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quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Opinião: Pais não precisam saber o que professores fazem fora da sala de aula

Docente deve ser como os super-heróis, que mantêm 'identidade secreta'.
Para professora demitida após dança sensual em boate, faltou bom senso.
Foto: Arte/G1

Na semana passada, uma das matérias mais lidas no G1 foi a da professora da Bahia demitida de uma escola onde dava aulas para crianças de cinco anos. Ao se empolgar em um show de pagode, subiu ao palco e dançou de maneira sensual e até vulgar, mostrando partes de seu corpo. Sua dança foi filmada e divulgada no You Tube. Segundo consta, o vídeo teve mais de 100 mil acessos.

A saída do emprego foi consensual, de acordo com a direção da escola. Mudar-se de casa com a filha de sete anos foi resultado da retaliação de seus vizinhos, conforme informação de seu advogado, que acredita que ela não cometeu crime nenhum, o que não deixa de ser verdade.


Situações desse tipo têm se tornado cada vez mais frequentes. As pessoas, em alguns momentos de intimidade, deixam-se filmar ou fotografar e as imagens vão parar na internet. Às vezes, como é o caso da professora, a sua revelia.

No caso dessa moça, mesmo que ela não quisesse ter sido filmada e exposta, ela se sujeitou a isso quando, em um ambiente público e por vontade própria, subiu ao palco e dançou a coreografia da música com o sugestivo nome de "Todo enfiado". Apesar de ser um direito seu e estar longe de ser um crime, ela se expôs a muitas pessoas com aquela dança, numa ilusão, talvez, de que, por estar numa casa de shows, estaria com sua intimidade preservada.

Só que todos viram. E, por mais que saibamos que até os professores têm sua sensualidade e sexualidade, isso faz parte da identidade secreta deles, assim como os super-heróis. O que precisamos saber dos professores de nossos filhos é que são bons educadores e que têm bom senso. E ter bom senso significa, entre outras coisas, separar o que deve ser levado ou não a público – preservando aquilo que só interessa a eles e que está na esfera da intimidade.

Não se sabe como essa professora é em seu ofício de ensinar, mas parece que não há nada que a desabone. Porém, sabemos que, para as crianças, os professores são mais que seres humanos comuns, são pessoas a serem seguidas e imitadas. São heróis com os quais elas se identificam, verdadeiros objetos de amor, o que não quer dizer que tenham que ser perfeitos. Longe disso. São feitos de carne e osso.

No caso dessa moça, o que lhe faltou foi bom senso em relação à ela própria e a sua filha. Ao se expor daquele modo, deixou aparente a frágil noção que tem da preservação de si, mesmo que o vídeo não tivesse ido parar na internet.

O que deixa em dúvida para os outros, principalmente no seu papel profissional, é sobre como será sua conduta nesse sentido para com os pequenos. Nenhum pai quer que seu filho aprenda que é interessante dançar vulgarmente como a professora ou que a sua intimidade deva ser mostrada em público. Na verdade, dificilmente as pessoas se entregariam a qualquer profissional assim.

E, para aprender, é necessário que haja confiança e entrega, mas não só da parte do aluno. Em tão tenra idade, muito da relação de confiança que a criança poderá estabelecer com seu professor dependerá do comportamento dos pais em relação a ele. Precisam ter certeza de que deixam seus filhos aos cuidados de alguém em quem acreditam e apostam, não tirando a autoridade daquele que ensina -algo difícil de manter após vê-la em situação vulgar.

É por meio da confiança e da ligação do aluno com o professor que a aprendizagem pode se dar. Para tanto, o primeiro terá que ser um super-herói, de carne e osso, mas com sua identidade secreta. E não só herói dos alunos, mas dos pais também. O que não quer dizer, em nenhum momento, que essa professora, ao revelar aspectos de sua intimidade, teria um comportamento inadequado com seus alunos.

(Ana Cássia Maturano é psicóloga e psicopedagoga)

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