G1 ouviu chefes de estudos em Harvard, MIT, Stanford e Berkeley.
 
                                 Página do programa de estudos brasileiros da                 Universidade Harvard
                Um dos mais importantes centros de estudos em tecnologia do mundo, o MIT, nos Estados Unidos, deu início aos planos para inaugurar seu primeiro centro de estudos voltado para o Brasil, parte da iniciativa internacional MISTI. O objetivo do projeto é criar grupos de solução de problemas específicos em tecnologia e ciência, e evidencia uma tendência nova para as análises do Brasil nas maiores universidades dos EUA. Em vez de formar os tradicionais brasilianistas, que se debruçavam sobre a realidade histórica, social e cultural do país como um lugar exótico e distante, a academia norte-americana passou a encarar o Brasil como um importante ator global, referência em diferentes assuntos científicos e passando por quase todas as áreas de conhecimento.
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        Esta nova forma de encarar o Brasil está se         disseminando pelos Estados Unidos. A reportagem do         G1 entrevistou diretores de centros de estudos         sobre o país e a América Latina em Harvard, Stanford,         Universidade da Califórnia em Berkeley e MIT (Massachusetts         Institute of Technology), universidades que aparecem no topo dos         principais rankings de melhores instituições de ensino superior         do mundo. Segundo eles, não há dados que comprovem um grande         aumento no interesse acadêmico pelo Brasil, mas há uma mudança         na abordagem, uma inclusão do país em áreas que antes ignoravam         o que acontecia por aqui.
       
        “De fato, houve uma mudança”, explicou Harley         Shaiken, diretor do Center for Latin American Studies em         Berkeley, por telefone. “Essa é a mais importante nova tendência         em estudos brasileiros. Nós incentivamos essa forma de incluir o         Brasil em outros estudos mais gerais. Se há uma pessoa         trabalhando com energias renováveis, por exemplo, ela pode não         ser especialista em Brasil, mas deve haver grupo de pessoas de         estudos do Brasil que podem entrar em contato com este         pesquisador. E nós tentamos incentivar estes contatos”, disse. 
Segundo as universidades ouvidas, esta nova realidade envolve         especialmente assuntos relacionados a energia renovável,         ambiente, desenvolvimento, sustentabilidade, negócios, e há um         grande grupo de pesquisadores que está se especializando em         temas que precisam olhar para o Brasil.
       
        Para o paulista Marcio Siwi, que vive nos EUA há         dez anos e há dois atua no programa de estudos brasileiros do         Centro David Rockefeller de Estudos Latino-Americanos em         Harvard, “há temas em que o Brasil virou referência e que atraem         muito o interesse de alunos e professores. Pode-se falar em         aquecimento global, desenvolvimento sustentável, Amazônia, todos         esses assuntos que são importantes para os Estados Unidos elevam         a enfocar no Brasil como uma referência. O mesmo acontece nos         estudos sobre desigualdade.” 
‘Boom’ Brasil
Segundo o diretor do Programa Brasil do MIT, Ben Ross Schneider,         mesmo com o surgimento deste e de outros novos centros de         estudos sobre o país nos EUA,não há indícios para afirmar que o         Brasil vive um momento de maior popularidade na academia         norte-americana. Os estudos do Brasil, explicou, são         descentralizados, e há programas neste sentido em muitas         universidades.
       
        “Eu acabo de mudar da universidade Northwestern,         em Chicago, onde há um programa de estudos, que continua         existindo. Talvez haja um crescimento, mas é impossível dizer         que há uma onda de popularização dos estudos do Brasil. Sempre         há centros importantes desses estudos, que mudam de local de         tempos em tempos”, disse, em entrevista concedida pelo telefone.         Segundo ele, entretanto, pelo menos uma centena de alunos do MIT         já demonstraram interesse em participar do grupo que está sendo         criado por ele.
       
