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quinta-feira, 20 de agosto de 2009

REVELAÇÃO: Esporte 'devagar e sempre' faria mal a idosos

Novos estudos afirmam que atividades de longa duração para idosos favorecem a perda de cálcio, mineral essencial para os ossos
Reportagem de Francine Lima para a revista ÉPOCA

Nesta semana, um evento promovido pelo Grupo Pão de Açúcar reuniu pesquisadores estrangeiros e profissionais brasileiros para discutir uma questão que interessa a todo mundo: como viver mais e melhor. O tema central das palestras e debates era o tipo de exercício físico que mais favorece um envelhecimento saudável. Ficou claro que cinquentões que desejam passar dos 60 firmes e fortes não devem se render à fama de frágil que o idoso normalmente leva. A melhor estratégia para adiar as perdas inevitáveis que a idade provoca – como redução da massa muscular e da massa óssea e perda de funções do aparelho locomotor – é pegar pesado. Nada de caminhadinhas lentas ao gosto do freguês. Idoso precisa é de exercício curto e intenso, disseram os palestrantes.

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ATIVIDADE PESADA
Exercícios vigorosos são mais eficientes para provocar o depósito de cálcio nos ossos

A tese tem várias explicações. A primeira delas, aceita há mais tempo, é que os exercícios vigorosos, que exigem bastante força muscular e envolvem impacto (jogos com bola levados a sério, por exemplo), são mais eficientes em provocar o depósito de cálcio nos ossos, aumentando a densidade óssea. O aumento da densidade é uma resposta defensiva do osso ao esforço "arriscado" que os exercícios que envolvem força muscular e impacto representam. Já a natação, que não tem impacto nenhum, não contribui para aumentar a densidade óssea. A caminhadinha leve também não. Portanto, os exercícios amenos não são uma opção muito desejável para quem precisa se cuidar contra a osteoporose.

Outro argumento em defesa dos exercícios pesados para os idosos é a perda de massa óssea durante o exercício aeróbio. Essa foi a maior revelação do evento, trazida pela fisiologista Wendy Kohrt, professora titular da cadeira de Geriatria da Universidade de Denver (EUA). Um estudo feito por sua equipe com homens ciclistas (atletas) sugere que exercícios de longa duração, que geram grande quantidade de suor, favorecem a perda de cálcio na transpiração. Algo como 100 mg por hora. No mesmo estudo, o uso de uma bebida enriquecida com cálcio antes e depois do treino mostrou-se eficiente na recuperação da massa óssea. Agora, a pesquisadora está repetindo o estudo com mulheres em menopausa. Os resultados preliminares sugerem que o que acontece com atletas jovens também pode ser observado em idosos.

Leia a seguir a entrevista exclusiva de Wendy Kohrt para ÉPOCA.

 Divulgação
WENDY KOHRT
Professora titular de Geriatria da Universidade de Denver

ÉPOCA – Por que os treinos longos reduzem a densidade óssea?
Wendy Kohrt – Alguns atletas treinam 20 horas por semana. Isso significa dois gramas de cálcio a menos, pois perde-se, em média, cerca de 100 miligramas por hora. Então parece que pessoas que se exercitam muito realmente precisam ingerir mais cálcio. Nós absorvemos apenas um terço do cálcio que ingerimos. Se ingerimos 1.000 miligramas, somente 300 mg irão realmente ser absorvidos. Se você faz três horas de exercício vigoroso por dia, você pode estar perdendo todo o cálcio que ingere.

ÉPOCA – Recentemente, ÉPOCA publicou uma reportagem sobre a necessidade de tomar ou não suplementos de vitaminas e minerais. Nenhum dos especialistas que consultamos mencionou haver uma diferença entre as necessidades de um atleta e de uma pessoa inativa.
Wendy – Me parece que essa é um campo de estudos novo. Nós começamos a publicar nossos resultados. À medida que isso entra na comunidade científica, mais pessoas passarão a pesquisar isso e o assunto ficará mais conhecido. As pessoas que fazem muito exercício deveriam, sim, considerar um aumento na quantidade de cálcio na alimentação ou tomar suplementos. Assim o exercício poderia ser otimizado.

ÉPOCA – No seu estudo, vocês usaram suplemento de cálcio, certo?
Wendy – Sim. Nós demos aos ciclistas uma bebida especial com cálcio. Queríamos verificar se, tomando essa bebida antes do exercício e durante, eles poderiam prevenir o aumento da produção dos hormônios que causam a degradação óssea. Agora temos evidências de que podemos pelo menos reduzir o aumento na produção desses hormônios.

ÉPOCA – A senhora acredita que nesse caso o suplemento funcione melhor que comida?
Wendy – Não funciona necessariamente melhor. Queríamos que fosse um líquido, porque na forma líquida o cálcio chegaria mais rapidamente ao sistema circulatório. Líquidos são digeridos mais rapidamente que sólidos. E também queríamos controlar muito cuidadosamente a quantidade de bebida que iríamos administrar aos participantes. Por isso não usamos comida.

ÉPOCA – Eles eram todos atletas?
Wendy – A maioria eram ciclistas competitivos. Agora estamos repetindo o estudo com mulheres menopausadas que caminham vigorosamente por uma hora. A ideia é verificar se a mesma coisa que acontece com pessoas jovens vai se repetir com as mais velhas. Fizemos o estudo com poucas mulheres até agora, mas há indicações preliminares de que o mesmo acontece, sim.

ÉPOCA – Se eu sou jovem e faço musculação, eu deveria tomar cálcio durante meu exercício?
Wendy – Nós estamos no começo dos estudos, eu não poderia afirmar isso. Mas a musculação não faz suar muito. Pessoas que não transpiram tanto provavelmente não precisam se preocupar. Nós não podemos ainda tirar grandes conclusões desse estudo. A suspeita é que a perda de cálcio pelo suor é o motivo pelo qual algumas pessoas não conseguem obter o benefício que o exercício traz para os ossos. Nós usamos ciclistas porque, como grupo, eles tendem a apresentar maior densidade óssea. Também se caracterizam por treinar por muitas horas. Apesar de o ciclismo não ser um exercício que envolva peso, era esperado que eles tivessem uma massa óssea normal, não que houvesse perda de massa óssea. O exercício prolongado em si não seria um motivo suficiente para haver perda de massa óssea. O suor, sim. Mas, como eu disse, ainda não posso fazer recomendações para todo mundo.

ÉPOCA – É possível medir quanto perdemos de cálcio no suor?
Wendy – No laboratório, sim. Na vida normal, não. Nós aplicamos um material absorvente sobre a pele do atleta, diversas vezes. Esprememos o líquido desse material e enviamos para análise. O que obtemos é uma estimativa crua do total de cálcio perdido no suor. Não é algo que qualquer pessoa possa fazer sozinha.

ÉPOCA – E é possível medir a quantidade de suor? Como saber se transpiramos muito ou pouco?
Wendy – Ah, sim. E isso é simples. Basta pesar-se antes e depois do exercício, sem as roupas molhadas, e somar a quantidade de líquido que ingeriu durante. Se você bebeu um litro e terminou o exercício dois quilos mais leve, deve saber que na verdade perdeu três quilos, já que repôs um.

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