Moda da alta gastronomia dá lugar à necessidade de comida caseira.
A chef Luiza Zaidan ao lado das alunas Érica Matusita (à esq.) e Monica de Almeida
Nada de alta gastronomia. A psicóloga Isabella Teodoro, de 24 anos, mora sozinha em São Paulo há cinco anos e, às vésperas do casamento, se deu conta de que precisava de uma ajuda profissional para aprender a fazer arroz com feijão. Foi por isso que ela contratou a personal chef Luiza Zaidan, que vai até a casa da aluna para ensinar justamente a cozinhar o trivial.
“Sempre tive alguém que fizesse para mim. Eu só ia para a cozinha quando era para fazer, no máximo, um risoto para os amigos. Já a comida do dia-a-dia, eu não sabia fazer mesmo”, conta a jovem, que, após seis aulas, aprendeu a preparar feijão, a fazer bife, estrogonofe, farofa de banana e torta de frango, entre outros pratos.
A bancária Érica Matusita, de 32 anos, tinha a mesma dificuldade que Isabella. “Meu arroz não ficava muito bom”, conta ela, que mora sozinha e tem cozinha equipada, mas não costuma fazer refeições em casa.
Mas a situação deve mudar na cozinha de Érica, depois que ela completou o seu curso básico e personalizado de culinária, na última quinta-feira (28). “O legal de fazer o curso é que a gente aprende muitas dicas para o dia-a-dia, como tirar pele de tomate e cortar cebola. O fato de observar a mãe cozinhando até ajuda, mas chega uma certa idade em que a gente não quer mais ficar olhando ninguém cozinhar, né?”, brinca.
Segundo a chef Luiza, que dá esse tipo de aula há menos de um ano, o perfil das alunas que sentem a necessidade de aprender a cozinhar o arroz com feijão é formado por jovens que vão morar ou já moram sozinhas, que vão se casar ou que vão se mudar para o exterior. “Elas querem a comida tradicional caseira e que seja bem light”, completa.
A bancária Mônica aprende a fazer torta de limão
A internet até é fonte de informação vez ou outra com receitas, mas o que essas meninas querem mesmo é acompanhar a chef cozinhando ao vivo, na casa delas. “Assim fica mais fácil de tirar as dúvidas”, diz Luiza. "Com as aulas, a gente também aprende qual tempero combina com qual alimento", completa Isabella.
O também chef Luis Felipe Calmon, professor da Orbacco Espaço Gastronômico, na Zona Oeste de São Paulo, é o responsável por um curso com nome curioso: “Tem um monstro na minha cozinha”. “As aulas são voltadas para aqueles que têm uma “relação de terror” com o lugar”, brinca.
Nas suas respectivas aulas, tanto Calmon quanto Luiza ensinam o básico da cozinha, como usar os utensílios, lidar com os temperos e até como manusear e cortar os alimentos.
Chá de panela
A editora de vídeo Karen Melzer, de 28 anos, completou recentemente o seu curso básico de culinária. Em uma das aulas, Karen se viu rodeada de jovens com o mesmo interesse pela cozinha que ela: era um chá-de-panela, em que a noiva dividiu a atenção das amigas com a chef e seus ingredientes.
“Arroz eu sabia fazer, mas o bife eu temperava meio mal. Agora estou gostando de cozinhar porque eu vi que vai ficando bom”, conta a jovem que recebeu elogios do marido e acabou espalhando a moda no blog que comanda, o Chá das Panelas.
A sugestão de Karen é que a noiva seja presenteada com um pacote de aulas de culinária, “pois nada melhor que uma recém-casada prendada”, brinca. “As noivas muito religiosas, principalmente as evangélicas, me pediam muitas sugestões. Acho que essa é uma opção útil e que vai agradar a todas”, sugere.
Referência familiar
Entre os alunos que procuram o curso básico de culinária, Calmon observa que a maioria não tem referência familiar de cozinha, como acompanhar a mãe ou o pai preparando pratos para a refeição do dia-a-dia. “Acho que isso tem muito a ver com essa geração criada por pais que trabalham fora o dia todo. Essas crianças são os adultos de agora”, completa.
A bancária Monica de Almeida, de 26 anos, até tentou puxar da memória, mas não se lembra de já ter visto a mãe cozinhando. A vontade de contratar a chef Luiza veio após dar de cara com a irmã mais nova dominando o fogão.
“Quando se pega a base, fica mais fácil. Já vou até comprar livros para ampliar as receitas”, conta Mônica, que está às vésperas de se mudar para Londres. “Lá é tudo muito caro e não dá para comer fora todo dia”, diz a jovem, justificando o investimento para aprender a cortar cebola, descascar tomate e preparar feijão como qualquer moça prendada.
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