Concursos federais possibilitam transferência após dois ou três anos.
Especialistas advertem para morar longe da família e custo de vida.
Candidatos em busca de estabilidade e atraídos pelos bons salários do setor público muitas vezes se inscrevem em concursos que oferecem vagas em locais distantes de sua cidade de origem, sem levar em conta se irão ou não se adaptar ou se a remuneração compensará os gastos que terão longe de casa.
Confira lista de concursos e oportunidades
Especialistas advertem que o candidato deve pesar se ficará bem longe da família e dos amigos e se a remuneração vale o esforço. No entanto, o G1 falou com aprovados em concursos que afirmam: o sacrifício vale a pena.
A carioca Carolina Dias, de 28 anos, que mudou para Brasília há quatro meses para trabalhar no TST
Formada em moda e economia, a carioca Carolina Dias Tocalino, de 28 anos, resolveu prestar concurso após tentativas frustadas de encontrar um emprego que gostasse com bom salário.
Após três provas, passou em concurso para analista judiciário no Tribunal Superior do Trabalho. Há quatro meses, mudou-se para Brasília para assumir o cargo.
"Trabalho sete horas por dia e tenho um salário bom. Numa empresa privada, talvez tivesse que trabalhar 12 horas por dia. Estou gostando bastante porque minha qualidade de vida é ótima", conta. Para ser aprovada, diz que ficou um ano estudando dez horas diariamente.
Apesar de se dizer feliz, afirmou que a distância da família e dos amigos é "difícil". "Fico meio sozinha, mas acho que é assim mesmo até formar um círculo de amizades. No começo, a gente fica com medo de não gostar da cidade, não fazer amigos, não arranjar namorado, não conseguir fechar o circuito. Sinto falta da família, dos amigos, mas tudo compensa pelo fato de estar trabalhando."
O veterinário Marcelo de Andrade Mota, de 33 anos, já tem mais experiência no assunto: está em Brasília há seis anos, quando passou num concurso para o Ministério da Agricultura.
A família de Marcelo mora no Ceará, mas, quando passou no concurso, ele estava em Belo Horizonte, onde fazia doutorado.
"Fiquei em dúvida se continuava o doutorado ou vinha para Brasília. Na época não tinha outras coisas para ponderar. Acabei vindo e terminei o doutorado depois."
Ele afirmou que a adaptação a Brasília foi difícil, mas compensou.
"A cidade é muito boa em termos de segurança, o clima é agradável. Sinto falta de mar, de família e de ter uma identidade maior com o lugar. Mas hoje eu não sei se sairia daqui, não identifico outra posição onde teria uma qualidade de vida tão boa."
Cibele Moreira Chamorro Navarro, de 21 anos, passou no concurso da Polícia Rodoviária Federal no ano passado e, desde março deste ano, saiu do Rio de Janeiro para fazer o curso de formação em Belém (PA).
Ela começou a estudar desde os 17 anos para concurso público, mas nunca havia pensado em mudar de estado. Quando viu o bom salário oferecido (R$ 5,2 mil) para policial e a estabilidade proporcionada, não hesitou – se preparou para o concurso por dois anos, sabendo que teria de morar ou em Mato Grosso ou no Pará.
Cibele confessa que está bastante entusiasmada com o curso de formação e está se identificando com a nova profissão. “Estou crescendo e aprendendo muita coisa”.
É seu primeiro emprego. Ela mora com uma colega do curso em um apartamento alugado em Belém. A carioca diz que fala com a família todos os dias por telefone. E está preparada para ser mandada para qualquer lugar entre os dois estados após o término do curso.
Transferência
Mesmo em concursos federais, como os de Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Receita Federal, que permitem transferência, a possibilidade de voltar para a cidade ou estado de origem normalmente só se dá após dois ou três anos de permanência na localidade em que ele ingressou.
Dicas
Para Fábio Gonçalves, diretor executivo do curso preparatório Academia do Concurso, antes de mais nada o candidato deve questionar se a remuneração vale a pena.
“Muitas pessoas moram com a família ou em casa própria e têm vários benefícios na cidade de origem. Quando passam em um concurso e vão para a outra cidade, percebem que, com os novos gastos, terão um poder aquisitivo menor. Por isso, é muito importante fazer as contas, Às vezes, vale mais a pena continuar se preparando para um concurso mais próximo”, diz.
Ele afirma ainda que mesmo se a remuneração valer a pena é importante ter certeza de que vai conseguir viver bem longe da família e dos amigos.
“Se for um concurso com várias opções de localidade, é melhor escolher uma localidade que o candidato goste. Se ele gosta de praia e sol e não se adapta ao frio, não seria uma boa opção concorrer a cidades do Sul do país, por exemplo”.
Ele recomenda a quem está disposto a exercer o cargo público longe de casa que opte para concursos da área fiscal para nível superior e para os de tribunal para nível médio devido às altas remunerações.
Cláudio Borba, professor de direito tributário e dono de um cursinho preparatório em Campos de Goytacazes (RJ), diz que o salário e a estabilidade sempre superam a questão da distância.
“Alguns alunos meus passaram para auditor da Receita em Rio Branco (AC), tiveram depressão no começo, mas acabaram se acostumando. O prestígio que se tem nessas localidades mais distantes ajuda na adaptação das pessoas”.
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