Exame apresentou diversas falhas na sua organização.
Enem precisaria ter tido mais planejamento
A educação no Brasil sempre foi um ponto delicado. É uma área onde não faltam boas ideias, mas que, na prática, deixam a desejar. Fica a impressão que um projeto, ao ser colocado em funcionamento, é feito de qualquer jeito e de maneira afobada, sem considerar as diferentes variáveis que o envolvem.
Com o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) não tem sido diferente. Sem dúvida é um grande projeto. Torna à primeira vista, e só o tempo e a vivência vão dizer, o acesso às universidades algo mais democrático. Porém, envolve tantas coisas que precisaria de tempo e bastante planejamento para ser implantado com o mínimo de problemas (por mais que planejemos, não estamos livres deles).
O principal fator em jogo é o grande número de pessoas que estão apostando seu futuro profissional nesse exame. A prova é unificada para disputar vagas em diferentes instituições de nível superior. Caso haja algum problema que os impossibilitem de fazê-la, vão perder várias chances de ingressarem em uma faculdade. Por isso, a organização é fundamental.
E aí, os contratempos já começaram. Muitos jovens têm reclamado de onde vão realizar suas provas -às vezes, em locais longe de suas casas e de difícil acesso. Alguns vão ter que viajar para outra cidade, como é o caso da estudante Yasmin Coutinho Oliveira, que mora na zona norte do Rio de Janeiro e estava escalada para fazer o exame a cerca de 112 quilômetros de distância, na cidade de Volta Redonda, no sul do estado, segundo o G1. Algo sem nexo num momento em que a pessoa está indo para fazer uma prova que se pretende, inclusive, facilitar a vida do estudante.
Vários deles estavam em situação parecida e a justificativa do MEC era que eles erraram na hora de se inscreverem. Mas os alunos insistem que o que houve foi desorganização na hora das inscrições.
De todo modo, algo não estava claro na hora de selecionar o lugar de fazer a prova. Imagino que ninguém em sã consciência escolheria fazer um exame importante com esse a 170 quilômetros de sua casa, como Yasmim.
Como isso não bastasse, a grande surpresa foi o adiamento da data de realização do exame. Um grupo de pessoas, julgando-se muito esperto, resolveu furtar e ganhar alguns trocados com a venda da prova. Foram pegas, não ganharam nem um tostão, armaram a maior confusão na vida de mais de quatro milhões de estudantes, fora o prejuízo financeiro. No entanto, deixaram descoberta a fragilidade com que se deu o processo de implantação do novo Enem.
Além de mexer com a vida dos estudantes, que estão se sentindo inseguros inclusive com a organização da correção das provas, isso vai interferir nas universidades. Algumas não sabem se poderão considerar a nota do Enem. Outras pensam em atrasar seu ano letivo. Sem contar que o calendário dos vestibulares vai ficar próximo da nova data do exame.
O que podemos considerar disso tudo é que houve um relaxo. Forçaram a implantação do novo formato para esse ano. Ainda não ficou claro o porquê. Cabe lembrar que a instituição, que há anos o aplica, recuou devido ao curto tempo que tinham para se organizarem desde a licitação até o dia da prova. Sabem que isso tudo não é uma brincadeira. Agora, estão tendo que socorrê-lo.
Torçamos para que a lição seja aprendida. Não adianta apressar as coisas e fazê-las de qualquer jeito só para mostrar serviço e marcar um ponto na história. A ideia, como muitas outras, é boa, mas não a deixaram amadurecer.(Ana Cássia Maturano é psicóloga e psicopedagoga)
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