Um restaurante com cinco anos já é considerado maduro, segundo Percival Maricato, da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). "Seria equivalente a 30, 40 anos de uma vida humana. Os que passam de 15 anos já são considerados exepcionais", diz. Imagine, então, um restaurante com mais de 100 anos. Certamente ele oferece, além de boa comida – o que não é sinônimo de comida cara –, ambiente acolhedor e bom atendimento , fatores fundamentais para criar uma clientela fiel ao longo de várias gerações. Maricato, que foi dono de um restaurante durante 20 anos, explica que também podem fazer diferença a localização e a dedicação do dono. Em São Paulo, o restaurante conhecido como o mais antigo ainda em funcionamento é o Carlino. "Lá, o segredo é o proprietário, que trabalha de manhã, de tarde e à noite", afirma, referindo-se a Antonio Carlos Marino, atual dono do estabelecimento. Confira o que é servido no Carlino e em outros 14 restaurantes antigos do Brasil e do mundo.
Itália |
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Não é um restaurante propriamente dito: está mais para uma cafeteria. O primeiro Caffe Florian foi aberto na Piazza San Marco, em Veneza, em 1720. Hoje há outro em Firenze. Além de comer no próprio local, olhando para a praça mais famosa da cidade, o cliente pode levar para casa chocolates, vinhos, geléias e, obviamente, cafés. Se gostar dos aparelhos de serviço, a lojinha também vende talheres, louças, acessórios e algumas peças de design. A arquitetura e a decoração do lugar são dignas de cenas de cinema. |
Espanha |
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Considerado o restaurante mais antigo do mundo ainda em funcionamento pelo Guiness Book, o Botín é quase um ponto turístico do centro antigo de Madri. Não tinha nada de luxo quando foi aberto, em 1725, como uma estalagem: recebia viajantes famintos em busca de uma cama quente. Mas hoje atrai clientes importantes, como a família real da Espanha e celebridades do cinema, como Shirley MacLaine, Michael Douglas, Pedro Almodóvar e Quentin Tarantino. A especialidade da casa é o conchinillo (leitão) assado, mas também servem cordeiro, merluza, vôngole e lula em sua própria tinta. Entre os autores que fizeram referência ao restaurante em suas obras estão Ernest Hemingway, James A. Michener, Frederick Forsyth e Scott Fitzgerald. O prédio que abriga este histórico estabelecimento tem quatro pisos, decorados à moda do século XVIII. Para sentar às suas mesas, o cliente pode subir ou descer uma escada de pedras mal iluminada, chegando ou a uma taverna com paredes de pedra, ou a salões ornamentados. É como uma viagem no tempo. |
Inglaterra |
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O Rules gaba-se de ser o restaurante mais antigo da Inglaterra, aberto em 1798 em Londres. Já recebeu celebridades como o escritor Charles Dickens e os atores Clark Gable e Charlie Chaplin e foi citado em muitos livros de autores ingleses. O restaurante foi aberto por Thomas Rule como um bar de ostras. Depois, vendido a duas famílias, de Tom Bell e John Mayhew, atual proprietário. Cerca de 350 pessoas comem lá todos os dias. Se você avaliar a idade do lugar, verá que o preço nem é tão alto assim. O cardápio é bem típico, com fígado de bezerro, carnes de caça e o consagrado rim de boi no recheio de tortas. Uma porção de ostra com seis unidades custa £12,95 (R$ 40,50) e um prato principal fica em torno de £20 (62,50) – não tão caro, se você ganha em libras. |
Estados Unidos |
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O balcão de ostras e o salão: decoração tradicional Um lugar para degustar ostras frescas num prédio do século XVIII. Assim nasceu um dos restaurantes mais antigos dos Estados Unidos – como se autodenomina – o Union Oyster House, em Boston, inaugurado em 1826. A família Kennedy foi um cliente fiel ao restaurante durante anos. John F. Kennedy adorava uma das salas privadas do andar superior, ambiente que acabou recebendo o nome do presidente. Outras celebridades frequentaram suas mesas, como Paul Newman, George Bush (pai), Al Pacino, Robin Willians, Luciano Pavarotti, Liza Minneli e Christopher Reeve. Meia dúzia de ostras custa US$ 13,95 (ou R$ 26,50), o mesmo preço do prato frio de frutos do mar, com ostra, vôngole e coquetel de camarão. |
Nova York é a capital gastronômica dos Estados Unidos. O primeiro restaurante aberto na cidade em funcionamento ainda hoje é o Delmonico's – segundo os donos, o primeiro de alta culinária do país. Localizado no coração de Manhattan, sua especialidade são as carnes, os famosos steaks – tudo orgânico, ou seja, originária de gado criado à base de pasto e com cuidados especiais. O serviço é esmerado, os salões, pomposos, e os preços, salgados. Os steaks custam de US$ 43 a US$ 90 (R$ 82 a R$ 171, este último "duplo"), sem acompanhamento. Ou seja, você terá de gastar até 20 dólares além da carne, sem contar bebida e serviço. Mas com muita pompa. O restaurante criou a famosa lagosta à newburg (US$ 49), com molho espesso de creme de leite e tomate. |
China |
