Biólogo diz que é preciso considerar gasto de água e uso de detergente.
Preocupadas com o planeta em que seus bebês vão viver no futuro, mães no Brasil e pelo mundo afora vêm embarcando numa viagem ao passado. É um movimento que prega a volta das fraldas de pano como uma alternativa aos modelos descartáveis, com o objetivo de causar menos danos ao meio ambiente.
No Rio, essa moda ecologicamente correta ainda está engatinhando, mas já encontra seguidoras, como a carioca Raquel de Lucena. Depois de ter Zahra por meio de parto natural, há quase sete meses, ela decidiu que tudo da filha seria “o mais natureba possível”. Optou pelas fraldas de pano tradicionais, que foi buscar na mesma fábrica que sua mãe comprou as suas, quando bebê.
“Fizeram um chá de fralda surpresa, mas eu queria não usar muito as descartáveis. Decidi que ia ficar com as que ganhei e usar as de pano junto. Toda vez que posso deixo ela só no pano, com a fralda caretona mesmo, tradicional. Nem usei alfinete, só amarrei”, conta Raquel.
“Utilizando a de pano sempre que posso, eu me sinto diminuindo a quantidade de fraldas descartáveis despejadas nos lixões, além da sensação boa em deixar minha filha mais livre e ‘ventilada’.”
Por menos fraldas nos lixões
Hoje, os modelos de pano ganharam nova roupagem, com o mesmo formato das de plástico. A diferença é que, após o uso, em vez do lixo, vão direto para o tanque e ou para a máquina de lavar.
Foram essas que a jornalista Ana Paula Calabresi, carioca que mora desde 2007 em Vancouver, no Canadá, decidiu usar com a filha Alice, de 6 meses, pelo menor impacto que têm no meio ambiente. Por não ter quantidade suficiente dos modelos de pano, ela as alterna com as descartáveis.
“Dão mais trabalho, mas é como lavar roupa normal. Tem toda a questão do uso da água, mas a água é tratável. Os lixões só acumulam mais e mais as fraldas de plástico, que demoram centenas de anos para se decompor”, conta Ana, que comprou as suas pela internet, da marca Fuzzi Bunz, que comercializa seus produtos em países como o Canadá, o Chile e os Estados Unidos. A escolha ecologicamente correta também se traduziu em economia.
“Apesar do custo inicial das fraldas de pano ser maior (elas não são tão baratinhas), no longo prazo o investimento se paga e acho que você ainda sai no lucro”.
Biodegradáveis
A analista de sistemas Suzana Velloso usou fraldas de pano, compradas nos Estados Unidos, até os 5 meses de seu filho Otávio.
“O que mais me fez usar foi uma questão dele não ter contato com fralda descartável tão novinho, porque dá muita assadura. Essa fralda de pano não dá assadura, não precisava usar creme nenhum”, conta Suzana.
O bebê hoje está com 9 meses e os modelos comprados ficaram pequenos. Suzana agora espera que ele cresça mais um pouquinho para usar as biodegradáveis gDiapers, também encontradas lá fora.
O modelo é o mesmo que a atriz Julia Roberts disse ter usado em seus gêmeos, em entrevista à revista americana “Vanity Fair”, em 2007.
Assim como nos Estados Unidos, um levantamento publicado pela empresa de pesquisas Mintel, em 2008, revelou que o uso de fraldas de pano quadruplicou na Grã-Bretanha nos últimos anos, devido à preocupação dos pais com o ambiente.
Segundo a pesquisa, o uso de fraldas de pano aumentou em 6 pontos percentuais de 2005 a 2007, e hoje chega a 8% dos pais com filhos que ainda usam fraldas.
Uma enquete feita pelo G1 nas ruas e em um shopping de grande circulação do Rio, no entanto, revelou que por aqui a maioria ainda resiste em abrir mão da praticidade das fraldas descartáveis. (Veja o vídeo acima)
Mães que trabalham enfrentam dificuldades
Francielle Zanon – que ao lado do marido Gabriel Moojen protagonizou a série “O mundo de Valentina”, sobre as expectativas de um planeta melhor para a filha – é uma das que, apesar da preocupação com o meio ambiente, não conseguiu aderir ao movimento.
