Para ele, as políticas devem levar em conta o resultado em avaliações.
Santiago Cueto é especialista em avaliação educacional
De nada adianta submeter os estudantes de um país a exames de rendimento se os resultados não forem analisados e levados em conta para melhorar o sistema de ensino, opina o pesquisador peruano Santiago Cueto, 49 anos, um dos principais especialistas em avaliação educacional na América Latina.
“Se só olharmos os resultados, é como se colocássemos o termômetro muitas vezes ao dia no paciente, mas não déssemos nunca remédio nem fizéssemos outro diagnóstico”, diz. Doutor em psicologia educacional pela Universidade de Indiana, nos EUA, ele publicou dezenas de artigos em livros e revistas especializadas no assunto.
Em visita ao Brasil, onde veio como conselheiro da Avalia Educacional, empresa brasileira que desenvolve projetos de análise em redes de ensino, Cueto concedeu uma entrevista ao G1 num hotel de São Paulo nesta segunda-feira (26).
Participou da conversa o professor José Francisco Soares, do Grupo de Avaliação e Medidas Educacionais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e um dos mais importantes pesquisadores brasileiros na área.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista.
G1 - Como o sr. vê a situação brasileira em relação à educação?
Santiago Cueto - Assim como no Peru, o grande problema no Brasil é a desigualdade associada ao nível socioeconômico do estudante. O sistema é injusto porque os estudantes mais pobres reproduzem o círculo da pobreza dos seus pais através do sistema educacional.
G1 - O que pensa sobre os sistemas de avaliação no Brasil?
Cueto - O Brasil é provavelmente um dos países da América Latina com mais programas de avaliação, o que me parece bom para o desenvolvimento de políticas baseadas em evidências empíricas. Porém, falta dar um bom uso às informações. Em muitos países latino-americanos, como o Peru, quando saem os resultados ruins nas provas, as manchetes dos jornais são só sobre isso, mas ninguém faz nada depois. Se só olharmos os resultados, é como se colocássemos o termômetro muitas vezes ao dia no paciente para medir a febre, mas não déssemos nunca remédio nem fizéssemos outro diagnóstico. Então, é importante pensar a reforma do sistema educacional, em como as avaliações vão ser parte disso e como será usada a informação para melhorar o sistema.
José Francisco Soares - O que acontecia até muito recentemente é que as pessoas diziam: 'Essa escola é uma boa escola'. Mas, de repente, houve uma mudança e não foi só no Brasil. Perguntamos: 'As crianças nessa escola aprendem?'. E isso mudou drasticamente, porque começamos a perceber que nem sempre a escola que era dita boa estava a favor do aluno.
G1 - Que exemplo pode citar?Cueto - Em 2000 ou 2001, o Peru foi o último no Pisa (exame que compara estudantes em 57 países), com 0,1% de rendimento. O que aconteceu, e imagino que seja típico na América Latina, é que esse assunto foi notícia em todos os jornais. O governo disse que educação era uma emergência, mas, basicamente, não fez nada desde então. Não houve um programa para melhorar o rendimento. O governo poderia ter aproveitado os resultados para comparar os níveis de exigência do Pisa e das escolas peruanas. Como bons católicos, suponho, nos golpeamos: 'Pecador, pecador, pecador, último lugar, terrível', mas nada aconteceu e a vida continuou. Meu país tem pouca tradição de olhar os resultados em educação. Os educadores têm mania de fazer teoria, o que é importante, mas não de olhar os resultados das pesquisas.
G1 - No último Pisa, os alunos brasileiros ficaram na 53ª posição em matemática, na 48ª em leitura e 52ª em ciências. Como avalia esses desempenho?
Cueto - Os informes do Pisa sobre o Brasil mostram que os piores resultados são apresentados pelos estudantes que haviam repetido e tinham mais idade para o nível em que deveriam estar. Esses estudantes são os mais pobres. O que mostra o Pisa e todas essas avaliações é que o Brasil está colocando a educação como uma de suas prioridades. Para se conseguir algo, é preciso se pensar nas grandes diferenças entre ricos e pobres, entre as regiões e as diferentes cores da pele, assim como se o estudante tem o português como língua materna ou a língua materna indígena.
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