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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Leia a entrevista com Ve Neill, vencedora de três Oscars

Notícia do R7
Maquiadora é a favorita de Johnny Depp e Nicholson

Ve Oscar

Com certeza você se lembra do personagem de Dianne Wiest em Edward Mãos de Tesoura, uma revendedora Avon que, ao visitar uma casa, encontra uma criança.

A personagem o adota e ele se torna um herói. Parece lógico que seja justamente a Avon brasileira que trouxe ao Brasil a maquiadora desse filme. Desde então, Ve Neill se tornou uma das mais premiadas artistas de maquiagem do cinema.

Além de tudo, Ve é a maquiadora favorita de Johnny Depp e Tim Burton. Hoje, ela estará falando em evento para os 40 finalistas do Concurso Conexão Beauty Art, mas nós a encontramos no domingo (31) para um bate-papo particular e até posar com o Oscar que ela trouxe a tiracolo (essa estatueta é verdadeira e foi o seu primeiro, o que ela ganhou por Beetlejuice).

Ve veio acompanhada do marido e empresário e se confirmou com uma senhora alegre, simpática e muito bem sucedida. Nosso papo foi, como não podia deixar de ser, sobre os Oscars, os dela e os próximos.

Informalmente contou que sua primeira visita ao Brasil foi há alguns no Rio de Janeiro, quando foi contratada pela Rede Globo para ensinar os maquiadores a envelhecerem os personagens de uma novela de época, sobre plantadores de café, mas que mal teve tempo de sair do hotel.

R- O seu nome é bem sugestivo, como surgiu?

V- Nasci em Los Angeles (o imdb dá seu nome verdadeiro como Mary Flores) e na minha época não tinha como estudar, aprender as coisas. Não se tinha escolha.

Você tinha que correr atrás e descobrir como as coisas eram feitas, ou então inventar. Eu comecei maquiando bandas de rock naquela época do Glam, de Bowie e Ziggy Stardust, e a banda Space Band me pediu uma maquiagem com grandes cabeças.

Não existiam protéticos na época e fui buscar ajuda numa convenção de ficção científica. Foi assim que meu apelido pegou. É interessante lembrar que a profissão era inteiramente masculina até os anos cinquenta e sessenta. Eu mesmo enfrentei muito preconceito por causa disso!

R- O que é essencial para ser um maquiador de cinema?

V- Conhecer os produtos, os resultados que eles provocam, as cores… E saber fazer os efeitos, o rosto ficar maior, menor, trabalhar com a sombra, disfarçar os defeitos dos atores, porque mais cedo ou mais tarde é o que eles pedem de vocês. Principalmente as mulheres.

Por isso que a profissão não vai acabar nunca, sempre terá um ator querendo esconder uma mancha ou parecer mais magro.

R- E como apareceu o cinema?

V- Não que eu sofresse pressão, mas queria ser bem sucedida, realizar meus sonhos, por isso tentava de tudo. Fiquei amigo de Rick Baker (depois famoso e premiado especialista em efeitos e bonecos) que me levou para trabalhar nos filmes C que eram realmente muito baratos, como os filmes de Charles Band.

O primeiro foi Laserblast (um dos primeiros filmes lançados em home vídeo no Brasil. Mas o problema é que não fazia parte do Sindicato e quem me ajudou muito foi Fred Phillips, meu mentor (grande maquiador falecido em 93, trabalhou em todas as séries Star Trek e em Um Estranho no Ninho, e que trabalharia com ela em Jornada nas Estrelas/Star Trek, o filme).

R- Nos EUA, é sempre um problema, se não faz parte do Sindicato não tem jeito de trabalhar em cinema.

V- Fred me ajudou e eu não precisei fazer teste nem coisa alguma. Só me pediram, de cara, uma anuidade de 500 dólares que eu não tinha e corri para juntar. Para confirmar se eu era competente eles me chamavam para fazer trabalho de um dia em séries de TV como Eight is Enough.

Acho que minha virada foi no filme Star Trek, o primeiro, de Robert Wise em que eles fugiram um pouco da série original e ficaram místicos, mas eu já conhecia William Shatner e sabia que ele estava inseguro com a idade e porque há muito tempo não fazia o personagem.

Então fiz uma maquiagem que o deixou muito jovem. Tão jovem que dias depois vieram me pedir para envelhecer um pouco porque o galãzinho do filme (Stephen Collins) estava fotografando mais velho que ele.