        Siwi, por outro lado, diz que percebe um certo         aumento no interesse dos estudantes de Harvard pelo Brasil. “A         quantidade de alunos que demonstram interesse no estudo do         idioma português, por exemplo, cresceu muito nos últimos anos, o         que gera uma diferença enorme no entendimento de o que é o         Brasil e quais as diferenças do país em relação ao resto da         América Latina.” Segundo ele, isso é algo que existe em todas as         partes dos Estados Unidos.
       
        O mesmo acontece na Califórnia, segundo Shaiken.         Em Berkeley, diz, há claramente um aumento no interesse e no         número de pesquisas envolvendo o Brasil, mas muito deste         crescimento vem das pessoas que não são brasilianistas, mas         trabalham assuntos em que o Brasil é um protagonista. “Neste         nível há muito mais interesse de que havia no passado. Não é         apenas um crescimento contínuo, mas um momento de empolgação com         uma gama de ideias e possibilidades que envolvem o Brasil. Isso         não significa que o país seja estudado tanto quanto mereça. Acho         que trata-se de um país extraordinário em um momento único e é         preciso mais estudo e mais atenção. Há muitos assuntos que         aproximam pesquisas em diferentes áreas do Brasil, mas não se         pode dizer que o número de alunos da universidade que estudam o         Brasil triplicou, pois não há dados sobre isso. O crescimento,         entretanto, é real.”
       
        Shaiken, de Berkeley, credita a mudança que se         percebe a uma maior familiaridade dos norte-americanos com temas         relacionados ao Brasil, que vem se tornando menos exótico. “O         Brasil está se tornando mais familiar, e há ao mesmo tempo muita         admiração por coisas que estão acontecendo no país e críticos.         Há uma mistura, mas o Brasil realmente é uma força global e         muitos sentidos, e essa emergência faz com que o país seja visto         com muito interesse, mas de fato sem parecer exótico.” 
Gerações brasilianistas
Para Hebert S. Klein, que dirige o Centro de Estudos         Latino-Americanos de Stanford, o que para algumas pessoas         aparenta ser um crescimento no interesse é, na verdade, uma         demonstração da mudança do perfil dos pesquisadores, e de uma         mudança de geração, passando dos brasilianistas que iniciaram         trabalho nos anos 1960 para novos acadêmicos que ainda se         debruçam sobre a realidade do país.
       
        “Na prática, nós temos uma mudança geracional, mas         não há uma mudança relevante no volume de pesquisas sobre o         Brasil. Trata-se de um tema sólido na academia norte-americana,         bem estabelecido, mas que não tem um crescimento acentuado. Não         há um boom, mas uma produção sólida e a geração mais velha vem         sendo substituída, mantendo uma regularidade nas publicações         sobre o Brasil.”
       
        Segundo ele, no lugar do que querem chamar de         “boom”, há um “não-declínio” do tema na academia, apesar da         mudança de gerações. “Nessas novas gerações, há pessoas         realizando pesquisas interessantes na universidade de Rice, na         de Arizona, aqui em Stanford, em Rutgers, na UCLA, são todos         pesquisadores em torno dos 40 anos, espalhados pelo país.”
       
        Pesquisador de Harvard, Siwi concorda com esta         visão e define o momento alegando que estamos numa época em que         se repensa o que é um brasilianista. “Eles existem, vão         continuar existindo e são importantes nessas áreas de         humanidades. O que vemos agora, entretanto, são cientistas, que         seu tema é ciência e que incluem o Brasil em seus trabalhos. Há         um professor, por exemplo, que analisa os desafios globais         relacionados com a água, e que inclui o Brasil em sua pesquisa,         por ser um país muito importante na área. O Brasil está ganhando         espaço em áreas que antes não davam atenção ao país.”
       
        Segundo ele, o outro perfil do brasilianista não         vai desaparecer, não perde espaço. Mas criou-se espaços novos         que antes não existiam.
       
        “Não há um impacto menor em humanidades.         Continuamos tendo muitos pesquisadores da área de humanas que         mantêm seus trabalhos voltados ao Brasil. Mas há expansão, sim,         é muito maior na área de ciências. Não se trata de uma troca,         mas do crescimento de áreas que antes eram mais tímidas”, disse         Shaiken. 
 
 
 
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