Para professora demitida após dança sensual em boate, faltou bom senso.
Na semana passada, uma das matérias mais lidas no G1 foi a da professora da Bahia demitida de uma escola onde dava aulas para crianças de cinco anos. Ao se empolgar em um show de pagode, subiu ao palco e dançou de maneira sensual e até vulgar, mostrando partes de seu corpo. Sua dança foi filmada e divulgada no You Tube. Segundo consta, o vídeo teve mais de 100 mil acessos.
A saída do emprego foi consensual, de acordo com a direção da escola. Mudar-se de casa com a filha de sete anos foi resultado da retaliação de seus vizinhos, conforme informação de seu advogado, que acredita que ela não cometeu crime nenhum, o que não deixa de ser verdade.
Situações desse tipo têm se tornado cada vez mais frequentes. As pessoas, em alguns momentos de intimidade, deixam-se filmar ou fotografar e as imagens vão parar na internet. Às vezes, como é o caso da professora, a sua revelia.
Só que todos viram. E, por mais que saibamos que até os professores têm sua sensualidade e sexualidade, isso faz parte da identidade secreta deles, assim como os super-heróis. O que precisamos saber dos professores de nossos filhos é que são bons educadores e que têm bom senso. E ter bom senso significa, entre outras coisas, separar o que deve ser levado ou não a público – preservando aquilo que só interessa a eles e que está na esfera da intimidade.
Não se sabe como essa professora é em seu ofício de ensinar, mas parece que não há nada que a desabone. Porém, sabemos que, para as crianças, os professores são mais que seres humanos comuns, são pessoas a serem seguidas e imitadas. São heróis com os quais elas se identificam, verdadeiros objetos de amor, o que não quer dizer que tenham que ser perfeitos. Longe disso. São feitos de carne e osso.
No caso dessa moça, o que lhe faltou foi bom senso em relação à ela própria e a sua filha. Ao se expor daquele modo, deixou aparente a frágil noção que tem da preservação de si, mesmo que o vídeo não tivesse ido parar na internet.
O que deixa em dúvida para os outros, principalmente no seu papel profissional, é sobre como será sua conduta nesse sentido para com os pequenos. Nenhum pai quer que seu filho aprenda que é interessante dançar vulgarmente como a professora ou que a sua intimidade deva ser mostrada em público. Na verdade, dificilmente as pessoas se entregariam a qualquer profissional assim.
E, para aprender, é necessário que haja confiança e entrega, mas não só da parte do aluno. Em tão tenra idade, muito da relação de confiança que a criança poderá estabelecer com seu professor dependerá do comportamento dos pais em relação a ele. Precisam ter certeza de que deixam seus filhos aos cuidados de alguém em quem acreditam e apostam, não tirando a autoridade daquele que ensina -algo difícil de manter após vê-la em situação vulgar.
É por meio da confiança e da ligação do aluno com o professor que a aprendizagem pode se dar. Para tanto, o primeiro terá que ser um super-herói, de carne e osso, mas com sua identidade secreta. E não só herói dos alunos, mas dos pais também. O que não quer dizer, em nenhum momento, que essa professora, ao revelar aspectos de sua intimidade, teria um comportamento inadequado com seus alunos.
(Ana Cássia Maturano é psicóloga e psicopedagoga)
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