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No detalhe, o pato recém saído do fogo Se o prato mais tradicional de Pequim é o pato assado, o restaurante mais famoso para degustá-lo é o Quanjude. Aberto em 1864 na dinastia Qing sob o poderio de Tongzhi, sua fama se espalhou rapidamente. Há várias filiais em Pequim, inclusive uma com 15 mil metros quadrados e 41 salas. Ainda assim, para provar a iguaria, é preciso fazer reserva com até uma semana de antecedência nos restaurantes mais antigos. No começo da década de 90, a marca foi renovada e se expandiu numa cadeia de mais de 60 restaurantes e franchisings pela China, que vendem cerca de dois milhões de patos por ano. O prato tradicional, com pele crocante e carne tenra, ficou famoso na Dinastia Yuan, entre 1206 e 1368, quando entrou para o menu imperial. A pele da ave é inflada antes de ser assada em fogo de lenha de árvore frutífera. Depois, o pato é servido com molho especial, panquecas, pepino, cebolinha e sopa. |
Brasil |
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Recife |
Dizem que este é o restaurante mais antigo do Brasil que se manteve em funcionamento ininterrupto. O Leite, fundado em 1882, era um quiosque na beira da praia e se transformou num dos restaurantes mais requintados do Recife. Ainda hoje, apresenta uma das melhores cozinhas da capital pernambucana. Fundado pelo português Armando Manoel Leite de França, e hoje nas mãos de seu conterrâneo Armênio Ferreira Diogo, passou por altos e baixo, crises e reformas. Por suas mesas com taças de cristal e talheres de prata já passaram nomes como o ex-presidente Juscelino Kubitschek, o pensador Jean-Paul Sartre e cineasta Orson Welles. Da cozinha saem pratos das gastronomia internacional, especialmente os que aproveitam os frutos do mar frescos – como camarão e bacalhau. |
Rio de Janeiro |
A antiga capital do país também conserva restaurantes centenários. Não é de se estranhar, portanto, que pelo Café Lamas, aberto em 1874, já tenham passado intelectuais do Império e do início da República, como Ruy Barbosa, Machado de Assis, Olavo Bilac e Monteiro Lobato. O cardápio é tradicional, com carnes e frutos do mar, e atrai clientes fiéis e também novatos, atrás de sua fama histórica. Por servir café da manhã, fica lotado desde cedo. Localizado no Flamengo, a poucas quadras do Palácio do Catete, o restaurante era frequentado por Getúlio Vargas. |
O Bar Luiz mantém os tradicionais pratos e petiscos alemães Fundado em 1887, o Bar Luiz assistiu ao Brasil passar do Império para a República, desta para a Ditadura Militar e, então, à abertura democrática. Durante os acontecimentos, também mudou: de nome e de endereço. O bar nasceu como Zum Schlauch, aberto pelo suíço Jacob Wendling, um apaixonado por cervejas. Um ano depois, passou a servir chope, ainda inédito na capital do Brasil Império. A tradução do antigo nome do bar para o português é "a mangueira", ou "a serpentina", por onde passa a bebida para gelar. Lugar de encontro de gente do teatro, jornalistas e intelectuais, o bar virou restaurante e passou a servir pratos alemães, o que perdura até hoje. |
Se você já foi ao centro do Rio e nunca experimentou a coxa creme da Confeitaria Colombo, não vivenciou a cidade por completo. Famosíssimo, o quitute é apenas um dos atrativos desse café-restaurante fundado em 1894, na rua Gonçalves Dias. A arquitetura art nouveau remete à belle époque franco-brasileira – tem gente que vai lá só para tirar foto do lugar, uma vez que os preços são caros. Além de salgados, tortas e doces, serve chás coloniais e refeições em salões onde já estiveram Chiquinha Gonzaga e Villa Lobos. |
São Paulo |
O Carlino mudou de endereço, permaneceu fechado durante três anos, mas hoje configura como o restaurante mais antigo de São Paulo. O fundador, Carlo Cecchini, abriu suas portas em 1881. E foi nas mãos de Antonio Carlos Marino que o restaurante fechou em 2002. Ele mesmo reabriu o estabelecimento em 2005, mantendo alguns pratos do cardápio original, de cozinha italiana, como o cabrito com polenta, o coelho com funghi e o minestrone. |
O fusili feito à mão; e a música aos fins de semana O Bexiga é um bairro tradicionalmente italiano. É lá que está grande parte das cantinas da cidade, muitas antigas e tradicionais. Caso do Capuano, aberto em 1907 pelo italiano Francesco Capuano que, à época, não tinha nem cardápio. Reza a lenda que o proprietário encerrava as atividades religiosamente às 23h, mandando os clientes embora. Angelo Luisi, o novo dono, mudou o estabelecimento da rua Major Diogo para a Conselheiro Carrão, onde estão concentradas as cantinas da região. Como manda a cultura cantineira, a música italiana corre solta nos fins de semana. Para comer: o tradicional fusili feito à mão, a lingüiça calabresa seca e o cabrito ensopado, todas receitas originais da casa que se gaba de ser a mais antiga em funcionamento ininterrupto na cidade. |
Porto Alegre |
O restaurante com fama de ser o mais antigo de Porto Alegre fica dentro do Mercado Municipal. No começo, o Gambrinus, aberto em 1889, funcionava apenas como bar. Em 1960 enfrentou tempos de vacas magras. Para piorar, a prefeitura ameaçava demolir o mercado – o que foi impedido pelos próprios comerciantes. Em 1964, quando foi vendido ao atual proprietário, Antônio Dias de Mello, ganhou ares de restaurante e cardápio português. Há pratos típicos, como bacalhau e frutos do mar, e opções fixas todos os dias, como arroz à carreteiro ou mocotó, típicas do sul. Hoje é um ponto turístico da capital gaúcha, com o apelo de mais antigo e tradicional da cidade. |
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