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terça-feira, 3 de novembro de 2009

A queda das certezas Como uma nova geração de economistas, linguistas e cientistas está colocando abaixo algumas de nossas maiores convicções


Você já se permitiu duvidar se plantar árvores faz realmente bem para o planeta? Ou se os filmes violentos tornam as pessoas mais agressivas? Os economistas, sim, e resolveram investigar os dados em busca de respostas. As conclusões foram surpreendentes "nãos", com causas e consequências que desafiam o senso comum. Essa combinação de perguntas inesperadas e soluções improváveis é uma linha de pesquisa que vem rendendo vários best sellers. Munidos das estatísticas e números certos, autores de todo o mundo acabaram descobrindo que as convicções humanas são mais frágeis do que imaginamos.

Para o economista Steven Levitt e o jornalista Stephen Dubner, eles são os "freakonômicos", pessoas que utilizam as ferramentas da economia para explicar os fatos do cotidiano. O termo, cunhado em seu livro Freakonomics, de 2005, foi espalhado ao redor do globo na capa dos 4 milhões de exemplares vendidos. Dizendo que o moralismo representa o modo como gostaríamos que o mundo funcionasse, e a economia, como ele funciona na realidade, o best seller mostrou, entre outras coisas, que a criminalidade dos Estados Unidos diminuiu por causa do aborto. No fim do mês, eles prometem colocar ainda mais lenha na fogueira das certezas, com a segunda edição da série, o Superfreakonomics.

"A lógica da ciência econômica é muito poderosa para ajudar a compreender o mundo", diz o economista Carlos Eduardo Gonçalves, herdeiro do pensamento freakonômico e um dos autores do livro Sob a Lupa do Economista. "Suas análises tentam, no fim das contas, entender as escolhas humanas." Afinal, foi a vontade de explicar como alguém optava entre ser honesto ou trapacear sob as forças do capitalismo nascente que fez Adam Smith criar a economia clássica, no século 18.

Para Tim Harford, outro economista da nova geração, as técnicas de Smith são o melhor meio de desatar os nós da realidade e apontar soluções para problemas aparentemente intransponíveis. "A simplicidade revela inconsistências em nossa visão de mundo e confronta nosso pensamento com as evidências", afirma em A Lógica da Vida, livro que será lançado no Brasil ainda neste mês. "A nova economia por trás de todas as coisas nos oferece perspectivas inesperadas, não intuitivas e irreverentes em relação ao pensamento convencional." É isso que biólogos, linguistas e economistas mostram nas páginas a seguir.

1 >>> FILMES VIOLENTOS DIMINUEM O CRIME NAS RUAS

Filmes com muita pancada são excelentes para deixar a cidade tranquila. Gordon Dahl e Stefano Della Vigna, economistas do National Bureau of Economic Research (Centro Nacional de Pesquisas Econômicas) dos Estados Unidos, provaram que, quando há muito sangue jorrando na tela, há poucos atos violentos na realidade.

Comparando os números do público de cinema, seu perfil e crimes cometidos no mesmo dia e na noite após as sessões, eles descobriram que a taxa de criminalidade diminui 1,3% a cada milhão de pessoas assistindo a um filme de pancadaria. Na noite seguinte à sessão, a queda chega a 2%. Isso significa mil delitos evitados por fim de semana, ou cerca de 52 mil crimes a menos por ano. "A curto prazo, esses filmes são ótimos", diz Stefano. "Ao que tudo indica, assaltantes e assassinos em potencial preferem ir ao cinema e não cometer crimes." Mas não é qualquer filme agressivo que provoca o sossego das famílias - são só aqueles com muita quebradeira.

Filmes pouco ou nada violentos não têm efeito. Além disso, como é proibido servir bebidas alcoólicas nos cinemas, bebe-se menos e há menos confusão. A hipótese de Gordon e Stefano é que, após as sessões, as oportunidades para cometer um delito são diminuídas. Ou seja, além de reduzir o número de crimes, filmes assim ainda atenuam o abuso de álcool.

"Eu sou a prova que os filmes de drama aumentam a criminalidade. Depois de ver essas comedinhas românticas, tenho vontade de sair dando tiros por aí"


2 >>> TV DEIXA CRIANÇAS INTELIGENTES

Proibir a TV para crianças travessas realmente pode ser um castigo. Elas vão tirar notas mais baixas na escola, conhecer menos sobre o mundo e terão mais dificuldades de leitura que as outras crianças. Se ela for pobre, a proibição vai ter efeitos ainda mais negativos. Jesse Shapiro, economista da Universidade de Chicago, nos EUA, descobriu que a TV não faz mal para crianças em idade pré-escolar. Aliás, é a falta dela que faz os jovens tirarem notas mais baixas, diferentemente do que dizem pediatras e psicólogos. Jesse recolheu dados de crianças das décadas de 40 e 50 - momento em que a TV entrou nos lares norte-americanos - e comparou com suas notas no ensino médio.

O resultado é que as crianças que cresceram com os olhos pregados na telinha tiveram um desempenho pouco melhor na escola (quase um ponto acima da média) do que quem não tinha TV em casa. E, quanto mais pobre a família, mais a falta de televisão causou impacto negativo nas provas. "Nada indica que a TV dos últimos 60 anos provocaria efeitos maléficos nas crianças", diz o pesquisador. "Aliás, seus efeitos são mais positivos se elas tiverem pais estrangeiros, com pouco estudo e pobres." Uma pesquisa recente do Departamento de Educação dos Estados Unidos provou que estudantes submetidos a atividades online também tiram notas mais altas. Eles ficam nove pontos acima da média e são mais motivados que seus colegas excluídos digitalmente.

NA TELA DA TV: As novas tecnologias ajudam a transmitir o conhecimento e melhoram a cognição das crianças

"Óbvio que a TV faz as crianças mais espertas. Elas veem Simpsons!"

3 >>> LER NÃO É FUNDAMENTAL

Para os franceses Pierre Bayard e Daniel Pennac, ler um livro da primeira à última página não é necessariamente uma virtude. É melhor passar os olhos pelo título e a orelha, pular as páginas ou deixá-lo pela metade, dizer que leu tudo e ainda ter discussões filosóficas sobre seu conteúdo. "Ser culto é ser capaz de se orientar rapidamente em uma obra, e essa orientação não implica sua leitura integral", afirma Bayard em seu livro Como Falar dos Livros que não Lemos?.

Bayard é psicanalista e professor de literatura da Universidade Paris 8, na França. Sua bandeira é dizer que a leitura passa por meios-termos como deixar o livro fechado, ouvir falar sobre ele, percorrer suas páginas... O escritor francês Daniel Pennac também luta pelo direito à não-leitura. Seu ensaio Como um Romance explica que é o "ter que ler" que afasta os leitores. "Temos o direito de não ler, de pular as páginas, ler qualquer coisa ou não terminar um livro", diz Pennac. Faça um teste: experimente discutir com seus amigos Ulisses, de James Joyce. Provavelmente todos terão uma opinião formada, ainda que nenhum deles tenha lido de cabo a rabo o romance.

"Entre um bom livro e um mau filme, o segundo geralmente ganha, por mais que não queiramos confessar"
Daniel Pennac, escritor francês

"Fundamental? Só os gibis do Homem Aranha e do Super- Homem"

continua...

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