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sexta-feira, 31 de julho de 2009

Cientistas usam palavras em milhões de blogs para monitorar felicidade

Dupla da Universidade de Vermont deu peso para cada expressão.
Dia da eleição de Barack Obama foi o mais feliz em 4 anos.

http://images.paraorkut.com/img/pics/glitters/a/alfabeto_do_amigo-262.jpgEm 1881, o economista irlandês Francis Edgeworth imaginou uma estranha máquina que batizou de “hedonímetro”. O dispositivo seria capaz de “registrar continuamente a intensidade do prazer experimentado por um indivíduo”. Em outras palavras, seria um sensor de felicidade.

Na prática, e por décadas, cientistas sociais têm tido uma baita dor de cabeça tentando medir felicidade. Levantamentos têm revelado algumas informações úteis nesse campo, mas o grande problema é que as pessoas deixam de relatar ou acabam esquecendo seus sentimentos quando estão diante de um cidadão com uma prancheta na mão - é natural ficar na defensiva na condição de objeto (consciente) de pesquisa.

Aspas

  • Nosso método só é razoável para uma imensa amostra de textos, coisa a que só a internet permite ter acesso"

Mas, o que aconteceria se existisse um mecanismo de monitoramento remoto que pudesse registrar de que forma milhões de pessoas ao redor do mundo se sentem de uma forma particular - sem que elas tenham conhecimento disso?

Foi exatamente isso que Peter Dodds e Chris Danforth, um matemático e um cientista da computação que trabalham no Centro de Computação Avançada da Universidade de Vermont, conseguiram tirar do papel. Eles concluíram que o dia da eleição de Barack Obama, 4 de novembro do ano passado, foi o mais feliz dos últimos quatro anos. O dia da morte de Michael Jackson foi um dos mais sorumbáticos.

Os resultados foram apresentados esta semana no “Journal of Happiness Studies” (sim, existe uma publicação específica para tratar do tema).

Garimpando felicidade em blogs

“A proliferação dos escritos pessoais online nos dá a oportunidade de medir níveis emocionais em tempo real”, eles escrevem em seu artigo. A resposta para o sonho de Edgeworth começa com um site (www.wefeelfine.org, vale a pena dar uma conferida) que garimpa cerca de 2,3 milhões de blogs em busca de expressões como “Eu sinto” ou “Eu estou sentindo”.

“Reunimos cerca de 10 milhões de setenças”, conta Dodds. Então, munidos de uma régua de pesos psicológicos das palavras – com base no estudo “Affective Norms for English Words” (Padrões Afetivos para Palavras em Ingês, ou ANEW, na sigla em inglês), cada frase ganha uma nota de felicidade. No estudo ANEW, um imenso conjunto de participantes graduaram suas reações com 1.034 palavras, formando uma espécie de escala de “felicidade-infelicidade” que vai de 1 a 9. Para que não fique abstrato demais, eis alguns exemplos: a palavra “triunfante” ficou com a média 8.87. “Paraíso” ganhou nota 8,72. “Panqueca” vai bem na classificação e leva 6,08. “Vaidade” tem nota vermelha: 4,30. “Refém”, 2,2. “Suicídio” não leva zero, mas quase: 1,25.

“Nosso método só é razoável para uma imensa amostra de textos, coisa que só a web deixa disponível”, explica Dodds. “Uma sentença, isolada, pode não revelar muita coisa porque há muita variação na expressão humana.” Mas com um volume gigantesco de dados, a estatística pode entrar em campo.


Adolescentes são os mais tristonhos, abusando de palavras como “ódio”, “deprimido” e “solitário”


A ferramenta de Dodds e Danforth permite o monitoramento da felicidade, por exemplo, de pessoas com menos de 35 anos de idade que vivem na Califórnia ( e isso só nas quartas-feiras). Então é possível comparar com outras faixas etárias, localidades e dias da semana. “Os blogueiros acham que estão se comunicando com seus amigos”, mas uma vez que os diários online são públicos, afinal de contas (coisa que muita gente esquece), “a gente está espiando”.

Pelos resultados obtidos, os adolescentes são, como seria de se esperar, os mais macambúzios, abusando de palavras como “ódio”, “estúpido”, “triste”, “deprimido”, “entediado” e “solitário”.

O método também pode ser aplicado a letras de músicas, discursos presidenciais e, mais recentemente, a mensagens no Twitter.

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