Francielli com Valentina: "Para mães que trabalham, como eu, é complicado"
“É uma causa muito nobre, mas é muito difícil. Para mães que trabalham, como eu, é complicado. O negócio seria um bom investimento em fraldas biodegradáveis. A causa é muito nobre, seria o ideal, mas a mãe moderna não agüenta”, conta Francielli, que agora está tentando desfraldar Valentina, com 1 ano e 10 meses.
Outra engajada na proteção ao meio ambiente que tentou, mas não conseguiu seguir com o uso das fraldas de pano é a apresentadora Cynthia Howlett. “Comecei mas desisti... Dá muito trabalho...”
Vendas têm aumentado no Brasil
Pioneira na fabricação dos novos modelos de fraldas de pano no Brasil, a engenheira química Bettina Lauterbach viu o número de pedidos passar de dez para 400 por mês, em dois anos.
“A procura vem aumentando gradualmente. A propaganda é no boca a boca. É um público mais alternativo. A mãe perua, de salto alto, não aceita o produto”, conta Bettina, que fabrica essa nova geração de fraldas ecologicamente corretas em Gramado, no Rio Grande do Sul, e as vende pela internet.
Ao criar sua alternativa às fraldas descartáveis, ela contou com a opinião de pais e mães que já usavam seus slings (faixas de pano em que o bebê é segurado junto ao corpo).
“Elaboramos um modelo e enviamos para quem comprava os slings. Algumas mães nem olharam, outras testaram e deram opiniões e fizemos adaptações. A aceitação está sendo muito boa. Tenho mães no segundo filho que reaproveitaram todas as fraldas”, conta.
As fraldas de pano fabricadas Bettina Lauterbach no Sul do país têm o mesmo formato das descartáveis
Para convencer mães de primeira ou segunda viagem a comprar seus modelos – que custam a partir de R$ 17,50 – Bettina expõe em seu site que, até os 2 anos de vida, uma criança usa cerca de 5.500 fraldas, que levam anos e anos para se decompor nos lixões.
Para biólogo, empresas deveriam investir em novos materiais
Para o biólogo Mario Moscatelli, se por um lado você tira as fraldas dos lixões, por outro consome mais água.
“É o cobertor curto. Você utiliza mais água e detergente, que nem sempre é biodegradável. Já a fralda descartável tem o material plástico, que vai ficar ad eternum (eternamente) em processo de decomposição”.
Para o ambientalista, a melhor solução seria um investimento, por parte das empresas, na busca por materiais que causassem menos danos ao meio ambiente.
“Antigamente era um tempo em que a mulher não trabalhava. Hoje, o ponteiro do relógio parece estar acelerado. O ideal seria que as empresas fizessem fraldas descartáveis com materiais que entram em decomposição mais facilmente e que esse resíduo fosse encaminhado a um aterro sanitário. É um rumo mais pé no chão”, diz Moscatelli.
Absorventes de pano também de volta
Esse movimento pelo bem do planeta vem ressuscitando ainda os absorventes reutilizáveis. Eles também voltaram com nova roupagem, ganhando a preferência de gente como a tradutora e empresária Silvia D. Schiros, que mantém o blog Faça a sua parte.
O aBiosorvente, de pano, é fabricado há oito anos: procura tem aumentado lentamente
Tatiana Moraes, uma das responsáveis pelo aBiosorvente, fabricado há oito anos, conta que a ideia foi desenvolvida por sua sócia, Diana Hirsh, como uma alternativa aos absorventes descartáveis
“Diana descobriu que os absorventes reutilizáveis eram uma realidade em outros países como EUA, França e Canadá. Como sabia costurar, ela fez os absorventes para consumo próprio, mas logo as amigas começaram a pedir, aí surgiu a ideia de comercializá-los. A procura tem aumentado, sim, porém de forma muito lenta. Parece que mudar hábitos é muito difícil”, conta Tatiana.
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