hora que cansa, mas de noite só saio de salto”, conta a adolescente, que diz ter cerca de 12 pares do tipo.

Assim como Isadora, ela só não usa salto na escola porque é proibido, e ouve da avó reclamações sobre a altura dos sapatos. “Ela fala bastante, diz que eu vou ter problema por causa de salto. Eu tenho medo, mas é difícil parar de usar, prefiro ficar mais alta.”

Foto: Daigo Oliva/G1

Isadora conta ter medo de ter problemas, mas continua a usar as sandálias altas em suas saídas

A menina conta que se usa os sapatos altos durante muito tempo sente dores no peito do pé, mas não pensa em deixá-los de lado. “Minha mãe também sabe que vai dar dor, mas continua usando Posso tentar usar menos, mas nunca deixar de usar.”

Reclamações

Marcela Pereira Mendonça, de 16 anos, está acostumada com as reclamações por causa do salto. “Já ouvi ‘Se você quebrar o pé, não vou levar para o hospital’ do meu pai, quando saio de salto muito alto. Quanto mais alto ele é, mais dor eu sinto, mas eu acho bonito, elegante. A beleza vale a dor”, conta. A menina machucou o tornozelo há um ano jogando vôlei, mas abrir mão do salto para sair de casa está fora de cogitação.

“Eu tenho medo por causa do tornozelo, mas muito raramente eu uso uma sapatilha, só quando estou com muita dor, de dia. Para mim, salto é fundamental. Não vou deixar de sair com eles à noite por causa da dor. É um risco que vale enfrentar”, conta a adolescente, que tem 1,60 metro de altura e 17 sapatos de salto no armário.

Método

Patrícia avaliou 50 meninas entre 13 e 20 anos que usavam o salto pelo menos três vezes por semana, por quatro horas consecutivas, em pé. Sua postura e o modo de andar foram comparados com os de 50 jovens consideradas não-usuárias – que usavam o salto apenas esporadicamente, por exemplo. Com o salto, há um desequilíbrio das forças musculares ao caminhar. “Encontramos meninas já com muitas dores na coluna, nos joelhos, algumas até com limitações do movimento da pelve.”

Apesar de o estudo ter sido feito com o salto anabela, a pesquisadora diz que tudo indica que os prejuízos são ainda maiores com saltos finos. “É preciso mudar essa mentalidade. É possível estar elegante sem o salto, que prejudica tanto. As adolescentes têm que pensar que nessa idade é mais fácil de corrigir, elas ainda estão em desenvolvimento. O ideal é controlar o uso para evitar problemas na vida adulta.”



Nenhum comentário:

Postar um comentário