Ou seja, tinha ficado bom demais. Às vezes, também há filmes e personagens onde você tem que fazer o contrário, deixar o ator feio, veja como fizeram com Charlize Theron em Monstro. Seu trabalho é fazer o que personagem pede mas, acredite, mulher nenhuma quer parecer velha ou feia. Se não, não existiriam também plásticas.

R- Quais são os atores com quem você tem trabalhado mais?

V- Johnny Depp sempre me chama para trabalhar com ele (Ve fez todos os Piratas, Edward, Sweeney Todd, Ed Wood), Danny De Vito e Jack Nicholson.

Johnny Depp - Maos de Tesoura

R- Julia Roberts!

V- Sim, mas ela era muito nova.

R- Ela tem fama de ser difícil? Ao menos com jornalistas!

V-Ela era muito nova quando fizemos Flatliners/Linha Mortal, estava sempre de bom humor. Depois em Hook, ela fez a fada Sininho. Mas tem um segredo. Só é a Julia quando ela está sentada falando para alguém.

Porque fora disso achavam que ela era… como dizer, não desajeitada, mas não muito elegante também, então ela tinha três dublês : uma para acrobacias, outra quando voava e uma terceira que era bailarina.

R- Como funciona para fazer um filme , quem te chama?

V- Não tenho agente, meu marido que me ajuda. Geralmente é o diretor ou o produtor que me conhece, eu já sou conhecida (risos), eles que me chamam, negociam comigo.

Sou a supervisora da maquiagem e isso inclui também o cabeleireiro (hair stylist). É que ambos trabalhamos com a cabeça do ator. Temos que nos dar bem, estar entrosados, tem que haver uma simbiose.

R- Então você que me chama quem vai lhe ajudar?

V- Sim, eu trabalho com uma equipe que já conhece. Depende muito do tamanho do filme. Por exemplo, em Piratas do Caribe eu crio primeiro a maquiagem de cada personagem. Depois chamo uma pessoa para repeti-la sempre igual dali em diante.

Sempre a mesma pessoa, para não ter diferenças. Quem tem olho treinado consegue perceber as diferenças de um dia para outro. Por isso que tem que ser sempre o mesmo maquiador, para ficar igual.

No caso dos Piratas 2 e 3 nós rodamos cenas dos dois filmes simultaneamente nas Bahamas, então era mais difícil manter essa continuidade visual. Numa produção desse tamanho, trabalhamos às vezes, mais de seis meses juntos, todos os dias, não é fácil.

R- Aliás, todos os Piratas lhe deram indicação ao Oscar de maquiagem. Você acha que a criação tão desejada desse prêmio deu maior respeito a sua profissão?

V- Sem dúvida. Antes existiam prêmios ocasionais para determinada maquiagem mais marcante (como em As 7 Faces do Dr. Lao ou Planeta dos Macacos), mas só quando virou prêmio regular, anual, que a profissão foi encarada com mais seriedade.

Mas tudo foi conquistado devagar. Sabe que só esse ano é que realmente viramos um branch, antes éramos members at large (ou seja, só agora eles são um ramo como são atores, diretores, etc).

Também por razões internas não divulgam quando artistas do ramo existem na Academia, Ve calcula entre 75 a 100. E só este ano também é que voltamos a conquistar a oportunidade de darmos três estatuetas por ano.

Elas haviam sido reduzidas para duas e como uma era sempre para um cabeleireiro isso provocava muita mágoa e discussão.

R- Mas como é realmente o processo de votação?

V- Fazemos questão de que todos os sócios vejam todos os filmes que possam ter maquiagem. Se ele não foi inscrito pelo produtor, nós vamos atrás dele.

Também orientamos os colegas para apresentarem desde o começo books com fotos mostrando o antes e o depois , ilustrando o trabalho deles e sempre que possível explicando.

Primeiro fazemos uma seleção de sete finalistas a quem pedimos que preparem um clipe ilustrativo de dez minutos. Esses são apresentados numa sessão fechada de Q.A. (perguntas e respostas) para todos os votantes. Só depois disso é que escolhemos os três finalistas.

R- Que serão anunciados agora na terça feira!

V-Exatamente! Mas olha… é sempre uma escolha emocional, você vota no seu favorito, não necessariamente no mais difícil, ou trabalhoso.

R- O que você acha de filmes como Avatar que usam efeitos Digitais CGI com intensidade?

V- As criaturas que aparecem, os ETs, foram fotografados com maquiagem especial para assim poderem fazer a captação de imagem, então já estávamos lá. O que eu acho que é os efeitos funcionam porque eles aparecem junto com os humanos, sabemos que ali está a Sigourney Weaver. Por isso dá certo.

Depois não pensem que há efeitos o tempo todo. Por exemplo, em Piratas do Caribe 2 e 3, Stellan Skasgaard, tinha seis estágios para sua cabeça ficar toda transformada e só as duas primeiras eram pela maquiagem.

Mas o ator pediu que fizesse tudo com maquiagem (o problema era o peso que ele teria que suportar na cabeça, no que ele concordou). Ou seja, não vão se livrar da gente assim tão facilmente.

R – Quais foram os trabalhos de maquiagem que te impressionaram este ano?

V- Eu gostei muito de Star Trek. E também de Uma Noite no Museu 2. Tem uma novidade ali na maquiagem do personagem de Robin Williams, que muita gente pensa que é CGI, mas é um tipo novo de maquiagem que ficou perfeito, deu a ele cara mesmo de museu.

R – Continuando no Oscar, como foi sua reação quando ganhou o primeiro (que foi por um filme muito querido, que é Beetlejuice, que ela diz que estão sempre falando em continuação mas que nunca dá certo).

V- Fiquei chocada! Levantei-me rapidamente e fiquei procurando os outros dois parceiros. Aonde será que eles se meteram? Uma coisa boa do Oscar é duas semanas antes, tem um grande almoço para todos os indicados onde você pode conversar a vontade, bater papo, conhecer as pessoas.

E eles aproveitam para passar trechos de outros discursos vencedores e darem instruções para não falar demais, sair logo do palco. Mas não me adiantou, quer saber, eu subi no palco e fiquei cega. Não me lembro de nada do que aconteceu. Me deu o maior barato.

Tanto que da próxima vez eu me preparei melhor (foi com Mrs Doubtfire/Uma Babá Quase Perfeita) eu fiquei olhando o público, porque dá para enxergar direitinho. Olha, para o telão enorme parece o de cinema mesmo. Mas eu te falo, não há nada como ganhar!

R- O primeiro foi então com Tim Burton, com quem você sempre trabalha… Já viu Alice?

V-Não, ainda não estreou. Pois é, Beetlejuice era uma produção muito pequena, da Geffen, tinha pouco dinheiro. Nos mandaram para um estúdio pequeno em Culver City. E era uma época em que a Warner estava em crise, quase falindo e o filme que a ajudou a levantar.

Mas eu gosto muito dele. Tudo que faz é corky. E o legal é que ele é um artista mesmo, desenha antes, mostra para a gente. Ele adora colocar olheiras em tudo que é personagem dele. Repara bem, até em O Estranho Mundo de Jack eles têm.

R- Você fez com ele os primeiros Batmans…

V- Que foram muito divertidos. Depois continuei com o Joel Schumacher, que gostava de enlouquecer, criar coisas novas, usar luz negra, ou então inventar penteados muito loucos.

R- Já estão pedindo para encerrar. Qual foi seu último filme?

V- Acabei de rodar Priest (Padre), de Scott Stewart. O fime é inspirado numa graphic novel, uma espécie de amálgama de faroeste-pós-apocalíptico com filme de vampiro.

O Paul Bettany faz o papel principal, e tem também o Cam Gigandet (de Crepúsculo), todo bonito, agora que vampiros estão na moda. É sobre uma eterna luta entre o clero e os vampiros, uma luta que teria durado para sempre.

R- Faltou alguma coisa importante para a gente comentar?

V- Acho que Uma Babá Quase Perfeita foi um trabalho muito difícil. Eu tinha que, depois de barbeá-lo, aplicar treze apêndices diferentes (diante do meu espanto, os reconta). Sim, eram treze. E ai de mim se errasse algum.

Porque eles iam um em cima do outro e não podia ter erro. Era preciso ficar quietinho na cadeira. Sabia que o Robin nunca tinha visto antes o Cidadão Kane? Pra ele ficar quieto, a gente colocou no teto uma televisão onde passávamos clássicos do cinema. E ele via de cabeça para baixo.

R- E você vai muito no set para consertar alguma coisa?

V-Só em último caso. Acho que meu espaço é o da make-up. O set é deles. Não acho que é preciso ficar retocando sempre, quebra concentração. Bastar ter a segurança de que tem alguém perto para ajudar se for preciso.

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